EUA acusa formalmente russo que fingiu ser brasileiro e tentou se infiltrar no Tribunal de Haia
Cherkasov, de 39 anos, foi detido no início de abril de 2022 pelas autoridades holandesas por usar documentos de identidade falsos
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos denunciou formalmente, nesta sexta-feira (24), pelo crime de espionagem, um russo que, passando-se por brasileiro, estudou em uma universidade em Washington e se candidatou para uma vaga no Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia, na Holanda.
A denúncia do Departamento de Justiça para Sergei Vladimirovich Cherkasov sugere que os Estados Unidos tentarão impugnar sua eventual extradição à Rússia pelo Brasil, onde ele atualmente está preso pelo crime de falsidade ideológica.
Cherkasov, de 39 anos, foi detido no início de abril de 2022 pelas autoridades holandesas por usar documentos de identidade falsos.
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O suposto espião chegou ao país europeu usando documentos brasileiros, em nome de Viktor Muller Ferreira, para tentar entrar no TPI na vaga de analista júnior.
Contudo, a polícia holandesa conseguiu determinar que ele não era um cidadão brasileiro, mas um agente do Departamento Central de Inteligência das Forças Armadas da Rússia.
Ele foi considerado um "ilegal", um espião que vive disfarçado no exterior há vários anos utilizando uma identidade completamente nova.
Isso incluiu dedicar-se, entre 2018 e 2020, a programas de mestrado em estudos internacionais na Universidade John Hopkins, segundo a acusação do Departamento de Justiça americano e um currículo publicado na internet.
As autoridades holandesas afirmam que, se Cherkasov tivesse conseguido a vaga no TPI, ele teria a possibilidade de acessar inteligência "de alto valor" na investigação sobre crimes de guerra na Ucrânia, ou de exercer influência sobre procedimentos penais no Tribunal de Haia.
O suposto espião foi deportado ao Brasil em 3 de abril de 2022, onde foi denunciado pelo crime de falsidade ideológica pelo Ministério Público Federal. Em julho, a 5ª Vara da Justiça Federal de Guarulhos, em São Paulo, o condenou a 15 anos de prisão.
No entanto, em setembro de 2022, Moscou requisitou formalmente ao governo brasileiro sua extradição para a Rússia, onde supostamente era procurado por tráfico de drogas.
O Departamento de Justiça dos EUA o acusa de atuar como agente de uma potência estrangeira enquanto estava no território dos Estados Unidos.
Segundo a pasta, quando ele era estudante em Washington, recolheu informações sobre cidadãos americanos que não foram identificados e as repassou a seus superiores.
Ademais, foi acusado de fraude na obtenção de visto, fraude bancária, fraude postal e outros crimes decorrentes de suas atividades nos Estados Unidos.
Ainda não está claro se o Departamento de Justiça pedirá sua extradição ao Brasil.
"Quando inimigos externos, como a Rússia, enviam agentes encobertos aos Estados Unidos, vamos encontrá-los e persegui-los com todo o peso da lei", afirmou o promotor federal do Distrito de Columbia (DC), Matthew Graves.