EUA: Marco Rubio ataca China e pede "diplomacia ousada" na Ucrânia em sabatina no Senado
Caso os congressistas aprovem sua nomeação, republicano se tornará o primeiro hispânico a chefiar o Departamento de Estado americano
O senador da Flórida Marco Rubio, escolhido pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, para servir como secretário de Estado do seu futuro Gabinete, deu uma amostra do tom da política externa do novo governo durante uma sabatina no Senado nesta quarta-feira.
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Na sessão, Rubio atacou a China — principal alvo da guerra comercial travada por Trump no seu primeiro mandato — afirmando que o país trapaceou para alcançar o status de superpotência global. Ele também defendeu uma "diplomacia ousada" para acabar com a guerra na Ucrânia, admitindo "não ser realístico" acreditar que Kiev tem capacidade de recuperar territórios perdidos para a Rússia durante o conflito.
Filho de imigrantes cubanos, Rubio pode se tornar o primeiro hispânico a chefiar o Departamento de Estado americano na História, indicando que a América Latina terá maior destaque na política externa americana, sobretudo na questão migratória. Com o Senado sob controle do Partido Republicano por uma maioria estreita, a expectativa é de que sua confirmação ao cargo aconteça sem dificuldades.
China e Taiwan
Ao ser questionado sobre a China, que o atual governo democrata também encara como rival dos EUA, Rubio se contrapôs ao presidente cessante, Joe Biden, defendendo que, em vez de priorizar uma "ordem mundial liberal" liderada por Washington, o país deveria seguir o lema "América primeiro" de Trump ao lidar com Pequim.
— A ordem global do pós-guerra [Segunda Guerra Mundial] não está apenas obsoleta, mas agora é uma arma que está sendo usada contra nós — disse ele durante o discurso, interrompido várias vezes por manifestantes. — Recebemos o Partido Comunista Chinês nessa ordem global. E eles aproveitaram todos os seus benefícios. Mas ignoraram todas as suas obrigações e responsabilidades. Eles mentiram, trapacearam, hackearam e roubaram para alcançar o status de superpotência global, às nossas custas.
Na visão de Rubio, a ótica deveria valer inclusive em relação a Taiwan, território autônomo que o governo chinês considera parte do país, embora adote um sistema democrático e mantenha fortes laços com o Ocidente. Segundo ele, uma estratégia de dissuasão para evitar uma eventual invasão da ilha seria demonstrar às autoridades chinesas que elas pagariam “um preço muito alto” caso fizessem isso, advertindo que os riscos de um confronto entre os dois nos próximos anos são altos se nada mudar.
— Essa é uma questão fundamental e definidora para Xi Jinping — respondeu Rubio. — Acho que precisamos nos preocupar com o fato de que, a menos que algo drástico mude, como um balanço em que eles [os chineses] concluam que os custos de intervir em Taiwan são muito altos, teremos que lidar com isso antes do final desta década.
Embora não tenha relações oficiais com Taiwan, os EUA mantêm um forte laço não formal com a ilha e fornecem armas para as suas Forças Armadas. Requisito básico para ter relações diplomáticas com Pequim, Washington reconhece a política "Uma só China", de considera Taiwan como parte do território chinês, mas nunca chancelaram as reivindicações do governo chinês sobre a ilha.
Guerra na Ucrânia
Sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, que se encaminha para completar 3 anos em fevereiro, Rubio disse que ele e Trump concordam que a guerra precisa chegar ao fim, ainda que seja necessário fazer concessões a Moscou e adotar uma "diplomacia ousada". A posição representa uma mudança total à postura da Casa Branca até o momento, que defendeu que as negociações sobre o fim do conflito ficassem a cargo de Kiev.
— O que Vladimir Putin fez é inaceitável, não há dúvida, mas essa guerra precisa acabar, e acho que a política oficial dos Estados Unidos deve ser a de que queremos que ela termine — disse Rubio. — Terão que ser feitas concessões pela Federação Russa, mas também pelos ucranianos e pelos Estados Unidos.
Na avaliação do senador, é “irrealista acreditar” que a Ucrânia consiga forçar as tropas russas a recuarem dos territórios conquistados desde a invasão, alegando que o maior desafio de Kiev não é falta de financiamento, mas de pessoal.
— É irrealista acreditar que, de alguma forma, uma nação do tamanho da Ucrânia, por mais incompetente que seja e por mais danos que a Federação Russa tenha sofrido como resultado dessa invasão, não há como a Ucrânia empurrar essas pessoas de volta para onde estavam na véspera da invasão, apenas devido à dinâmica do tamanho — disse Rubio, acrescentando: — O problema que a Ucrânia está enfrentando não é o fato de estar ficando sem dinheiro, é o fato de estar ficando sem ucranianos.
Otan
Co-autor de um projeto de lei que impede os EUA de se retirarem da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) sem aval do Senado ou da Câmara, Rubio foi questionado pelo Comitê de Relações Exteriores do Senado se apoiaria uma aventura trumpista de se retirar da aliança militar, como o magnata já ameaçou algumas vezes. Em resposta, o senador se manteve ao lado da legislação, mas ecoou as palavras do presidente ao defender que os membros da Otan aumentem os gastos com Defesa.
