EUA arremete contra fentanil 'produzido em massa' no México
O opioide sintético é até 50 vezes mais potente do que a heroína
O fentanil "produzido em massa no México" pelos cartéis continua sendo a principal ameaça aos Estados Unidos, porque "seu único limite" são as substâncias químicas usadas para fabricá-lo, advertiu nesta quinta-feira (27) a agência antidrogas americana (DEA).
O opioide sintético, até 50 vezes mais potente do que a heroína, mata quase 200 pessoas por dia nos Estados Unidos, segundo dados oficiais, e foi responsável por dois terços das 107.735 mortes por overdose registradas no país em 2021.
"É a droga mais letal que os Estados Unidos já enfrentaram", alertou hoje a diretora da DEA, Anne Milgram, durante sessão do subcomitê de justiça da Câmara dos Representantes sobre crime e vigilância do governo federal. "O fentanil é barato de fabricar, fácil de disfarçar e letal para quem o toma. Apenas dois miligramas podem matar uma pessoa", explicou.
O que preocupa em relação às drogas sintéticas é que "seu único limite são as substâncias químicas que podem ser compradas para fabricá-las", acrescentou Anne, explicando que a rede de fornecimento começa na China, com empresas que fabricam substâncias químicas conhecidas como precursores, que vêm a ser os componentes básicos do fentanil e das metanfetaminas.
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As substâncias "são enviadas para o México ou para outros lugares da América Latina", onde os cartéis fabricam o fentanil e o enviam para os Estados Unidos em forma de pó ou comprimido, misturado a outras drogas, ou em forma de pílula, como se fosse analgésico falsificado.
Pó ou comprimidos
"Esses comprimidos estão sendo produzidos em massa no México", alertou Anne. Em 2022, a DEA apreendeu 400 milhões de doses letais de fentanil, e, neste ano, já confiscou mais de 200 milhões, ressaltou.
A diretora da DEA está preocupada com a forma como os traficantes "impulsionam a demanda" de forma nunca vista, introduzindo o fentanil em outros produtos para "produzir em massa".
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, encontra-se sob pressão desde que congressistas republicanos pediram, em março, que os cartéis sejam classificados como grupos terroristas e que o Exército americano possa combatê-los onde quer que eles estejam.
O México, porém, não é a única preocupação da DEA. As organizações do narcotráfico da Colômbia "não apenas enviam cocaína diretamente para os Estados Unidos", mas também o fazem "cada vez mais por meio de cartéis mexicanos", disse Anne, acrescentando que o mesmo acontece com o Peru e outros países sul-americanos.
Maconha e opioides
Para enfrentar a crise dos opioides, Washington mudou de estratégia e deixou de se concentrar apenas nos chefes do tráfico, mas também em toda a cadeia de fornecimento, desde o envio de precursores até o transporte para os Estados Unidos por meio, principalmente, dos portos de entrada na fronteira com o México.
Outro tema de grande preocupação para a DEA é o uso, pelos cartéis, de redes sociais e plataformas criptografadas para fazer a droga chegar às vítimas, que podem ser adolescentes que acreditam estar tomando analgésicos. A agência também rastreia criptomoedas, após observar "uma grande quantidade de lavagem de dinheiro chinês dos cartéis das drogas nos Estados Unidos".
Dois congressistas americanos - o republicano Matt Gaetz e o democrata Steve Cohen - levantaram uma questão polêmica: a retirada da proibição federal da maconha, cujo uso recreativo é legalizado em 23 estados.
No ano passado, o presidente Joe Biden pediu ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos e ao procurador-geral Merrick Garland que revisassem como convém catalogar a maconha na lei federal.
"Estudos mostram amplamente que, nos estados com acesso à maconha medicinal, há uma taxa mais baixa de prescrição desses opioides que podem levar ao vício", ressaltou Matt Gaetz. Anne Milgram disse que ainda não recebeu as conclusões, necessárias para que a DEA possa fazer sua própria avaliação.