EUA dizem que Talibã vai liberar saída em voos comerciais após retirada
A afirmação foi dita pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken
O Taleban irá permitir que afegãos que se considerem sob risco e ocidentais que tenham perdido o prazo de 31 de agosto para deixar o país asiático o façam depois, por meio de voos comerciais.
Quem disse acreditar na promessa foi o secretário de Estado americano, Antony Blinken, durante entrevista coletiva nesta terça em Washington. Ele não detalhou quem teria dado a garantia por parte do grupo fundamentalista islâmico que retomou o poder no dia 15.
Antes dele, a Alemanha trabalhava com informação semelhante. Em Doha, o embaixador Markus Potzel disse ter ouvido garantias nesse sentido de Sher Mohammad Stanekzai, chefe do escritório taleban no emirado.
O nó é que hoje a delegação do grupo está longe da realidade em solo em Cabul e outras cidades, os compromissos do Taleban com atitudes moderadas desde que tomou a capital não têm sido exatamente cumpridos.
Há diversos relatos de violência arbitrária, prisões e até de execuções sumárias.
Num sombrio lembrete de seus tempos de poder, da vitória na guerra civil em 1996 à derrubada pelos EUA na esteira do 11 de Setembro em 2001, o grupo pediu que mulheres evitem sair de casa até que seus soldados sejam "treinados a respeitá-las".
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O secretário afirmou que os EUA dariam apoio a quem precisasse de ajuda para sair depois, algo bastante vago. Os voos comerciais cessaram com a chegada do Talibã à cidade.
Blinken afirmou que já foram retirados 88 mil civis do Afeganistão desde a noite de 14 de agosto, véspera da iminente queda de Cabul, a maioria por meio de voos militares americanos.
Outros países também estão fazendo o mesmo, como Alemanha, França, Índia, Japão e Rússia. O Aeroporto Internacional Hamid Karzai, batizado em homenagem ao ex-presidente que os talebans viam como fantoche ocidental e hoje está em mesas de negociações com eles, virou ponto focal de uma grave crise humanitária.
O presidente americano, Joe Biden, após ameaças do Taleban e alegando risco de atentados do Estado Islâmico, manteve o limite para a retirada com o uso dos cerca de 6.000 militares ainda na capital -mesmo eles já começaram a deixar o país também.
Segundo o secretário, há cerca de 1.500 americanos que ainda não pediram para serem evacuados — dos 6.000 que moravam de forma permanente no Afeganistão, fora pessoal diplomático, temporários de ONGs, subcontratados etc.
Os números são de difícil aferição. Mais cedo, o chanceler britânico, Dominic Raab, havia dito que era impossível contar quantos de seus cidadãos ainda precisariam de ajuda.
O prazo de 31 de agosto foi anunciado por Biden depois de ele ter dito, em abril, que as forças americanas cumpririam o trato feito pelo antecessor Donald Trump e deixariam o país. Pelo acordo, isso seria em maio, mas inicialmente o presidente queria o simbólico 11 de setembro.
Talvez alertado da péssima ideia de marketing, ele mudou para 31 de agosto. Nesta semana, britânicos, alemães e franceses o pressionaram para adiar a operação, mas o Taleban se mostrou irredutível. De quebra, a Casa Branca apresentou supostas ameaças de atentados de um ramo afegão do grupo Estado Islâmico.
"Eu desisti de ir. O Taleban fechou os acessos ao aeroporto e só ocidentais estão passando", disse, por mensagem antes do anúncio ocidental, o jornalista Ahmed Ali, que está com a família escondido perto de Cabul desde o dia da queda da cidade.
Ele não detalha, mas insinua estar com parentes. O produtor de TV não conseguiu ninguém que apadrinhasse ao menos a sua saída do país — tendo trabalhado com ocidentais, é considerado um alvo fácil na Cabul do Taleban.
Ali não chegou nem a tentar ir ao aeroporto, temendo represálias e confusão. Já morreram ao menos 21 pessoas em torno da região, contando os símbolos da incúria ocidental, os jovens que caíram de um trem de pouso de cargueiro levantando voo.
Imagens mostram bem menos pessoas agora em torno do aeroporto, sugerindo a eficácia do bloqueio feito por um grupo terrorista colocado para cuidar da segurança da cidade. É incerta a situação nas fronteiras terrestres: a principal, do Paquistão, tem registros de saída controlada de civis em pontos como Chamam.