O escolhido do presidente eleito Donald Trump para secretário de Estado, o senador republicano Marco Rubio, da Flórida, expressou seu apoio à lei bipartidária que ele co-patrocinou e que impede que os EUA se retirem da OTAN sem a aprovação do Senado ou de um ato do Congresso.
“Fui copatrocinador da lei e, portanto, é difícil dizer que não estou apoiando uma lei que ajudei a aprovar e que considero um papel importante para o Congresso desempenhar”, disse Rubio em sua audiência de confirmação na quarta-feira com o Comitê de Relações Exteriores do Senado.
Rubio estava respondendo a uma pergunta do membro democrata mais graduado do painel, a senadora Jeanne Shaheen, de New Hampshire, sobre se ele iria aderir à lei se Trump tentasse retirar os EUA da OTAN.
Rubio observou que Trump escolheu um candidato para embaixador dos EUA na OTAN, o que indica que o presidente eleito leva a aliança a sério.
Rubio também expressou seu apoio à OTAN em geral, ao mesmo tempo em que argumentou que alguns estados-membros deveriam financiar melhor seus orçamentos de defesa.
“O papel dos Estados Unidos na OTAN no século 21 deve ser o papel principal de defesa ou como um apoio à agressão, com os países da região assumindo mais essa responsabilidade, contribuindo mais?” perguntou Rubio retoricamente.
Alguns antecedentes: Trump disse durante a campanha que incentivaria a Rússia a fazer “o que bem entendesse” com qualquer país membro da OTAN que não cumprisse as diretrizes de gastos com defesa, em uma admissão surpreendente de que não respeitaria a cláusula de defesa coletiva no centro da aliança.
O senador Marco Rubio criticou na quarta-feira o caso do Tribunal Penal Internacional contra autoridades do governo israelense, dizendo que “causou um tremendo dano à sua credibilidade global”.
Ele disse que a tentativa da organização de processar autoridades do governo israelense, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, por causa da guerra em Gaza, estabelece “um precedente muito perigoso para os Estados Unidos da América”.
“Trata-se de um teste para ver se podemos processar um chefe de estado de uma nação que não é membro? Se pudermos ir atrás deles, e conseguirmos fazer isso com relação a Israel, eles aplicarão isso aos Estados Unidos em algum momento”, argumentou Rubio em sua audiência de confirmação do Senado para secretário de Estado.
América Latina
Rubio, que é fluente em espanhol, defendeu o foco da política externa dos EUA em decisões que ajudem a tornar os Estados Unidos mais seguros, mais fortes e mais prósperos.
“Enquanto os Estados Unidos continuaram a priorizar a 'ordem global' em detrimento de nossos interesses nacionais fundamentais com muita frequência, outras nações continuaram a agir como sempre agiram e sempre agirão”, com base ‘no que é de seu interesse’, disse Rubio.
Sua aparição ocorre um dia depois que Biden decidiu retirar Cuba da lista de países que patrocinam o terrorismo a fim de incentivar a libertação de manifestantes presos na ilha. Ele fez o anúncio quase exatamente quatro anos depois que Trump, ao deixar o cargo, colocou Cuba novamente na lista negra.
Rubio, cujos pais emigraram de Cuba antes da revolução de Fidel Castro em 1959 e se opuseram aos comunistas, há anos defende ações enérgicas contra Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Nas Américas, “narcoterroristas, ditadores e déspotas se aproveitam das fronteiras abertas para promover a migração em massa, traficar mulheres e crianças e inundar nossas comunidades com fentanil” e “criminosos violentos”, disse ele.
Senador por três mandatos, ele é muito querido por seus colegas e bem conhecido entre os hispânicos.
Em 2016, ele foi o rival de Trump nas primárias republicanas.
Na época, o relacionamento entre os dois era execrável. Ele disse sobre Trump que ele tinha “mãos pequenas” e o chamou de “vigarista”. O magnata também zombou dele, apelidando-o de “pequeno Marco”.
Mas, com o tempo, eles passaram de inimigos a aliados.
Outras aparições
Também sob escrutínio dos senadores na quarta-feira está Pam Bondi, uma advogada de confiança de Trump escolhida para procuradora-geral (attorney general).
Ela foi sua segunda escolha depois que Matt Gaetz foi forçado a renunciar após ser acusado de pagar por sexo, inclusive com uma garota menor de idade, o que ele nega, além de uso de drogas ilegais.
Também comparecerá na quarta-feira Kristi Noem, candidata a chefe do Departamento de Segurança Interna, responsável pela alfândega, proteção de fronteiras e gerenciamento de migração.
Se confirmada, ela desempenhará um papel crucial na prometida deportação em massa de imigrantes sem documentos por Trump.
A governadora de Dakota do Sul ganhou pontos entre os republicanos por sua oposição às restrições durante a pandemia de covid-19, mas gerou polêmica depois de confessar ter matado seu cachorro a tiros porque ele era “indomável”.