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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Estado Islâmico sob pressão para recuperar relevância após ataque do Hamas

Prova disso é o duplo atentado reivindicado pelo grupo jihadista no início de janeiro em Kerman, no Irã, onde morreram 89 pessoas

PalestinaPalestina - Foto: Atta Kenare / AFP

O Hamas era considerado "apóstata" pelo grupo Estado Islâmico (EI). Entretanto, o ataque contra Israel forçou a organização jihadista a recuperar sua legitimidade na guerra contra Israel e seus aliados.

O mais sangrento ataque na história de Israel, em 7 de outubro, com 1.140 mortos e 250 reféns, colocou o Hamas no topo das prioridades das chancelarias de todo o mundo e rebaixou o EI para um segundo plano, apesar da atividade de suas filiais permanecerem intensas.

"Isso coloca uma pressão considerável sobre o EI para permanecer relevante", estimou o diretor da organização Counter-Extremism Project (CEP), Hans-Jakob Schindler.

"Sem a guerra em Gaza, o EI estamparia as manchetes", explicou à AFP. Mas "se ninguém fala de você, você não existe".

Divergindo do Al-Qaeda, que celebrou imediatamente o ataque do Hamas, o EI levou um tempo para calibrar cuidadosamente suas declarações.

Abraçar homogeneamente as ações do Hamas estava descartado: o EI, sunita e salafista, se opõe ao Hamas, pró-iraniano e próximo da organização Irmandade Muçulmana.

"O inimigo do meu inimigo no Oriente Médio não é necessariamente meu amigo", observou Laurence Bindner, cofundadora da JOS Project, uma plataforma de análise de propaganda extremista online.

Prova disso é o duplo atentado reivindicado pelo grupo jihadista no início de janeiro em Kerman, no Irã, onde morreram 89 pessoas.

Embora Teerã também aspire destruir Israel, o EI, em vez de escolher entre seus inimigos, "adota outra via ao se posicionar simultaneamente em várias frentes: uma contra os judeus e os apoiadores de Israel, outra contra o Irã e seus aliados", explica a especialista.

Aproveitar a guerra em Gaza
No final de outubro, em seu meio de comunicação oficial Al-Naba, o grupo publicou um texto intitulado "Formas práticas de apoiar os muçulmanos na Palestina", no qual pedia a seus apoiadores para atacar Israel, seus aliados ocidentais e judeus no mundo inteiro.

"Israel não é apenas um Estado, mas um projeto judaico global, e é nesta batalha que os simpatizantes do EI querem se envolver", assegura Bindner.

Esta é a justificativa para "atacar Israel, os judeus e todos aqueles que apoiam o projeto, inclusive os Estados árabes que normalizam relações com Israel", continuou.

Em resposta ao ataque de 7 de outubro, Israel lançou uma enorme operação militar em Gaza, que deixou quase 23.500 mortos, na maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

O EI pode tirar proveito dessa guerra, afirma o cofundador da web especializada Militant Wire, Lucas Webber. "É uma abertura para maior relevância e sucesso", garantiu.

A hostilidade em relação ao Hamas "não significa que os jihadistas desistirão de aproveitar os combates para seus próprios objetivos: pedir para seus simpatizantes baterem no Ocidente, incitar os indecisos a agirem e radicalizar um potencial crescente de indivíduos irritados".

Concorrência
Para defender sua reivindicada posição de líder mundial do jihadismo, o EI precisa de visibilidade. Nas últimas semanas, a Europa registrou vários ataques ou planos de atentado de escala limitada.

Um argelino supostamente vinculado ao EI foi detido em novembro na Itália. No mês seguinte, um professor de árabe e imã de uma mesquita em Madri foi preso sob suspeita de recrutar jovens para o grupo. Em Paris, um franco-iraniano, que jurou fidelidade ao grupo, matou um jovem turista de dupla nacionalidade alemã e filipina e feriu outras duas pessoas.

"Uma operação na Europa seria necessária" para o EI, alerta Hans-Jakob Schindler. O grupo "implantou redes há muito tempo. Agora, precisa fazer algo para se reposicionar no centro da agenda".

"Os líderes do EI consideram que a prioridade, neste momento, é estabelecer e expandir sua influência, no Oriente Médio ou na África Central", explica à AFP a especialista independente da região, Eva Koulouriotis.

"A concorrência consiste em quem pode conquistar maior popularidade no centro das sociedades islâmicas e, consequentemente, captar mais membros", destacou Koulouriotis.

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