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Romênia

Europa vê vitória de candidato pró-Rússia no 1º turno da Romênia como sinal de avanço das fake

União Europeia indica não ter dúvida de ligação entre campanha de influência russa com aumento no número de governos europeus alinhados ao Kremlin

Manifestante segura uma imagem satírica da pintura 'Madonna and Child' de Da Vinci retratando o presidente da Rússia amamentando o candidato presidencial da Romênia, Catalin Georgescu, durante protesto Manifestante segura uma imagem satírica da pintura 'Madonna and Child' de Da Vinci retratando o presidente da Rússia amamentando o candidato presidencial da Romênia, Catalin Georgescu, durante protesto  - Foto: Daniel Mihailescu/AFP

Após a surpresa, uma profunda inquietação. E frustração. A vitória inesperada do candidato pró-russo e anti-UE Calin Georgescu na Romênia e sua passagem para o segundo turno das eleições presidenciais foi uma bomba para as instituições da União Europeia (UE) que, há apenas alguns dias, comemoravam a iminente adesão total do país ao espaço Schengen como um sinal pró-europeu.

Na capital da Europa, os resultados das eleições de domingo estão sendo lidos como mais um sinal — depois da Moldávia e da Geórgia, há apenas algumas semanas — de que a propaganda russa está se infiltrando em cada vez mais lugares e em cada vez mais cidadãos, apesar dos insistentes avisos de Bruxelas para que se protejam contra essa interferência.

Embora ninguém queira dar o alarme ainda, pelo menos publicamente, porque ainda há eleições legislativas daqui a uma semana e o decisivo segundo turno presidencial, o que não há dúvida nos órgãos europeus ou nos corredores diplomáticos é que existe uma ligação direta entre as campanhas de desinformação russas e o aumento de candidaturas antiocidentais na UE e em seus vizinhos.

— A Rússia representa atualmente a ameaça mais significativa ao ambiente de informações da UE — enfatizam as fontes do bloco.

Tudo isso está acontecendo em um dos momentos mais delicados para a Europa: cumpriram-se mil dias desde o início da invasão russa na Ucrânia e Moscou não só está tentando envolver cada vez mais atores externos na guerra, mas também começou a usar um míssil hipersônico de nova geração. Uma situação que, de fato, será discutida nesta terça-feira na sede da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Bruxelas em nível de embaixador.

A reunião de emergência solicitada por Kiev contará com a presença, como membro há duas décadas, da mesma Romênia que, dentro de algumas semanas, poderá acabar sendo liderada por um político que "chegou a felicitar a Rússia pela anexação da Crimeia e considera que a guerra na Ucrânia se deve à mudança de posição da Aliança, de uma organização defensiva para uma mais agressiva", lembra Clara Volintiru, diretora regional do Mar Negro do think tank German Marshall Fund (GMF).

Uma narrativa, ela enfatiza, "muito alinhada com a do Kremlin" e que também pode atingir o coração da UE. Se Georgescu ganhar a Presidência da Romênia — e vários de seus antigos rivais, tão anti-UE quanto ele, já se comprometeram a apoiá-lo — o clube de líderes pró-russos e eurocéticos com assento no Conselho Europeu se expandirá, após a vitória de outro pró-russo, Peter Pellegrini, em outubro passado, na Eslováquia. Isso encantaria o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, até pouco tempo atrás um pária nas reuniões da UE e muito criticado pelo bloco por sua suposta "missão de paz" que o levou a Moscou no início da Presidência húngara da UE, mas que cresceu com os últimos resultados eleitorais, incluindo aqueles que deram a vitória nos EUA a seu amigo Donald Trump.

No Parlamento Europeu, também, desde as eleições de junho, houve um aumento no número de vozes de ultradireita, muitas das quais estão descaradamente alinhadas com a história de Moscou, acusada em vários países, incluindo a Bélgica, de ter atraído e até mesmo pago políticos de extrema direita.

Um fantasma na Europa
Esse cenário há muito tempo causa arrepios em Bruxelas e em outras capitais europeias.

Porque o que aconteceu na Romênia parece ser um caso exemplar para os agentes de desinformação russos que, de acordo com Bruxelas, agem de forma "personalizada" em cada país — usando o idioma e o contexto locais, muitas vezes com agentes locais — o que torna mais difícil combatê-los.

— Vimos no passado que as eleições nacionais são um terreno fértil para a interferência russa e a manipulação de informações — afirmam fontes da UE, embora o trabalho, muitas vezes, anteceda em muito a data das eleições: — É um processo de longo prazo, criando e disseminando narrativas prejudiciais e manipulando o debate público. Começa muito antes da eleição, durante a eleição e depois dela.

Foi o que, de acordo com a diretora Volintiru, aconteceu na Romênia, onde, lamenta, "a extensão da influência russa na opinião pública romena foi seriamente subestimada".

— As elites no poder calcularam mal seu controle sobre o sentimento público — disse ela em uma conversa telefônica de Bucareste.

A diretora fala de "complacência", pois os que estão no poder e as forças políticas tradicionais acreditavam que medidas como o aumento das pensões e dos salários seriam suficientes para atrair o eleitorado. Mas quando um em cada cinco romenos está em risco de exclusão social e econômica, um em cada cinco jovens não trabalha nem estuda e uma em cada cinco crianças abandona a escola precocemente, essas mensagens não são suficientes. E os atores pró-russos se aproveitaram dessa "vulnerabilidade" para fazer o jogo dos candidatos alinhados com Moscou.

Os mais de dois milhões de romenos que votaram em Georgescu "não cofmpartilham de um sentimento pró-russo, mas aprovam os valores tradicionais, as narrativas conservadoras, e acho que essa é a maneira pela qual a interferência russa está ocorrendo", aponta ela, observando que esses fenômenos já foram vistos antes na Hungria, Sérvia e Geórgia.

A especialista também aponta para um "erro grave por parte dos serviços de inteligência que não reconheceram a operação em andamento" da desinformação russa. Em particular, ressalta que a atividade nas redes sociais de parte do eleitorado, tanto dentro quanto fora do país, deveria ter dado mais sinais de alarme:

— Em comparação, as autoridades moldavas foram muito mais vigilantes na identificação desses esforços russos de mobilização eleitoral e, mesmo que não tenham conseguido combater todo o fenômeno, estavam pelo menos preparadas para tomar algumas medidas.

Da Europa, agora resta pouco a fazer a não ser esperar para ver, acrescenta. Porque se manifestar publicamente contra Georgescu pode até ser contraproducente, ele adverte.

— Isso só ajudaria a mobilizar ainda mais sua base anti-establishment — disse.

Eric Maurice, analista do European Policy Center (EPC), recomenda, no entanto, cautela. Ele acredita que as eleições legislativas de 1º de dezembro servirão como um barômetro para ver se essa tendência será confirmada ou se as forças pró-europeias conseguirão neutralizá-la. Também Volintiru acompanhará a votação de domingo com a calculadora na mão.

— Teremos que ver quantas cadeiras cairão nas mãos dos antieuropeus e dos anti-establishment e ver se eles tentarão se reagrupar e formar um governo de coalizão — afirmou a diretora.

Se não obtiverem mais de 30%, ela acredita, as forças pró-democráticas e pró-europeias ainda poderão buscar uma coalizão e manter o governo. Mas se os outros chegarem perto de 40%, não apenas a Presidência romena poderá acabar nas mãos de um aliado de Moscou. E então os alarmes começariam a soar no resto da UE.

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