EUA afirmam que oito mil soldados norte-coreanos estão na fronteira entre Rússia e Ucrânia
Apesar de ter um dos maiores contingentes do planeta, Forças Armadas da Coreia do Norte tiveram pouca experiência de combate após a Guerra da Coreia, em 1953
Cerca de 8.000 soldados norte-coreanos chegaram à região russa de Kursk, na fronteira com a Ucrânia, e estão prontos para entrar em combate nos próximos dias, declarou nesta quinta-feira o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.
"Se essas tropas entrarem em combate ou em operações de apoio contra a Ucrânia, se tornarão alvos militares legítimos", afirmou Blinken em uma coletiva de imprensa.
Após denúncias da Inteligência americana e sul-coreana de que a Coreia do Norte estaria enviando milhares de soldados para ajudar a Rússia na guerra contra a Ucrânia, muitos analistas começaram a se perguntar o que Pyongyang ganha ao mandar seus cidadãos para um conflito, que é comparado a um moedor de carne — e em um momento de escalada das tensões com a vizinha Coreia do Sul.
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As primeiras respostas que surgiram sobre a mesa foram mais genéricas: experiência e oportunidade. Mas agora, uma fala do ministro da Defesa sul-coreano, Kim Yong-hyun, parece apontar para caminhos mais palpáveis. De acordo com Kim, "é muito provável que a Coreia do Norte, em troca do envio de suas tropas, peça a transferência de tecnologia avançada", incluindo as relacionadas a armas nucleares táticas, aprimoramento de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), satélites de reconhecimento e mísseis balísticos submarinos (SSBNs).
— Há também uma grande chance de que eles tentem substituir seus equipamentos que foram adquiridos há muito tempo, portanto, tecnologias ou equipamentos antigos — afirmou o ministro, na quarta-feira, no Pentágono, em Washington. — Acredito que essas mudanças na situação tecnológica da Coreia do Norte podem representar um aumento na escalada das ameaças à segurança na Península Coreana.
O acordo espelharia o que a Rússia tem com o Irã, no qual Moscou tem compartilhado tecnologia sobre questões nucleares com Teerã em troca de armas e apoio militar para a guerra na Ucrânia, disse a Casa Branca em setembro.
Apesar de ter um dos maiores contingentes do planeta, com cerca de 1,2 milhão de homens (em uma população de 26 milhões de pessoas), as Forças Armadas da Coreia do Norte tiveram pouca experiência de combate depois do fim da Guerra da Coreia, em 1953. Soldados, agentes de inteligência e pilotos foram enviados para conflitos no Oriente Médio, África e na Ásia, mas em pequenos números, e nem sempre em ambiente de combate.
O estreitamento dos laços com a Rússia, que depende dos amplos arsenais norte-coreanos para continuar sua guerra na Ucrânia, também foi visto como uma oportunidade para os militares em Pyongyang testarem suas armas — munições de artilharia e foguetes de curto alcance já foram empregados contra os ucranianos — e, agora, seus soldados.
A Coreia do Sul vem alertando sobre o envio de soldados norte-coreanos para a Rússia há semanas e informou os aliados da Otan, a aliança militar ocidental comandada pelos EUA, sobre o movimento das tropas na segunda-feira.
Durante o encerramento da cúpula do Brics, na semana passada, o presidente russo, Vladimir Putin, despistou sobre o assunto dizendo que “se houver imagens” dos soldados, elas “refletem alguma coisa”. Pyongyang, por sua vez, declarou que qualquer envio de tropas estaria de acordo com as normas do direito internacional, mas não confirmou o envio de soldados para a Rússia.