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ORIENTE MÉDIO

Estado Islâmico reivindica ataques no Irã: conheça os grupos terroristas que atuam no país persa

Atentado em Kerman que deixou mais de 80 mortos põe luz aos conflitos de Teerã com organizações terroristas que atuam dentro do país

Estado IslâmicoEstado Islâmico - Foto: AFP

O Estado Islâmico (EI) reivindicou nesta quinta-feira (4) a autoria do ataque terrorista que deixou ao menos 84 mortos e dezenas de feridos durante uma procissão em homenagem aos quatro anos do assassinato do general Qassem Soleimani, assassinado em uma operação dos EUA em 2020.

Inicialmente, autoridades iranianas haviam culpado Israel e os EUA pelo ataque, alimentando o temor de que a guerra contra o Hamas, financiado por Teerã, possa escalar para um conflito no Oriente Médio.

O general Esmail Qaani, chefe da Força Quds, braço da Guarda Revolucionária iraniana, sugeriu, antes da reivindicação do EI, que as explosões teriam sido "promovidas pelos EUA e pelo regime sionista".

Os EUA negaram estar "envolvidos de alguma forma" e afirmaram não ter "nenhuma razão" para acreditar que Israel tivesse algo a ver com isso.

Apesar do governo israelense ter interesse em desestabilizar o Irã devido ao seu apoio de longa data ao Hamas, o modus operandi adotado no ataque levantou dúvidas se de fato ele teria sido feito pelo país, cujas operações secretas em território iraniano costumam ter como alvo indivíduos específicos, como cientistas ligados ao programa nuclear do país.

Embora o Irã seja um notório patrocinador de grupos armados na região, com tentáculos que se estendem a Síria, Líbano e Iraque, há uma série de organizações terroristas que atuam na República Islâmica — algumas designadas desta forma até por inimigos de Teerã, como os EUA.

Estado Islâmico de Khorasan
O EI, grupo islâmico sunita, tem como um dos seus principais opositores o Irã, que tem um governo xiita e lidera, financia e arma uma aliança de grupos xiitas em todo o Oriente Médio. Para a organização jihadista, os muçulmanos que seguem a vertente xiita são hereges.

Tal visão é ainda mais proeminente entre a afiliada Estado Islâmico do Khorasan, também conhecida como ISIS-K (na sigla em inglês), sediada no Afeganistão — que divide uma fronteira porosa com o Irã, facilitando a entrada de combatentes do grupo no país persa.

A reivindicação do ataque, feita nesta quinta-feira através do canal do EI no Telegram, não especificou qual ramificação do grupo estaria por trás do atentado em solo iraniano.

Desde que o califado autodeclarado do Estado Islâmico foi derrotado em 2019 na Síria, várias facções assumiram as terras que antes faziam parte de seu domínio, segundo relatório publicado em julho de 2022 pelo International Crisis Group.

Um dos principais objetivos da ramificação ISIS-K é derrubar governos xiitas como o de Teerã e estabelecer um califado em Khorasan, região histórica do antigo Império Persa que hoje compreende parte dos territórios do Irã, Afeganistão, Tajiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão.

As agências de inteligência iranianas disseram já ter frustrado uma série de conspirações jihadistas em seu território. Antes do atentado da última quarta-feira, considerado o maior no país desde a Revolução Islâmica, em 1979, o último ataque no país reivindicado pelo EI havia ocorrido em outubro de 2022, quando um homem armado matou 13 pessoas em um santuário na cidade de Shiraz.

Nos vizinhos Afeganistão e Paquistão, onde sua atuação é mais forte, o Estado Islâmico de Khorasan foi responsável por alguns dos ataques mais notórios dos últimos anos, como o atentado suicida em agosto de 2023 que matou 169 afegãos e 13 militares dos EUA em Cabul em meio à retirada desastrosa das tropas americanas do país, que culminou no retorno do Talibã ao poder.

