Estado de SP tem mais vacinados contra Covid-19 que EUA, Reino Unido e Alemanha
No total, mais de 38 milhões de pessoas com 12 anos ou mais receberam pelo menos uma dose das vacinas
A imunização contra a Covid-19 em São Paulo tem sido tão eficiente quanto em países ricos com alta cobertura vacinal. Em todo o estado, 87% da população adulta já foi completamente vacinado até esta quarta (27).
Entre a população de 12 anos, que é o público-alvo da campanha atualmente, essa taxa fica em 78,5% segundo os dados até 26 de outubro – ou cerca de 4 em cada 5 moradores do estado.
No total, mais de 38 milhões de pessoas com 12 anos ou mais receberam pelo menos uma dose das vacinas, o que equivale a 98,1% da população nessa faixa etária. Ao considerar as duas doses da vacina ou dose única, são quase 31 milhões de pessoas que receberam as injeções.
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Isso coloca São Paulo em um mesmo patamar que países desenvolvidos que já chegaram próximo ou ultrapassaram a taxa de 80% da população com mais de 12 anos vacinada.
O levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo analisou a população com 12 anos ou mais, a taxa vacinal com pelo menos uma dose e aquela com duas doses nos seguintes países: Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Espanha e Canadá.
Comparando com os países acima, São Paulo é o quinto no ranking de totalmente vacinados, atrás de Espanha, Canadá, França e Itália. As taxas de cobertura vacinal com duas doses desses países são de, respectivamente: 88%, 84%, 79% e 79%. Abaixo do estado estão Alemanha (75%), EUA e Reino Unido (ambos com 68%).
Apesar de ter começado a campanha de vacinação cerca de um mês depois do restante dos países analisados no levantamento –Canadá e EUA iniciaram a imunização na primeira quinzena de dezembro do ano passado; os países europeus, em 27 de dezembro de 2020–, o estado de São Paulo é hoje o líder em vacinação em todo território brasileiro, tanto em porcentagem da população vacinada quanto em pessoas com pelo menos uma dose dos imunizantes.
No Brasil, a vacinação contra Covid-19 teve início no dia 17 de janeiro, em um evento simbólico no Hospital das Clínicas, na cidade de São Paulo, justamente o local que hoje tem a maior taxa de cobertura vacinal -92,2% dos paulistanos já receberam o esquema completo. Apesar disso, há ainda uma quantidade de pessoas que tomaram a primeira dose e não retornaram para a segunda dose.
Carlos Magno Fortaleza, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu, no interior do estado, aponta que a diferença no Brasil como um todo entre pessoas com primeira dose do imunizante que ainda esperam para receber a segunda é menor do que nos EUA.
"Em geral, os americanos que não tomaram a vacina é porque não querem e não vão tomar, e nós temos ainda um excedente de pessoas com a primeira dose aguardando a segunda por conta do prazo do intervalo", explica.
Para tentar mitigar esse problema, o governo do estado optou por reduzir o intervalo das vacinas da AstraZeneca, de 12 para oito semanas -como fez também o governo federal no início de outubro–, e de oito semanas para três no caso da Pfizer.
A medida, em ambos os casos, pode ajudar a trazer os faltosos que já poderiam ter tomado a D2 mas ainda não o fizeram, diz a infectologista do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, Rosana Ritchmann.
"É adequado reduzir o intervalo porque sabemos que, com a variante delta, precisamos ter o maior número possível de pessoas com duas doses da vacina, de 80% a 85%", explica.
Apesar disso, diz, o estado de SP dá o exemplo com a elevada cobertura vacinal. "Estamos vendo com isso uma diminuição expressiva de hospitalização, internação em Unidades de Terapia Intensiva [UTIs] e mesmo na taxa de óbitos devido à vacinação", afirma.
Para Brigina Kemp, doutora em saúde coletiva, ex-coordenadora do departamento de vigilância em saúde de Campinas e membro do Observatório Covid-19 BR, o maior desafio hoje que o estado enfrenta é trazer essas pessoas que ainda não fizeram a chamada D2 (ou segunda dose).
"Considerando a população acima de 40 anos, já estamos com mais de 90% da população totalmente vacinada, mas os números pioram abaixo de 20 anos. Isso pode ser porque há confusão com os intervalos ou mesmo falta uma campanha coordenada para dizer que você só está completamente imunizado com as duas doses da vacina", afirma ela, que é também assessora técnica do Cosems (Conselho de Secretários Municipais de Saúde do estado de SP).
Ela reconhece, porém, o esforço hercúleo que foi por parte dos municípios para conseguir entregar a campanha de vacinação hesitosa. "Os municípios se esforçaram muito, as equipes estão muito cansadas de tanto que trabalharam em meio a uma situação adversa que é, por um lado, o atendimento dos doentes com Covid na atenção básica, prontos-socorros e hospitais e, por outro lado, o combate às fake news e a tentativa de fazer uma campanha de vacinação nesse cenário", pondera.
O mesmo trabalho e empenho dos funcionários da saúde é reconhecido pelo epidemiologista e professor titular da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Lotufo. "Nós temos aqui uma tradição grande e um comprometimento com vacinação. A organização nos municípios [para a vacinação] foi louvável", diz.
Lotufo reforça, assim como Ritchmann, a importância agora que será a próxima etapa, a de vacinação das crianças e adolescentes. Com a autorização pela FDA (agência americana regulatória) na última terça-feira (26) de uma da vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos, é de se esperar que os próximos passos sejam cumpridos também no Brasil e, em breve, as crianças possam ser vacinadas.
"O ideal seria se a gente conseguisse avançar na vacinação nos adultos e adolescentes até o final do ano e, em fevereiro, tivesse as crianças já vacinadas para o começo do ano letivo de 2022. Isso vai ser uma maravilha para reduzir a circulação do vírus", diz Lotufo.