Estudo diz que exercícios físicos podem potencializar produção de anticorpos após vacina
Segundo dados publicados na revista Sports Medicine, uma pessoa que se exercita com frequência possui 50% mais chances de produzir mais anticorpos após a imunização do que um sedentário
A atividade física regular, de intensidade média a alta, pode potencializar a eficácia das vacinas. Uma pessoa que se exercita com frequência possui 50% mais chances de produzir mais anticorpos após a imunização do que um sedentário, segundo dados de uma pesquisa publicada no fim de abril na revista científica Sports Medicine.
Em um cenário de escassez dos imunizantes contra a Covid-19, essenciais para combater a atual pandemia, a descoberta mostra que é possível extrair o melhor das vacinas disponíveis se mantivermos o corpo em movimento.
Os anticorpos são produzidos quando o organismo entra em contato com um patógeno, como um vírus ou uma bactéria, e conseguem evitar que o invasor inicie uma infecção. Os anticorpos são específicos, isto é, criados com a função de combater um determinado microrganismo.
As vacinas carregam um pedaço do agente infeccioso ou ele inteiro e inativo –incapaz de gerar doença– para fazer o corpo fabricar os anticorpos antecipadamente e, assim, proteger contra o surgimento da enfermidade quando o patógeno ativo tenta infectar.
Leia também
• Fiocruz entrega mais 6,1 milhões de vacinas contra a Covid-19
• Mais de mil cidades ficaram sem vacina anticovid esta semana
• Oito estados mostram aumento de casos de Covid-19, diz Fiocruz
O estudo foi conduzido por um grupo de cientistas de instituições de pesquisa da Europa. Para chegar ao dado, os pesquisadores fizeram uma revisão de diversos experimentos realizados anteriormente. Foram analisadas pesquisas que investigaram a relação entre atividade física e resultados na vacinação contra gripe, pneumonia e o vírus da varicela (catapora).
Além da detecção de taxas maiores de anticorpos nas pessoas fisicamente mais ativas, elas também foram capazes de produzir mais linfócitos do tipo T, que produzem outras substâncias de defesa e, segundo estudos recentes, têm um papel relevante na proteção contra o Sars-Cov-2.
"[Atividade física] pode ser um meio fácil de impulsionar as campanhas de vacinação. Considerando as dificuldades das cadeias de suprimentos, pode ser uma forma de fazer cada dose valer mais", escreve Sebastien Chastin, professor da Universidade Caledônia de Glasgow (UCD) e principal autor do estudo, em um artigo publicado no site The Conversation.
Ainda não se sabe exatamente quais anticorpos são os mais eficazes contra o coronavírus Sars-CoV-2, uma vez que produzimos uma grande variedade deles e nem todos são eficazes. Mas um artigo publicado em 17 de maio na revista científica Nature sugere que a presença de alguns tipos de anticorpos neutralizantes específicos contra o vírus são fortes indicadores de proteção contra a Covid-19.
Esses anticorpos podem ser produzidos após a vacinação –a maneira mais segura e eficaz– ou após uma infecção natural, quando há riscos de complicação.
No estudo conduzido pela equipe de Chastin, os pesquisadores notaram ainda que o risco de adoecer ou morrer com uma doença infecciosa é 37% menor nas pessoas que se exercitam mais –cerca de 30 minutos por dia, cinco vezes por semana.
No caso específico da Covid-19, um artigo publicado no periódico científico British Journal of Sports Medicine em meados de abril mostrou que pacientes mais sedentários, inativos fisicamente nos dois anos anteriores à pandemia, têm um risco maior de serem internados, irem para a UTI ou morrerem da doença. O risco de ser sedentário só é superado pelo de ter idade mais avançada ou histórico de transplante de órgão, de acordo com a pesquisa.
Os autores do artigo, que são cientistas de instituições dos Estados Unidos, afirmam que as pessoas que realizam pelo menos 150 minutos por semana de caminhada vigorosa (como se estivessem com pressa) tiveram um grande benefício. Os que fazem qualquer atividade física tiveram risco menor de complicações com a Covid-19 do que os sedentários.
"A atividade física melhora a resposta imune por seus vários mecanismos, reduzindo o estresse oxidativo e a inflamação sistêmica, que sobrecarrega o sistema imunológico. Quem faz exercício tem uma reserva maior de músculos para perder", diz Christina May Moran de Brito, fisiatra e coordenadora médica do serviço de reabilitação do Hospital Sírio-Libanês.
Estudo realizado pelo Hospital Sírio-Libanês no ano passado mostrou que a perda muscular nos casos mais graves de Covid-19 pode chegar a 2% por dia no período crítico da infecção –quando são necessárias intubação e imobilização para a respiração mecânica.
Brito afirma que os exercícios são também aliados na recuperação dos pacientes que já enfrentaram a doença e ficaram com alguma sequela. "Mesmo após casos mais leves o paciente pode ter algum dano pulmonar ou cardíaco, sentir fadiga e dor e experimentar distúrbios cognitivos, do humor e do sono", diz a médica.
Para extrair as vantagens das atividades físicas, a médica recomenda primeiro uma avaliação médica e apoio profissional. "Exercício é remédio, então tem a dose, ou seja, a intensidade e a frequência adequadas para cada pessoa. Sem as orientações, os benefícios podem se perder", afirma Brito.
Para Chastin, da Universidade Caledônia de Glasgow, as atividades físicas são inegavelmente importantes para tornar a população menos vulnerável a doenças infecciosas. "Os exercícios devem ser usados de maneira urgente e eficiente para combater a pandemia atual, mas também devem ser um investimento de longo prazo para a prevenção dos impactos econômicos e sociais que a pandemia trouxe", escreve Chastin ao The Conversation.