Europeus estão reticentes com ideia da França de enviar tropas à Ucrânia
Ideia de enviar tropas, proposta pelo presidente Emmanuel Macron, não foi aceita pelos aliados europeus de Kiev
Alemanha, Reino Unido, Espanha e outros aliados europeus de Kiev se opuseram, nesta terça-feira (27), ao envio de tropas ocidentais para a Ucrânia, uma ideia lançada pelo presidente francês, Emmanuel Macron.
Suas declarações ao fim de uma reunião de líderes europeus em Paris provocou um terremoto na Europa, que instou os países do bloco a se posicionarem, e provocou um alerta por parte do Kremlin.
"Não convém em nada a esses países e eles devem estar cientes disso", disse o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, aos jornalistas, e considerou que o simples fato de levantar esta possibilidade representa "um novo elemento muito importante" no conflito.
Na segunda-feira, Macron organizou uma conferência de líderes ocidentais na capital francesa para angariar mais apoio à Ucrânia, em um momento em que a sua batalha para repelir a ofensiva russa entra no seu terceiro ano e o seu arsenal de munições diminui.
Nesta terça-feira, Moscou reivindicou a conquista de outra localidade ucraniana perto de Avdiivka, uma cidade da frente de batalha leste que o Exército russo conquistou no início do mês, após uma longa batalha, e afirmou ter destruído um tanque americano Abrams no leste do país.
As posições de Moscou estão se "fortalecendo" no front ucraniano e à nível interno, segundo Macron, para quem "a derrota da Rússia é essencial para a segurança e a estabilidade na Europa".
O chanceler francês Stéphane Séjourné afirmou nesta terça-feira à Assembleia Nacional que países ocidentais deveriam "pensar em novas ações para apoiar a Ucrânia".
"Algumas destas ações poderiam requerer uma presença em território sem ultrapassar qualquer limite de beligerância", afirmou um dia após as polêmicas declarações de Macron.
"Não haverá soldados"
Macron recusou-se a detalhar a posição da França, citando a necessidade de uma "ambiguidade estratégica", mas disse que a questão do envio de tropas fazia parte das diferentes "opções".
O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, cujos detratores o consideram próximo de Moscou, disse após a reunião que não havia consenso sobre este aspecto, mas que há países "prontos para enviar os seus próprios soldados para a Ucrânia".
No entanto, muitos aliados europeus de Kiev negaram esta possibilidade nesta terça-feira.
"O que foi acordado entre nós no início também se aplica ao futuro, ou seja, que não haverá soldados em solo ucraniano enviados por países europeus ou países da Otan", declarou o chefe de Governo alemão, Olaf Scholz.
Na segunda-feira, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, garantiu que se tratava de "uma proposta de reflexão do Presidente Macron, que aparentemente ninguém seguiu".
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"Não concordamos" com a ideia de um possível envio de tropas europeias, corroborou a porta-voz do governo espanhol, Pilar Alegría. O governo italiano também acrescentou que o apoio a Kiev não prevê o envio de tropas e o Reino Unido não planeja um "destacamento em grande escala" de tropas na Ucrânia, acrescentou um porta-voz do governo.
A Otan e seus países membros "fornecem ajuda sem precedentes à Ucrânia. Fazemos isso desde 2014(...) Mas não há planos para enviar tropas de combate para o terreno na Ucrânia", declarou um responsável da aliança militar.
Suécia, Polônia e a República Tcheca endossaram este posicionamento.
Para Moscou, a presença de tropas de países membros da Otan tornaria "inevitável" um confronto direto entre a Rússia e esta aliança militar.
As declarações de Macron também geraram agitação na França, onde a oposição unida contra a "loucura" desta medida forçou a realização de um debate parlamentar sobre o apoio à Ucrânia.
"Atitude mais agressiva"
Para Rym Momtaz, pesquisadora do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), "não estamos falando de soldados na linha de frente do combate, mas de atividades específicas longe do front".
Durante uma coletiva de imprensa, Macron abordou cinco temas prioritários: a desminagem, a segurança dos países vizinhos como a Moldávia, a luta contra os ataques cibernéticos, o apoio à Ucrânia em sua fronteira com Belarus com forças não militares e a fabricação de armas.
O "fortalecimento" da posição russa foi visto, segundo o presidente francês, com a morte na prisão, em 16 de fevereiro, de Alexei Navalny, principal opositor de Putin. "A Rússia adota uma atitude mais agressiva não só na Ucrânia, mas contra todos nós em geral", disse ele.
Os aliados ocidentais da Ucrânia mostraram um consenso para "fazer mais e mais rápido" no envio de armas para Kiev. Outros anúncios foram a criação de uma nova coalizão para fornecer à Ucrânia "mísseis e bombas de médio e longo alcance".
O primeiro-ministro tcheco, Petr Fiala, afirmou que há um "grande apoio" a uma iniciativa para ajudar a Ucrânia a comprar munições fora da União Europeia.
Paralelamente à conferência de Paris, Zelensky criticou a UE por ter fornecido apenas 30% do milhão de projéteis de artilharia que havia prometido.
Há questões crescentes sobre a viabilidade do apoio a longo prazo dos EUA a Kiev, especialmente com a possibilidade de um retorno de Donald Trump à Casa Branca e enquanto um novo pacote de ajuda permanece bloqueado no Congresso.