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Justiça

EUA fazem nova tentativa na Justiça britânica de extraditar Assange

Esta é uma das últimas chances dos Estados Unidos de obter a extradição de Assange

Fundador da WikiLeaks, Julian AssangeFundador da WikiLeaks, Julian Assange - Foto: Geoff Caddick/AFP

A Justiça britânica examina, a partir de quarta-feira (27), o recurso de Washington contra sua recusa a extraditar o fundador da plataforma WikiLeaks, Julian Assange, demandado pelo governo americano pelo vazamento em massa de documentos confidenciais. 

Esta é uma das últimas chances dos Estados Unidos de obter a extradição de Assange. 

Em janeiro deste ano, a juíza britânica Vanessa Baraitser rejeitou o pedido de extradição de Assange, dada a possibilidade de o australiano, de 50 anos, cometer suicídio. Nos Estados Unidos, ele pode enfrentar uma pena de 175 anos de prisão, em um caso descrito por seus defensores como político e de atentado à liberdade de expressão. 

Em seu recurso, Washington questiona a confiabilidade de um especialista que testemunhou a favor de Assange sobre a fragilidade de sua saúde mental atual.

De fato, o psiquiatra Michael Kopelman reconheceu que enganou a Justiça ao "ocultar" o fato de que seu cliente se tornou pai durante seu confinamento na embaixada do Equador em Londres.

Esta apelação, que vai durar dois dias, é um dos últimos recursos de Washington. Se fracassar, restará apenas a Suprema Corte britânica.

'Muito mal'

Julian Assange foi detido pela polícia britânica em abril de 2019, depois de passar sete anos na embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou quando estave em liberdade sob fiança. Ele temia a extradição para os Estados Unidos, ou para a Suécia, cuja Justiça denunciou-o por estupro. Desde então, estas acusações foram retiradas. 

Assange, que conta com o apoio de várias organizações de defesa da liberdade de imprensa, é procurado pelos Estados Unidos por espionagem, após a publicação de cerca de 700 mil documentos militares e diplomáticos confidenciais.

Depois de visitá-lo no sábado (23), sua companheira, Stella Moris, disse hoje que ele se encontra "muito mal" antes da audiência na quarta-feira.

"No sábado passado, vi Julian na prisão de Belmarsh", disse Stella, durante uma entrevista coletiva perto de Londres. "Ele parecia muito mal", relatou.

"Esperamos que seja o fim" de tudo isso, declarou Moris, advogada de Assange que se tornou sua parceira, antes da audiência marcada para quarta e quinta-feiras.

"Julian não sobreviveria a uma extradição. Essa é a conclusão da magistrada", continuou Moris, considerando "aterrorizante" a possibilidade de se reverter a decisão de não extradição.

O especialista em direito americano Carl Tobias considera que há, sim, a possibilidade de que o recurso dos Estados Unidos dê resultado. Ele lembrou que, em agosto, a Justiça britânica avaliou que seus argumentos eram "pelo menos defensáveis".

"Os Estados Unidos poderiam estar em condições de convencer o Tribunal Superior de que Baraitser deu muita importância ao relatório (do especialista Kopelman) para se decidir", explicou ele à AFP. Mas isso "pode não bastar para justificar a anulação de toda sua decisão", acrescentou.

'Ameaça permanente'

No sábado, centenas de manifestantes - com cartazes de "Jornalismo não é crime" ou "10 anos é o suficiente, Assange livre agora" - se reuniram em frente ao Tribunal Superior de Londres, junto com sua companheira Stella Moris, para reivindicar sua libertação. 

"Julian Assange não teria que estar na cadeia por ter obtido informações de vazadores de alerta, por mostrar ao mundo o que realmente acontece, ou por expor nossos políticos corruptos", defendeu Boo Oldfield, uma das manifestantes.

Em uma carta aberta divulgada em meados de outubro, várias organizações de defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa - como a Anistia Internacional, a Human Rights Watch e a Repórteres Sem Fronteiras - pediram ao procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, que abandone as medidas. 

Julian Assange é o objeto de um processo lançado durante a Presidência de Donald Trump. Agora que o republicano foi sucedido pelo democrata Joe Biden, "seu Departamento de Justiça poderia decidir anular a decisão de indiciar Assange e de solicitar sua extradição", comentou Carl Tobias. 

Mas este não é o caso, o que demonstra, explica o especialista, que Assange "talvez seja considerado como uma ameaça permanente à segurança dos Estados Unidos".

Para a diretora de campanhas internacionais da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Rebecca Vincent, Biden perdeu a oportunidade de "se distanciar de seus antecessores". Assim como todos os apoiadores do fundador do WikiLeaks, ela também pede que as acusações sejam retiradas. 

O editor-chefe do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, afirmou que é "impensável que a Suprema Corte de Londres chegue a uma conclusão diferente de confirmar" a negação da extradição.

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