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Opinião

ETE Cabanga - 112 anos de história

Início do século XX, a cobertura de esgotamento sanitário no Recife se restringia a uma pequena área do município. Na ocasião, o sistema era operado pela companhia inglesa Recife Drainage Company. Em 1909, o então governador Herculano Bandeira de Mello convidou o renomado engenheiro sanitarista Saturnino de Brito para desenvolver os projetos e administrar a execução das obras de implantação de um novo sistema, que elevaria a capital aos mesmos níveis sanitários das cidades europeias.

O projeto de Saturnino dividia a cidade em nove distritos sanitários. Os esgotos coletados seriam direcionados através de sistemas de bombeamento até uma grande Usina Terminal a ser construída no Cabanga, na área do antigo matadouro. Essa Usina se encarregaria de lançar os efluentes no mar, através de um emissário que adentrava aproximadamente 300 metros além da linha de preamar, na praia do Pina, que era praticamente deserta na época. Nasce então, em 1915, o novo Sistema de Esgotamento Sanitário do Recife. Este sistema não previa o tratamento dos esgotos, porque, em cidades costeiras, o lançamento dos esgotos no mar, em seu estado bruto, era uma prática corriqueira adotada no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.

Apenas após a II Guerra Mundial, cresceu a demanda pelo tratamento dos efluentes. Além disso, as praias do Pina e de Boa Viagem tinham se tornado aprazíveis balneários frequentados por moradores do Recife. Assim, atendendo aos apelos da sociedade, no início da década de 50, o Governo do Estado contraiu um empréstimo junto ao BID para construção de uma Estação Depuradora de Esgotos na área contígua à Usina Terminal. O objetivo era tratar os esgotos e lançar o efluente no estuário do rio Jiquiá (Bacia do Pina).

As obras foram iniciadas em 1953 e concluídas em 1959. A entrada em operação, em  julho de 1960, marcou o fim do nefasto “Cano do Pina”, feito bastante festejado pela população recifense. A estação, projetada pelo Prof. Antônio Figueiredo, tinha capacidade de tratar, em nível primário, 40 mil metros cúbicos de esgotos por dia. Ainda em 1960, foi anunciada a duplicação da estação, que foi concluída somente em julho de 1972.

Na década de 1990, quando o avanço da legislação ambiental tornou necessário o aumento no nível de tratamento, a Compesa iniciou os estudos para a escolha do novo sistema de depuração, sendo indicada a tecnologia do reator biológico aeróbico, aerado com sistema de ar comprimido. A essa altura, a Estação Depuradora já era denominada Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) do Cabanga.

Na virada do século, iniciou-se a busca por alternativas de financiamento para a implantação da solução escolhida. Em 2012 os recursos foram garantidos através de empréstimo tomado junto ao FGTS, dentro do PAC II. Os projetos executivos foram desenvolvidos e, finalmente, em julho de 2017, as obras foram iniciadas, sendo concluídas no segundo semestre de 2022, exatamente 50 anos após a inauguração da última ampliação. A nova ETE garantirá o tratamento terciário dos esgotos, com remoção de nutrientes e desinfecção total, atendendo a atual legislação ambiental.

Ao longo dos seus 107 anos de existência, a unidade do Cabanga seguiu evoluindo, adaptando-se ao crescimento da metrópole e às exigências da sociedade. Hoje, essa centenária senhora aparece crescida e revigorada para seguir cumprindo o seu importante papel no Sistema de Esgotamento Sanitário do Recife.

 

*Diretor Técnico e de Engenharia da Compesa


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