EUA 'confia' que trégua em Gaza será iniciada no prazo previsto
A trégua, anunciada pelos mediadores Catar e Estados Unidos na quarta-feira, entraria em vigor no domingo (19)
Os Estados Unidos afirmaram, na quinta-feira (16), que estão "confiantes" de que o cessar-fogo acordado entre Israel e Hamas terá início no domingo, apesar dos bombardeios israelenses nas últimas horas que deixaram dezenas de mortos e feridos na Faixa de Gaza.
A trégua, anunciada pelos mediadores Catar e Estados Unidos na quarta-feira, entraria em vigor no domingo e envolveria a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, o que, uma vez concluída, encerraria a guerra de mais de 15 meses que deixou milhares de mortos em Gaza.
Por sua vez, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, só anunciou o acordo na madruagada desta sexta-feira, alegando que os "detalhes finas" ainda estavam sendo fechados.
"O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi informado pela equipe de negociação que foram aceitos os termos do acordo para a libertação dos reféns", afirmou seu gabinete em nota.
Também anunciou a convocação de uma reunião do gabinete de segurança nesta sexta-feira para aprovar o acordo. Netanyahu deve ter maioria nessa reunião, apesar da oposição de ministros de extrema direita.
Um deles, o ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, disse que vai renunciar se o governo adotar o acordo, que classificou de "irresponsável", mas esclareceu que o seu partido, Poder Judaico, não deixaria a coalizão com Netanyahu. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, também se opôs publicamente ao acordo e o qualificou de "perigoso".
Leia também
• Biden alerta para ameaças à 'frágil' democracia dos EUA
• Equipes de Biden e Trump trabalharam juntas para fechar acordo de cessar-fogo e libertação de reféns
• "Acordo para libertar reféns foi alcançado", divulga gabinete de Netanyahu
Bombardeios continuam
Durante o dia, o gabinete do primeiro-ministro israelense acusou o Hamas de "descumprir partes do acordo em uma tentativa de obter concessões de última hora".
O principal líder do grupo islamista palestino, Sami Abu Zuhri, respondeu que essas acusações "não têm nenhum fundamento".
O braço armado do Hamas também advertiu que "qualquer agressão e bombardeio" israelense contra a Faixa de Gaza poderá colocar os reféns em perigo.
Apesar do desentendimento, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, declarou que "confia" que o acordo terá início no prazo previsto, a partir de domingo.
O Egito, um dos mediadores do conflito ao lado de Estados Unidos e Catar, pediu que o acordo seja colocado em prática "o quanto antes".
O G7 também exerceu pressão, pedindo que todas as partes se comprometessem "a ajudar a garantir sua implementação total e o fim permanente das hostilidades".
Por enquanto, a violência não cessou. A Defesa Civil de Gaza reportou ao menos 73 mortos e centenas de feridos em bombardeios israelenses depois que o acordo foi anunciado.
Em Gaza, a Defesa Civil disse que Israel bombardeou várias áreas o território palestino desde o anúncio do acordo, matando pelo menos 73 pessoas e ferindo centenas.
Segundo o Exército israelense, "cerca de 50 alvos terroristas" foram atacados em "toda" a Faixa de Gaza nas últimas 24 horas.
Após mais de um ano de impasse, as negociações indiretas entre Israel e Hamas aceleraram nos últimos dias antes que o presidente americano Joe Biden seja sucedido pelo republicano Donald Trump na segunda-feira.
Vários países e organizações acolheram o pacto, que foi comemorado na Faixa de Gaza devastada pela guerra que eclodiu em 7 de outubro de 2023, após um sangrento ataque do Hamas a Israel que deixou 1.210 mortos, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP com base em dados oficiais israelenses.
Os comandos islamistas também levaram 251 reféns para Gaza, algumas deles já mortos. O Exército israelense afirma que 94 seguem em cativeiro, das quais 34 estariam sem vida.
Em resposta ao ataque, Israel lançou uma campanha de retaliação que já deixou ao menos 46.788 mortos na Faixa de Gaza, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde administrado pelo Hamas, os quais a ONU considera confiáveis.
Sentimentos mistos
Houve celebração em Israel e Gaza, mas também angústia. O morador da Cidade de Gaza, Fadl Naeem, disse à AFP que se sentia "muito feliz, mas, ao mesmo tempo, [sentia] uma profunda tristeza". "Perdemos netos, pais, irmãos, primos, vizinhos e nossas casas", disse.
Em Tel Aviv, o aposentado Simon Patya disse que sentiu "grande alegria" porque alguns reféns vão retornar vivos, mas também "grande tristeza por aqueles que vão voltar dentro de sacos".
Os principais pontos do acordo foram revelados pelo primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al Thani, e por Joe Biden.
O acordo prevê uma primeira fase de seis semanas, começando no domingo, na qual um cessar-fogo será implementado, 33 reféns serão libertados e as tropas israelenses vão se retirar das áreas densamente povoadas.
Futuro político incerto
"A segunda fase, ainda em negociação, envolve a libertação dos demais reféns e a retirada das tropas israelenses", disse Biden.
A terceira e última etapa se concentrará na reconstrução do devastado território palestino e na devolução dos corpos dos reféns mortos.
O primeiro-ministro do Catar explicou que um mecanismo de monitoramento administrado por Egito, Catar e Estados Unidos será criado no Cairo para garantir o cumprimento do pacto.
O acordo não resolve o suspense em torno do futuro político deste território de 2,4 milhões de habitantes, governado desde 2007 por um Hamas hoje muito enfraquecido.
Israel se opõe a qualquer administração futura do Hamas ou da Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia com poderes limitados, enquanto os palestinos rejeitam qualquer interferência estrangeira.