Por que Obama evita apoio automático a Kamala como candidata democrata no lugar de Biden?
O ex-presidente ainda não apoiou Harris; na verdade, ele não a mencionou uma única vez em seu tributo afetuoso se bem que escrito de forma tensa ao presidente Joe Biden
Muitos dos principais nomes da política democrata começaram a se alinhar rapidamente atrás da vice-presidente Kamala Harris no domingo, depois que o presidente Joe Biden anunciou que desistiria de concorrer à reeleição nos Estados Unidos. Mas uma presença imponente no partido estava notoriamente e propositalmente ausente: Barack Obama.
O ex-presidente ainda não apoiou Harris; na verdade, ele não a mencionou uma única vez em seu tributo afetuoso — se bem que escrito de forma tensa — ao presidente Joe Biden que foi publicado no Medium logo depois que o atual presidente democrata decidiu se retirar no domingo.
“Joe Biden foi um dos presidentes mais importantes dos Estados Unidos, além de ser um amigo e parceiro querido para mim”, escreveu Obama, que escolheu Biden como seu companheiro de chapa em 2008 porque disse na época que queria um vice-presidente mais velho e experiente, com “cabelos grisalhos” e ambições presidenciais futuras limitadas. “Estaremos navegando em águas desconhecidas nos próximos dias”, escreveu Obama na postagem. “Mas tenho uma confiança extraordinária de que os líderes do nosso partido serão capazes de criar um processo do qual sairá um candidato excepcional.”
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Os republicanos interpretaram isso como uma afronta. Mas pessoas próximas a Obama, que se posicionou como um estadista imparcial acima das maquinações intrapartidárias, disseram que não se deve dar muita importância a isso — e que ele não tinha nenhum candidato alternativo em mente quando tomou a decisão de não endossar Harris imediatamente.
Obama adotou uma postura idêntica há quatro anos, quando os assessores de Biden o pressionaram a endossar a candidatura logo no início das primárias democratas, antes que o senador Bernie Sanders desistisse. A frase preferida de Obama na época era “I don't want to thumb the scale” (“Eu não quero desequilibrar a balança”).
Endossar uma candidatura muito cedo agora também seria um erro político — alimentando as críticas de que a indicação de Harris, caso ocorresse, seria uma coroação e não o melhor consenso possível em circunstâncias adversas, disseram eles.
Em vez disso, Obama vê seu papel como o de ajudar a “unir rapidamente o partido quando tivermos um candidato”, afirmou uma pessoa familiarizada com seu pensamento. Mas há outras considerações mais pessoais, além da cautela inata de Obama.
Biden é um homem profundamente orgulhoso e nunca perdoou totalmente Obama por ter apoiado discretamente a ex-secretária de Estado Hillary Clinton na campanha de 2016, e Biden ainda acredita que poderia ter derrotado o ex-presidente Donald Trump naquele ano se tivesse a chance. Biden também não ficou satisfeito quando Obama lhe disse que ele deveria considerar ficar de fora em 2020, segundo pessoas de seu círculo.
Obama queria que o domingo fosse sobre Biden, uma celebração de suas realizações — e não se sente pressionado a agir precipitadamente, de acordo com um ex-funcionário da Casa Branca que fala com o ex-presidente regularmente.