EUA anunciam libertação de três americanos detidos "injustamente" na China
Medida teria ocorrido após meses de negociações sobre troca de prisioneiros; analistas indicam que postura incomum de Pequim é recado sobre possíveis concessões com novo governo americano.
Os Estados Unidos negociaram uma troca de prisioneiros com a China para a libertação de três americanos, incluindo um que havia sido informante do F.B.I, informou uma fonte próxima ao caso nesta quarta-feira.
A Casa Branca confirmou a libertação de Mark Swidan, Kai Li e John Leung. Eles são os últimos prisioneiros qualificados pelo Departamento de Estado americano como detidos injustamente na China, embora ativistas e familiares denunciem outros casos.
"Eles voltarão em breve e se reunirão com suas famílias pela primeira vez em muitos anos ", disse Sean Savett, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. — Graças aos esforços deste governo e à diplomacia com a República Popular da China, todos os americanos detidos injustamente logo estarão em casa.
À AFP, uma fonte próxima ao caso informou que os três indivíduos foram libertados em troca de três cidadãos chineses sob custódia americana, cujas identidades não foram reveladas.
Leia também
• China liberta três americanos 'detidos por engano'
• China corre para comprar soja brasileira às vésperas da volta de Trump à Casa Branca
• China classifica lista de restrições sobre empresas chinesas como 'coerção econômica' dos EUA
A negociação esteve em andamento por meses e, segundo o The Times, as autoridades discutiram a possível libertação de Xu Yanjun, de 42 anos, que foi condenado nos EUA por espionagem há dois anos e sentenciado a 20 anos de prisão. Xu foi o primeiro agente de Inteligência do governo chinês a ser extraditado para os Estados Unidos para ser julgado.
Prisioneiros americanos
Mark Swidan foi detido no fim de 2012 de uma viagem de negócios à China por acusações que envolvem tráfico de drogas. Um ano depois, foi julgado em um tribunal popular de Jiangmen e, cinco anos mais tarde, condenado à morte.
Sua família e aqueles que o apoiam afirmam que nunca houve provas contra ele, e que ele foi acusado por seu motorista e seu intérprete. No início de sua detenção, segundo o grupo de defesa de direitos humanos Dui Hua, Swidan foi privado de sono e comida e chegou a perder mais de 45 kg.
Kai Li, nascido em Xangai e naturalizado americano, dirigia uma empresa de exportação de tecnologia aeronáutica quando foi preso em 2016, acusado de espionagem e condenado a dez anos de prisão por supostamente entregar segredos de Estado a Washington. Ele afirma que compartilhou informações facilmente disponíveis na internet como parte do cumprimento rotineiro das regulamentações de exportação dos Estados Unidos.
John Leung, cidadão americano com mais de 70 anos e residência permanente em Hong Kong, também foi condenado por espionagem. Abertamente pró-Pequim, ele apoiava a reivindicação da China sobre Taiwan, organizava grupos que promoviam laços entre os EUA e a China e frequentemente aparecia com autoridades consulares chinesas em Houston. Ele também forneceu informações ao F.B.I. por anos, segundo dois funcionários americanos que falaram sob condição de anonimato porque não estavam autorizados a discutir detalhes do caso.
Seus contatos no F.B.I. o desencorajaram a viajar para a China em 2021, disse um dos funcionários. Mas ele foi mesmo assim, e as autoridades chinesas o prenderam e o levaram para um centro de detenção não revelado. Por mais de dois anos, seus amigos e familiares não tiveram notícias dele.
Em 2023, um tribunal na cidade de Suzhou o condenou à prisão perpétua, a primeira sentença do tipo para um americano acusado de espionagem na China.
Com os três cidadãos americanos soltos, o governo do presidente Joe Biden, em fim de mandato, conseguiu a libertação de mais de 70 americanos detidos injustamente em todo o mundo, segundo as autoridades. Em setembro, os Estados Unidos conseguiram a libertação do pastor David Lin, outro cidadão considerado detido injustamente desde 2006. Mais tarde, autoridades americanas reconheceram que a libertação fazia parte de uma troca por um cidadão chinês após negociações diplomáticas discretas.
Colaboração com a China
O governo Biden esperava conseguir as três libertações desta quarta-feira antes do fim do seu mandato, em janeiro. O presidente democrata apresentou os casos ao seu homólogo chinês, Xi Jinping, durante a última reunião que teve com ele à margem da cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), no Peru, em meados de novembro.
Com as trocas, analistas dizem que a China tenta mostrar que, se Washington cooperar, estará disposta a trabalhar de forma construtiva em certas áreas de interesse comum.
"Isso me sugere que eles não apenas querem dar um presente de despedida a Joe Biden, mas também estão sinalizando a Donald Trump a possibilidade de fazer concessões importantes ", disse John Kamm, fundador da Dui Hua Foundation, um grupo de direitos humanos em São Francisco, acrescentando que tanto Li quanto Swidan estão doentes.
O governo de Biden afirma que a China tomou medidas contra os produtores de precursores químicos do fentanil, um opioide sintético responsável por dezenas de milhares de mortes por overdose todos os anos nos Estados Unidos.
Já o presidente eleito, Donald Trump, prometeu uma abordagem mais beligerante quando assumir o cargo. Nesta semana, disse que aumentaria imediatamente as tarifas sobre os produtos chineses e também imporia tarifas altas aos vizinhos México e Canadá.