EUA, UE, Estados do Golfo e ONU criticam falas de ministros israelenses sobre êxodo em massa de pale
Comentários sobre emigração de residentes e o reassentamento de colonos de Israel foram feitos por Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich
Vários Estados do Golfo Pérsico condenaram veementemente, nesta quinta-feira, os comentários de dois ministros israelenses de extrema-direita que sugeriram que palestinos emigrem da Faixa de Gaza após o fim do conflito entre o Hamas e Israel, que já se estende por quase três meses. O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, também disse estar "muito perturbado" com as declarações, que já haviam sido criticadas anteriormente pelos Estados Unidos e a União Europeia.
Na segunda-feira, Itamar Ben-Gvir, ministro de Segurança Nacional de Israel e líder do partido de extrema direita e pró-colonização Força Judaica, defendeu a promoção de "uma solução para incentivar a emigração dos residentes de Gaza" e o restabelecimento de assentamentos israelenses no enclave palestino. Seus comentários ocorreram um dia após o pedido do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich — também chefe do partido Sionismo Religioso, que faz parte da coalizão governamental —, para o retorno de colonos a Gaza, acrescentando que Israel deveria "encorajar" os cerca de 2,4 milhões de palestinos no território a sair.
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Em resposta, a Arábia Saudita afirmou, em comunicado divulgado nesta quinta pelo Ministério das Relações Exteriores, que "condena categoricamente e rejeita os comentários dos dois ministros", pedindo à comunidade internacional que atue diante da "persistência" do governo israelense em violar o direito internacional "por meio de suas declarações e ações".
O Catar, que desempenhou um papel mediador na trégua temporária entre Israel e o grupo fundamentalista islâmico no final de novembro, também "condenou nos termos mais fortes" os comentários dos dois ministros. "A política de punição coletiva e deslocamento forçado praticada pelas autoridades de ocupação contra os habitantes de Gaza não mudará o fato de que Gaza é terra palestina e permanecerá palestina", diz um comunicado do Ministério das Relações Exteriores do país.
O Kuwait seguiu a mesma linha, alertando contra "planos israelenses para deslocar residentes de Gaza em particular e o povo palestino em geral".
Por sua vez, os Emirados Árabes Unidos — que normalizaram os laços com Israel em 2020 — também "condenaram nos termos mais fortes as declarações extremistas" dos dois ministros, e expressaram sua "rejeição categórica a tais declarações ofensivas e a todas as práticas... que ameaçam uma escalada e instabilidade adicionais na região", disse o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
As falas também foram condenadas por Turk em uma postagem no X (antigo Twitter). "Muito perturbado pelos pronunciamentos de altos funcionários israelenses sobre planos de transferir civis de Gaza para países terceiros", escreveu Turk na rede social. Ele acrescentou que "o direito internacional proíbe a transferência forçada de pessoas protegidas dentro ou deportação de território ocupado."
"Retórica inflamatória"
O Departamento de Estado dos EUA já havia se manifestado sobre o assunto na terça-feira, classificando as declarações como "irresponsáveis". "Os Estados Unidos rejeitam as recentes declarações dos ministros israelenses Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, que propõe o reassentamento de palestinos fora de Gaza", disse o porta-voz Matthew Miller em um comunicado. "Esta retórica é inflamatória e irresponsável", continuou.
Em resposta às críticas americanas, Ben-Gvir voltou a defender o êxodo em massa de palestinos, em prol da "segurança". "Os EUA são o nosso melhor amigo, mas acima de tudo, faremos o que for melhor para o Estado de Israel. A emigração de centenas de milhares de pessoas de Gaza permitirá que os residentes [israelenses] voltem para suas casas [na periferia de Gaza] e vivam em segurança, além de proteger nossos soldados", escreveu Ben Gvir na rede social X.
Na quarta-feira, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, também denunciou os comentários "incendiários" dos dois ministros. "Condeno firmemente as declarações incendiárias e irresponsáveis dos ministros israelenses Ben-Gvir e Smotrich insultando a população palestina de Gaza e pedindo sua saída em massa", declarou. "Os deslocamentos forçados são estritamente proibidos e considerados uma grave violação do direito internacional humanitário, e as palavras têm um significado", continuou Borrell.
Crime contra a Humanidade
Desde o início da ofensiva militar de Israel em Gaza, em outubro, dois grandes fluxos de deslocamentos forçados ocorreram em direção ao sul. Inicialmente, as operações do Exército israelense se concentraram na metade norte do enclave, e autoridades ordenaram que os moradores se deslocassem para o sul. Mas após o término do cessar-fogo entre o Hamas e Israel em 1º de dezembro, a ofensiva terrestre israelense se estendeu para essa metade sul, forçando dezenas de milhares de pessoas, muitas das quais já haviam fugido nas primeiras semanas, a escaparem para regiões próximas, como o Egito.
Estima-se que 1,8 milhão de pessoas em Gaza, aproximadamente 85% da população total, estejam deslocadas internamente, o que representa o maior deslocamento de população palestina desde o êxodo maciço causado pelo estabelecimento do Estado de Israel em 1948, de acordo com a agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA).
A expulsão de uma população de seu território é proibida pelas Convenções de Genebra, que constituem o núcleo do Direito Internacional Humanitário, e os estatutos do Tribunal Penal Internacional (TPI) designam a "deportação ou transferência forçada de uma população" como um crime contra a Humanidade. (Com AFP e El País.)