EUA sancionam empresa chinesa por violar direitos humanos de uigures
A mudança ocorreu uma semana depois de o presidente Donald Trump ordenar o fechamento do consulado chinês em Houston
Os Estados Unidos intensificaram sua pressão econômica sobre a província chinesa de Xinjiang nesta sexta-feira (31), impondo sanções a uma poderosa empresa chinesa e a duas autoridades pelo que consideram ser abusos de direitos humanos contra uigures e outras minorias étnicas.
A mudança, o mais recente golpe nas relações EUA-China, ocorreu uma semana depois de o presidente Donald Trump ordenar o fechamento do consulado chinês em Houston, levando Pequim a fazer o mesmo com o consulado americano em Chengdu.
O Departamento de Tesouro dos EUA afirmou em um comunicado que incluiu em sua lista negra a Corporação de Produção e Construção de Xinjiang, conhecida pela sigla XPCC, Sun Jinlong, ex-secretário do Partido Comunista Chinês junto a XPCC, e Peng Jiarui, vice-secretário e líder da empresa. Eles são acusados de graves violações e abusos de direitos humanos contra minorias étnicas em Xinjiang.
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"Os abusos dos direitos humanos do Partido Comunista Chinês em Xinjiang contra uigures e outras minorias muçulmanas são considerados a mancha do século", afirmou o secretário de Estado, Mike Pompeo.
A ação de Washington congela todos os ativos da empresa e dos dois oficiais; geralmente proíbe os americanos de fazer negócios com eles; e veta a entrada de Sun e Peng em território americano.
Um alto funcionário do governo chinês, falando sob condição de anonimato, descreveu a XPCC como "uma organização secreta e paramilitar que desempenha uma série de funções sob controle direto" do Partido Comunista Chinês.
"Eles estão diretamente envolvidos na implementação da abrangente vigilância, detenção e doutrinação do partido, que todos sabemos que tem como alvo os uigures e os membros de outras minorias étnicas em Xinjiang", disse.
Especialistas estrangeiros, citando imagens de satélite e documentos do governo, calculam mais de um milhão de uigures, cazaques e outros muçulmanos já foram detidos em campos de detenção, em um programa que tenta transformá-los em leais apoiadores do partido.
Pequim também é acusada de incentivar chineses de outras regiões a migrarem para a província numa tentativa de homogeneizar a população, além de reprimir os uigures e outros grupos muçulmanos, proibindo-os de praticar o Islã e forçando-os a adotar a língua chinesa.
A China nega violar os direitos dos grupos e diz que os campos, oficialmente chamados de "centros de treinamento educacional", oferecem cursos e são necessários para combater o extremismo. Segundo Pequim, a região enfrenta uma séria ameaça de militantes islâmicos e separatistas que planejam ataques para aumentar a tensão entre a minoria muçulmana uigur e o governo.
Recentemente, os EUA impuseram sanções ao secretário do Partido Comunista em Xinjiang, Chen Quanguo, o mais alto funcionário chinês a ser alvo de Washington.
Segundo Peter Harrell, especialista em sanções do Center for a New American Security (Centro para uma Nova Sociedade Americana), do ponto de vista econômico, a ação desta sexta foi uma "escalada substancial" da pressão americana e envia um aviso para as empresas que atuam na China.
"O governo Trump finalmente adotou sanções expressivas contra Xinjiang, em oposição às que eram principalmente simbólicas", disse Harrell.
A XPCC é um grupo paramilitar fundado em 1950 sob as ordens de Mao Tsé-Tung. Inicialmente era formado por soldados desmobilizados que passaram algum tempo em treinamento militar enquanto desenvolviam fazendas nas terras áridas da região.
Civis vindos do leste da China mais tarde se juntaram ao grupo, que cresceu progressivamente e começou a administrar seguros, grandes extensões de terra e negócios imobiliários, e também produções de plásticos e cimentos.
A entidade conta atualmente com 3,11 milhões de pessoas, ou mais de 12% da população da região. É quase inteiramente composta por chineses han em uma região tradicionalmente habitada por minorias muçulmanas.