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Argentina

Estrategista de Milei encomenda pesquisa sobre preferência entre democracia e autoritarismo

Temor entre a enfraquecida oposição é de que, caso consiga uma forte vitória nas urnas este ano, Milei inicie uma nova fase autoritária

O presidente da Argentina, Javier MileiO presidente da Argentina, Javier Milei - Foto: Nicolas Garcia/AFP

O presidente da Argentina, Javier Milei, é, sem dúvida, um fenômeno político em ascensão na América Latina. O chefe de Estado é um dos mais populares da região e exibe ao mundo resultados econômicos de dar inveja a seus vizinhos.

Os mercados estão entusiasmados com Milei, que depois de ter sido recebido como rock star na posse do presidente americano, Donald Trump, esta semana é uma das grandes atrações do Foro Econômico de Davos, na Suíça. Quando o assunto é economia, Milei rouba a cena.

A agenda econômica está promovendo a projeção internacional de Milei e, em casa, consolidando sua liderança política, diante de uma oposição que parece terra arrasada.

O presidente é hoje uma força que cresce e avança sem resistências relevantes. Ao que todas as pesquisas indicam, ele conseguirá ampliar ainda mais seu poder nas eleições legislativas de 26 de outubro.

Mas a agenda do governo argentino não é apenas econômica. Do alto do sucesso de seu programa fiscal, da política comercial e de combate à inflação, Milei ensaia caminhos em matéria de democracia e direitos humanos. Ainda são passos tímidos, mas devem ser observados com atenção.

Enquanto a Casa Rosada corta drasticamente recursos da Secretaria de Direitos Humanos e ameaça fechar alguns “espaços de memória” do país, entre eles o museu que funciona na Escola de Mecânica da Marinha (Esma, principal centro clandestino de tortura da última ditadura argentina), o principal estrategista do governo, Santiago Caputo, encomendou, segundo informou o site La Política On Line, uma pesquisa na qual se pergunta se os argentinos aceitariam um regime autoritário.

Segundo o site, a pesquisa ideada por Caputo faz a seguinte pergunta: “Em que país você prefere viver? Num país com um governo democrático que respeite os direitos individuais das pessoas ou num país com um governo autoritário, que consiga bons resultados econômicos?”.

Na rede social X (ex-Twitter), Caputo usa o usuário @MileiEmperador e menciona com alguma frequência a ideia de um regime “imperial libertário”. Dois modelos elogiados por representantes do governo são os do premier da Hungria, Viktor Orbán, e do presidente de El Salvador, Nayib Bukele.

O temor entre membros da enfraquecida oposição é de que, em caso de conseguir uma vitória esmagadora nas urnas este ano, Milei inicie uma segunda fase de seu governo, com viés autoritário.

Por enquanto, o foco está na economia, o tema que mais interessa ao presidente argentino, e que está rendendo grandes frutos. Mas alguns gestos, como a pesquisa encomendada pelo homem em quem mais confia o chefe de Estado, têm alimentado especulações sobre os planos de Milei para o médio prazo.

Nos últimos dias, os cortes orçamentários e tentativas de avançar sobre museus e “espaços de memória” sofreram um revés judicial. Em resposta a uma denúncia da vereadora kirchnerista Victoria Montenegro, o juiz federal Ariel Lijo, ironicamente o mesmo nome que Milei defende como membro da Corte Suprema de Justiça, ordenou ao secretário de Direitos Humanos que garanta o funcionamento do espaço de memória da Esma, entre outros na capital.

Mais de 40 anos após ter recuperado sua democracia, a Argentina tem instituições sólidas, e uma Justiça que, por enquanto, mostra-se comprometida com a luta das ONGs de defesa dos direitos humanos. É uma batalha que parece estar apenas começando.

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