Estudo explica por que as dores do corpo são mais intensas à noite
Pesquisadores do Instituto Francês de Saúde e Pesquisa Médica fizeram um experimento em busca de evidências e explicações para provar ligação com os momentos do dia
Sentir dor é humanamente normal, seja uma dor de cabeça, de dente ou em qualquer outro lugar do corpo. Especialistas dizem que o sentimento é uma experiência pessoal e difícil de descrever, que o emocional e sensorial devem ser levados em consideração, praticamente tudo o que acontece conosco pode influenciar em nossa percepção da dor. Mas, pesquisadores do Instituto Francês de Saúde e Pesquisa Médica que estudam a percepção e avaliação da dor descobriram que existem momentos do dia em que elas se intensificam mais.
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O experimento durou 34 horas no total, a cada duas horas, os participantes receberam três estímulos de calor de dois segundos no antebraço a 42, 44 e 46 graus, em ordem aleatória. No entanto, para evitar a comparação entre os estímulos e, portanto, um possível efeito placebo, os participantes foram informados de que essas temperaturas eram sempre diferentes.
A partir dos testes e à medida que os participantes iam evoluindo, foi possível identificar evidências que explicam por que a dor pode ser pior em determinados horários. “Nós identificamos um ritmo circadiano de sensibilidade à dor”, disse Inès Daguet, um dos autores do estudo à revista IFLScience. Os pesquisadores identificaram que em humanos saudáveis, as piores horas do dia para a dor são no meio da noite (por volta das 4 da manhã) e as melhores são no meio da tarde (por volta das 4 da tarde).
Foi um resultado inesperado, e quanto mais os pesquisadores buscavam respostas, mais intrigantes as coisas ficavam. A explicação natural para o efeito seria relacioná-lo com a privação do sono – há muito se sabe que a falta de sono aumenta a dor, e uma boa noite de sono pode ser ótima evitar sentir dores. De fato, Daguet e seus colegas descobriram que os processos relacionados ao sono representavam apenas um quinto do efeito da sensibilidade à dor durante o período de 24 horas, quatro vezes menos do que o efeito do ritmo circadiano.
Provar ligações com o ritmo circadiano como este é difícil. Ele exige que os participantes do estudo sejam colocados em um ambiente de laboratório altamente controlado que é impossível saber que horas são – o que significa que não há mudanças na temperatura ou na luz; nenhum movimento, sono ou acesso ao mundo fora do laboratório; até ficar de pé para fazer xixi é proibido. Só então, uma vez que qualquer influência do ciclo natural dia-noite tenha sido removida, o que necessariamente leva mais de 24 horas para ser alcançado, qualquer processo biológico pode ser atribuído ao ritmo interno do corpo e não a algum estímulo externo.
Daguet explicou que encontrar evidências de um efeito e explicá-lo são tarefas muito diferentes, e as razões por trás de um ritmo circadiano de percepção da dor ainda não são claras e que muitas hipóteses podem ser dadas.
“Pessoalmente, acredito que poderia haver uma relação com o fato de que originalmente nós (como animais) precisávamos ser mais sensíveis à noite quando dormíamos para acordar rapidamente em caso de perigo”, disse.
A pesquisadora de psicologia, Rocío de la Vega, do Instituto de Pesquisa Biomédica de Málaga e da Universidade de Málaga, na Espanha,avalia que o resultado não é muito surpreendente. “ (Ao longo) nosso ritmo circadiano, várias coisas acontecem ao nosso corpo”, explicou ela. “Um deles é a liberação de certos hormônios em diferentes momentos do dia – de manhã temos um pico de cortisol… e então à noite liberamos melatonina, e é isso que nos faz sentir sono… Esse seria meu palpite. ”
Jessi Cucinello-Ragland, que estuda dor e dependência no Departamento de Fisiologia da Louisiana State University, teve uma explicação semelhante para o resultado. “Faz muito sentido que a dor possa ser controlada em um ciclo circadiano porque o cortisol também é regulado circadiano”, disse em entrevista ao portal IFLScience. “Os pacientes geralmente relatam dor pior à noite, e parte disso ocorre porque o cortisol é mais baixo à noite”, completou.
As pesquisadoras explicam que embora o cortisol seja nosso hormônio do estresse, em níveis normais também é anti-inflamatório, o que significa que níveis mais baixos de cortisol à noite podem piorar nossa dor simplesmente porque não somos capazes de colher os benefícios anti-inflamatórios. Elas destacam que um fator importante e que também deve ser levado em consideração são os pensamentos negativos ao deitar na cama e a impulsividade de procurar explicações de possíveis doenças no Google, atitude que pode ter influência no quanto de dor você está sentindo.