EUA mantêm conversas separadas com Rússia e Ucrânia em negociação sobre cessar-fogo
Cessar-fogo limitado e acordo sobre não agressão no Mar Negro estiveram em discussão nos encontros realizados na capital saudita
Uma delegação dos EUA realizou reuniões em separado com representantes de Rússia e Ucrânia em Riad, entre segunda e terça-feira, como parte do esforço liderado por Washington para alcançar um cessar-fogo para o conflito no Leste Europeu.
Embora declarações oficiais não tenham sido emitidas ao fim das tratativas, a pauta incluiu discussões sobre o escopo de uma trégua parcial nas hostilidades — apesar de não estar claro que alvos serão colocados fora dos limites das ações ofensivas — e uma possível retomada do acordo de grãos no Mar Negro, que permitiu a Ucrânia escoar sua produção agrícola enquanto esteve em vigor.
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O primeiro dos dois encontros aconteceu na segunda-feira, com os representantes de Moscou, em uma reunião que durou mais de 12 horas em um hotel de luxo na capital saudita. Havia a expectativa de que as duas partes publicassem uma declaração conjunta delineando os tópicos discutidos e eventuais avanços — algo que acabou não acontecendo. As informações sobre as conversas se limitaram a impressões compartilhadas por autoridades em declarações públicas breves — que indicam um progresso lento.
— Conversamos sobre tudo, foi um diálogo intenso, nada fácil, mas muito útil para nós e para os americanos — declarou o senador russo Grigori Karasin, um dos negociadores enviados pelo presidente Vladimir Putin, à agência de notícias TASS. — Claro que estamos longe de resolver tudo, de concordar em todos os pontos, mas parece que este tipo de discussão é muito oportuna.
O Kremlin anunciou que os termos discutidos ainda serão avaliados em Moscou antes de comentários oficiais — a delegação russa retornou de Riad e se encaminhava para o país pela manhã. Contudo, o ministro das Relações Exteriores Serguei Lavrov, também em comentário à agência de notícias Tass, disse que questões envolvendo a segurança da navegação no Mar Negro foram discutidas com os americanos, e que a Rússia concorda com a retomada do acordo de grãos, estrutura negociada em 2022, que permitiu um alívio financeiro à Ucrânia e o reabastecimento de reservas alimentares pelo mundo.
— Precisamos de garantias claras... Essas garantias só podem ser resultado de uma ordem de Washington ao [presidente da Ucrânia, Volodymyr] Zelensky — disse Lavrov, acrescentando que Moscou também está exigindo que não seja mais "excluída" do mercado global de fertilizantes e grãos.
O encontro entre representantes da Ucrânia e dos EUA aconteceram nesta terça-feira, e foi mais breve do que as negociações com os russos. As delegações de Kiev e Washington já haviam se encontrado na capital saudita durante o fim de semana. Uma fonte da delegação ucraniana indicou apenas que "todos os detalhes serão anunciados mais tarde".,
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cujo esforço de aproximação com Putin modificou o tabuleiro internacional, ambiciona acabar com o conflito iniciado com a ofensiva russa. Com muita pressão, o republicano conseguiu que Kiev aceitasse um cessar-fogo incondicional inicial, mas o lado russo fez uma série de exigências, e disse concordar com uma trégua limitada a ataques a instalações de energia.
A Ucrânia acusa a Rússia de atrasar as negociações para obter vantagens militares na frente de batalha. Moscou, por sua vez, diz desejar um formato de discussões mais amplo, que inclua a ONU e outros países.
Enquanto isso, no front, a Força Aérea da Ucrânia disse que a Rússia disparou 139 drones e um míssil balístico Iskander contra o país em ataques noturnos, dos quais abateu 78 e outros 34 não tinham munição. Em contrapartida, Kiev disse que matou ao menos 30 soldados russos em um ataque aéreo a um "elemento de infraestrutura militar" na região russa de Kursk.
Na segunda-feira, um ataque russo feriu 90 pessoas, incluindo 17 crianças, em Sumy, nordeste da Ucrânia, segundo o prefeito da localidade.