Em julho de 2018, o ISIS-K foi o autor de um duplo atentado suicida que deixou 131 mortos durante um comício eleitoral no Paquistão.

Jaish al-Adl
Outra organização terrorista proeminente no Irã é o Jaish al-Adl, que tem forte presença na província de Sistão-Baluchistão, vizinha de Kerman, local do atentado de quarta-feira. O grupo, formado por sunitas da minoria étnica balúchi, esteve envolvido em um ataque há menos de um mês a uma delegacia, que deixou 11 agentes de segurança mortos.

A região, que tem uma fronteira porosa com o Paquistão, tem sido alvo de uma intensa repressão do governo iraniano nos últimos meses. A organização surgiu em 2012 e se define como um grupo separatista que luta pela independência do Sistão-Baluchistão e por mais direitos para os sunitas balúchis.

De acordo com a mídia estatal iraniana, controlada pelo regime aiatolá, o Jaish al-Adl é financiado pela Arábia Saudita — inimigo histórico de Teerã, mas que no ano passado retomou as relações diplomáticas com o país por intermédio da China — e pelos Estados Unidos, embora a própria potência ocidental tenha classificado o grupo como terrorista. Além do Irã e dos EUA, outras nações que consideram a organização como terrorista são Japão e Nova Zelândia.

O Jaish al-Adl é aliado de grupos separatistas curdos que atuam no Irã e foi contrário à intervenção de Teerã na Guerra Civil da Síria — embora lá os curdos tenham se alinhado aos EUA para derrubar o califado do Estado Islâmico.

Partido pela Vida Livre do Curdistão (PJAK)
O PJAK é um grupo armado curdo de esquerda que luta contra o regime iraniano desde 2004 em busca de mais direitos para a população curda do país. Aliado do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado uma organização terrorista pela União Europeia, EUA e diversos países, o PJAK faz parte da ampla insurgência curda que se estende a Turquia, Síria e Iraque.

Segundo os porta-vozes do PJAK, o grupo tem cerca de 3 mil combatentes ativos, metade deles mulheres, e suas bases ficam nos arredores das montanhas de Qandil, na fronteira entre o Irã e o Iraque. Nos últimos anos, a força da ala militar da organização curda foi enfraquecida graças à crescente cooperação entre o Irã e a Turquia, cujo governo de Recep Tayyip Erdogan tem intensificado cada vez mais a repressão contra o povo curdo.

Movimento de Luta Árabe pela Libertação de Ahvaz (SMLA)
Outro grupo classificado como terrorista por Teerã é o Movimento de Luta Árabe pela Libertação de Ahvaz (SMLA, na sigla em inglês), uma região no sul do país correspondente ao território total das províncias de Cuzistão e Bushehr, além de parte das províncias de Ilam, Hormozgan, Chaharmahal e Bakhtiati e Kohgiluyeh e Boyer-Ahmad. Ao contrário de grande parte do Irã, que é de etnia persa, o movimento separatista busca o estabelecimento de um Estado árabe.

A ala militar da organização já reivindicou a responsabilidade por vários assassinatos contra autoridades e ataques contra infraestruturas e alvos civis, entre eles atentados a bomba em Ahvaz, capital do Cuzistão, em 2005 e 2006. Em 2018, o grupo também realizou um ataque durante um desfile militar na cidade.

A organização tem sede na Holanda e na Dinamarca, de onde controlam seu braço militar, a Brigada dos Mártires. O estabelecimento nos países aconteceu após seus fundadores, Ahmad Mola Nissi e Habib Jabor, terem fugido do Irã em 2006 e obtido status de refugiado nas nações.

Em declarações públicas, o grupo já chegou a se comparar aos palestinos, defendendo seu objetivo de "libertar as terras de Ahvad e seu povo da ocupação iraniana". Teerã acusa a Arábia Saudita de financiar o SMLA, o que os sauditas negam.

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