Estudo com simulação matemática comprova que alunos e professores devem usar máscaras nas escolas
Trabalho apoiado pela Fapesp mostrou que a utilização do acessório correto reduz o risco de transmissão
Um estudo feito por pesquisadores do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) mostra que o uso de máscaras de boa qualidade, como a N95 e a PFF2, somado ao monitoramento dos casos de Covid-19 e outras medidas não farmacológicas é o caminho para manter baixa a taxa de transmissão do coronavírus. Esse cenário é possível até mesmo em cidades nas quais o índice de vacinação ainda é baixo.
Já em um cenário em que ninguém usa máscaras, variantes mais transmissíveis como a Ômicron poderiam infectar até 80% da população.
O trabalho, apoiado pela Fapesp, concluiu que o uso de máscaras de qualidade inferior (como as de pano) por estudantes e profissionais da educação aumentaria em cinco vezes as transmissões em comparação com o cenário de lockdown, quando as escolas estavam fechadas. No caso de os estudantes usarem máscaras consideradas de boa qualidade, como as cirúrgicas (eficácia de filtragem de 50%), e os funcionários das escolas utilizarem as N95 ou PFF2 (que têm 95% de eficácia de filtragem), o aumento da transmissão seria de três vezes, comparado ao período sem aulas presenciais.
As simulações matemáticas que permitiram chegar às conclusões foram baseadas em dados epidemiológicos de Covid-19, de secretarias de saúde e de educação, de um modelo de transmissão em salas de aula por aerossol e de dados de mobilidade de uma população. Além disso, foram incluídas as informações contidas na literatura científica sobre a transmissão do coronavírus.
Leia também
• Covid-19 pode ter matado três vezes mais do que indicam dados oficiais, diz OMS
• Covid-19: pesquisa indica que 3 em cada 10 brasileiros usam máscara em locais abertos
• Universidades dos EUA retomam aulas remotas e outras voltam a exigir uso de máscara
A população que serviu de modelo foi a de Maragogi, no litoral de Alagoas. Com 33 mil habitantes, a cidade tem renda e demografia representativa de cerca de 40% dos municípios brasileiros. Os pesquisadores realizaram uma parceria com essa e outras cerca de cem prefeituras, a fim de coletar dados que pudessem ser usados para guiar políticas públicas, como parte das pesquisas do Grupo de Trabalho ModCovid19.
As simulações foram calibradas ainda para uma cidade grande, tendo Curitiba como modelo. Os resultados foram semelhantes.
“Levamos em conta, nas simulações, que as pessoas usam as máscaras corretamente e que a filtragem é aquela fornecida na embalagem pelos fabricantes. O encaixe incorreto da máscara no rosto e outras práticas dos usuários podem diminuir consideravelmente a proteção”, alertou Tiago Pereira, professor do ICMC-USP e coordenador do estudo, em entrevista à Agência Fapesp.
Por isso, o pesquisador acrescenta que os profissionais de educação devem ser treinados para orientar os estudantes sobre o uso correto desses equipamentos de proteção individual.
O estudo mostra ainda que diminuir o número de alunos por turma não necessariamente restringe o espalhamento do vírus. Uma vez que o patógeno é transmitido por gotículas de saliva, a baixa circulação de ar faz com que as partículas fiquem suspensas por muito tempo, atingindo até mesmo pessoas distantes na sala de aula.
“As salas evoluíram para o conforto térmico, geralmente têm ar-condicionado, então a troca de ar é muito baixa. Isso é desastroso para a transmissão da Covid-19”, afirma o pesquisador. Para se ter uma ideia, em outro estudo do grupo, foi constatado que as feiras livres não ofereciam risco maior de transmissão por estarem a céu aberto.
Ainda que as medidas não farmacológicas possam ser bastante eficazes se bem executadas, mesmo em ambientes fechados, a vacinação continua sendo um fator de bloqueio das transmissões, principalmente para os professores.
Estudo publicado na revista Science já mostrou que educadores que dão aulas presenciais têm até 1,8 vez mais chances de se infectarem do que aqueles que trabalharam exclusivamente on-line. O fato de normalmente falarem alto e transitarem de uma sala de aula para outra faz com que sejam vetores importantes de transmissão do coronavírus. Por isso, a vacinação desses profissionais deve ser priorizada.