RIO DE JANEIRO

"Estão esquecendo do meu irmão", diz familiar de congolês Moïse, morto brutamente há um ano

Família organiza ato em quiosque onde vítima foi assassinada, na Barra da Tijuca; uma missa será celebrada em memória do refugiado, no Santuário do Cristo

Parentes do congolês Moïse Mugenyi KabagambeParentes do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Há exatamente um ano, a sequência de socos, chutes e pauladas desferidas por três homens contra o congolês Moïse Kabagambe Mugenyi, de 25 anos, também desencadearam uma onda de indignação internacional pelo assassinato do refugiado africano.

A cena do brutal homicídio de Moïse foi filmada pelas câmeras de segurança de um quiosque e de um condomínio na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Até hoje a mãe da vítima, a comerciante Lotsove Lolo Lavy Ivone, passa mal só de lembrar das imagens. Apesar de os três acusados estarem presos, a família pede que a Justiça seja mais ágil na condenação dos réus.

— As pessoas estão esquecendo do meu irmão. Queremos Justiça! Minha mãe sofre muito! Ela nem consegue ficar no quiosque (depois da morte de Moïse, a família ganhou um quiosque em Madureira para vender comidas típicas do Congo). Tudo lembra o Moïse — conta o irmão da vítima, Djojo Baraka.
 

Além das imagens apreendidas pela Polícia Civil, testemunhas contaram detalhes sobre a dinâmica do crime. A motivação para o crime, de acordo com as investigações, foi o fato de Moïse ter cobrado dois dias de pagamento atrasado do patrão. Seu corpo foi achado amarrado a uma escada.  Os réus são: Fábio Pirineus da Silva, o Belo; Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove; e Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota. Os três estão presos na Penitenciária Joaquim Ferreira de Souza, no Complexo de Gericinó, em Bangu.

No fim do ano passado, os advogados de Aleson e Fábio renunciaram ao caso. O juiz Guilherme Schilling, do 1º Tribunal do Júri da Capital, determinou que ambos procurem novos patronos ou sejam atendidos pela Defensoria Pública do Rio. 

A família marcou uma homenagem para esta terça-feira, às 13h, em frente ao quiosque Tropicália, onde ele foi agredido até a morte, no Posto 8, na Praia da Barra da Tijuca. A família pede para que sejam levadas flores e velas. Também será rezada uma missa de um ano da morte de Moïse, às 11h, no Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor. Será celebrado ainda o Dia do Refugiado Africano e o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo.

— Os refugiados chegam ao país não apenas esperando uma vida melhor, mas também, muitas vezes, fugindo da fome e da guerra em seus países de origem. É nosso dever garantir que possam se estabelecer e ter condição de trabalho digna para que a integração aconteça com plenitude — ressaltou a coordenadora de Migração e Refúgio e secretária executiva do Comitê Estadual Intersetorial de Políticas de Atenção aos Refugiados e Migrantes (CEIPARM), Eliane Almeida.

O vigário episcopal para a Caridade Social, monsenhor Manoel Managão, falou sobre a importância de lembrar a memória de Moïse: 

—  Será um momento de esperança para a família e de nossa solidariedade fraterna nesse momento em que se recorda a sua dor.

A família do congolês ganhou da prefeitura a concessão de um quiosque, em Madureira, para tentar superar a dor com trabalho. No entanto, apesar de ser grata por manter o sustento da família, a mãe da vítima, a comerciante Lotsove Lolo Lavy Ivone, diz que tudo lembra o filho.

— Muita gente passa no quiosque para nos abraçar, nos consolar pela covardia que se passou com Moïse. Eles vão lá dar força para gente, mas eu me sinto feliz e triste ao mesmo tempo porque tudo lembra ele — conta Lotsove.

 Lotsove Lolo buscou refúgio no Brasil para escapar da guerra civil e de violações de direitos humanos de seu país de origem, a República Democrática do Congo. Moïse chegou ao Brasil em 2011, fugindo dos conflitos de lá. Ele tinha 14 anos quando veio para o Rio. Para tristeza dela, o filho acabou sendo vítima de um crime estúpido, no qual buscava valer seus direitos trabalhistas.

Veja também

ONS recomenda que governo volte a adotar o horário de verão
Horário de verão

ONS recomenda que governo volte a adotar o horário de verão

Mais de 1.300 incêndios arrasaram florestas do Equador em menos de um mês
Equador

Mais de 1.300 incêndios arrasaram florestas do Equador em menos de um mês

Newsletter