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BRASIL

Alunos brancos do 9º ano têm melhor desempenho em Português e Matemática em relação a negros

Dados são do relatório do Observatório da Branquitude, feito com base em informações do Sistema de Avaliação de Educação Básica (Saeb) de 2023

Estudantes brancos do 9º ano têm melhor desempenho em Português e Matemática em relação a negroEstudantes brancos do 9º ano têm melhor desempenho em Português e Matemática em relação a negro - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Meninas e meninos do 9º ano do ensino fundamental, autodeclarados brancos, têm maiores médias de aprendizagem em Português e Matemática em relação a negros. O dado é do relatório do Observatório da Branquitude, feito com base em informações do Sistema de Avaliação de Educação Básica (Saeb) de 2023. O levantamento também apontou que estudantes do sexo masculino apresentam melhor desempenho em exatas, fator que pode reproduzir "representações sociais negativas de gênero" em ambas as disciplinas.

Meninas brancas são o grupo com o melhor desempenho no teste de Língua Portuguesa, quando comparado às meninas negras e aos meninos brancos e negros. Elas lideram com o maior resultado nos 26 estados e no Distrito Federal.
 

Em Santa Catarina, estado que teve o maior desempenho geral em Português entre os alunos do 9º ano, enquanto meninas brancas tiveram uma média de 278.3 pontos no Saeb, meninos pretos e pardos alcançaram 253.8 pontos — uma diferença de 23.5 pontos.

— Os prejuízos são grandes e percebidos no dia a dia das escolas, principalmente se imaginarmos que há possibilidades de uma diferença de rendimento grande em mesma sala de aula. As deficiências educacionais podem vir a gerar percalços na continuidade formativa, a exemplo dos processos seletivos (vestibulares e concursos) e também das oportunidades futuras de trabalho e profissionalizantes — explica Nayara Melo, pesquisadora do Observatório da Branquitude.

Meninos negros têm pior desempenho em Português
Meninas negras tiveram o segundo melhor desempenho, com exceção dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, locais onde os meninos brancos obtiveram notas mais elevadas.

Meninos negros, por sua vez, foram os que atingiram a pontuação mais baixa em todas as regiões, quando comparados aos demais três grupos de alunos. No Distrito Federal e Espírito Santo, a média de desempenho deles, inclusive, ficou um pouco abaixo da média geral, que já tende a ser a menor registrada pelo Saeb.

No Distrito Federal, a média de desempenho entre jovens pretos e pardos foi de 248.8, enquanto a nota geral foi de 250.3. No Espírito Santo, eles tiveram 242.5 pontos, contra 243.4 da média geral.

De acordo com o levantamento realizado pelo Observatório da Branquitude, os alunos que apresentaram maior domínio da Língua Portuguesa conseguem, em tese, compreender o uso de conjunções e advérbios; comparar textos de gêneros diferentes que abordam o mesmo tema; e apontar o tema ou a ideia principal em notícias, crônicas e poemas.

Aqueles que tiveram pior desempenho, as habilidades em Português são mais simples e estão relacionadas com reconhecimento da relação de causa e consequência e características de personagens em lendas e fábulas; identificação dos temas em diferentes tipos textuais; diferenciação do tipo de pontuação utilizada nos textos; e identificação de elementos verbais e não verbais.

Matemática é liderada por meninos brancos
Na Matemática, os meninos brancos assumem a dianteira em quase todo o país. A única exceção foi em Alagoas, onde pela primeira e única vez, neste levantamento, meninos negros lideraram o ranking com uma pequena diferença para os brancos, de 251.5 sobre 250.2, respectivamente.

O segundo melhor desempenho ficou quase empatado entre meninos pretos ou pardos e meninas brancas. Eles tiveram a segunda melhor pontuação em 14 estados, em grande parte no Nordeste e Norte do país, enquanto alunas brancas se destacam nessas mesmas condições em 12 estados.

As meninas negras, por sua vez, tiveram o desempenho mais baixo na maioria dos estados, ocupando a última posição. No Rio Grande do Sul, contudo, elas atingiram pontuação inferior à média geral do estado, com 243.8 sobre 248 pontos, respectivamente.

As diferenças de habilidades está principalmente na complexificação de informações matemáticas. Enquanto o grupo com médias menores consegue compreender gráficos simples de uma linha, o outro consegue trabalhar com gráficos com mais informações e operações algébricas com mais detalhes, por exemplo.

— Essas desigualdades podem ser fruto de uma ordem externa, de eventos e situações em que determinado grupo pode estar mais exposto do que outro. No olhar dos grupos brancos e negros no Brasil, pessoas negras acumulam situações de defasagem educacional em diferentes níveis educacionais. Cabe ressaltar, a importância de políticas setorizadas, com foco em públicos específicos e também em territórios específicos, visto que há também uma grande disparidade entre estados no Brasil em relação a essas médias — afirma Nayara Melo.

Disparidade de gênero nas disciplinas
O relatório ainda chama atenção para uma possível "reprodução de representações sociais negativas de gênero expressas nos resultados". Isso porque os dados apontaram que meninas brancas e negras tiveram melhor performance em Língua Portuguesa, enquanto meninos brancos e negros alcançaram maior média em Matemática.

"Os estereótipos de gênero costumam associar o universo feminino à sensibilidade e subjetividade, características conectadas a disciplinas como Português, “feminizadas”. Já o masculino relaciona-se à razão e à objetividade caras às ditas ciências duras, como a Matemática. Tais concepções fincadas no senso comum podem afetar o processo de escolarização, uma vez que as ciências não são neutras, gerando prejuízos na apreensão dos conteúdos pelos estudantes. Especialmente para meninas e meninos negros, sobre os quais também recai o peso da raça e do racismo", concluiu o estudo.

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