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Ex-general que sequestrou dissidentes políticos está prestes a se tornar presidente na Indonésia

Prabowo Subianto, 72, foi expulso do Exército após acusações de abusos de direitos humanos e já disse que o Estado não precisa de eleições nem de democracia

Prabowo Subianto, 72, buscou reformular sua imagem como a de um avô carinhoso durante a campanhaPrabowo Subianto, 72, buscou reformular sua imagem como a de um avô carinhoso durante a campanha - Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP

O ministro da Defesa da Indonésia, um ex-general que foi expulso do Exército após ser considerado responsável pelo sequestro de dissidentes políticos, parece estar no caminho para vencer as eleições presidenciais desta quarta-feira (14). Prabowo Subianto, 72, tem uma liderança dominante na corrida eleitoral, com mais de 58% dos votos, segundo contagens não oficiais que têm fama de prever com precisão os resultados finais.

Se as projeções forem confirmadas, a Indonésia — a terceira maior democracia do mundo — lidará com um presidente que disse que o país não precisa de eleições nem de democracia; que foi impedido de entrar nos Estados Unidos por 20 anos por seu histórico de violação aos direitos humanos, e que foi durante muito tempo associado ao ex-ditador indonésio, Suharto. A era de liberdade que se seguiu à queda de Suharto, dizem os críticos, agora pode estar sob ameaça.

O quarto país mais populoso do mundo é de crescente importância estratégica tanto para os Estados Unidos quanto para a China. A Indonésia é um dos principais produtores mundiais de carvão, óleo de palma e níquel, e está no topo das cadeias de suprimentos de muitas empresas internacionais. Tudo isso significa que terá uma influência significativa sobre o futuro da crise climática, também.

Prabowo almeja a presidência há décadas e tem tentado diferentes personas públicas para conquistar votos. Mas o que finalmente o levou à vitória foi o apoio implícito do popular presidente atual, Joko Widodo, cujo filho Gibran Rakabuming Raka, 36, é o companheiro de chapa do ex-general. Para os críticos, Joko mostrou até onde estava disposto a ir para manter sua influência política no país após o término de seu segundo mandato de cinco anos no cargo.

Joko foi responsável, por exemplo, por reduzir os poderes de uma agência anticorrupção, impôr uma lei trabalhista controversa e orquestrar a colocação do filho na cédula para vice-presidente. Tais preocupações, no entanto, não chegaram à maioria da população, que prosperou sob os ambiciosos projetos de infraestrutura e bem-estar de Joko. Pesquisas mostram que os indonésios desejam alguém que continue seu legado — e é assim que Prabowo se apresentou.

"No passado, a democracia em declínio da Indonésia esteve intimamente relacionada à repressão das liberdades civis, mas com a deterioração na qualidade das eleições e a intervenção dos que estão no poder, acho que agora estamos em uma situação ruim" disse Yoes Kenawas, pesquisador de política na Universidade Católica Atma Jaya.

A Indonésia é uma exceção importante em uma região onde muitas vezes a vontade do povo é ignorada. Embora a democracia seja amplamente considerada imperfeita no país, muitos indonésios a abraçaram como um modo de vida. As eleições nas últimas três décadas têm sido consideradas livres e justas, e os eleitores dizem que não querem voltar aos dias de Suharto — ex-chefe de Prabowo e seu ex-sogro.

Os locais de votação estiveram abertos por seis horas. Milhões de pessoas votaram, celebrando a Festa da Democracia no país. Pode levar semanas para as autoridades declararem as contagens oficiais dos votos, mas os resultados podem ser aparentes horas após o fechamento das urnas. Nos últimos meses, pesquisas mostraram que Prabowo estava à frente de seus oponentes, Anies Baswedan, ex-governador de Jacarta, e Ganjar Pranowo, ex-governador de Java Central.

As plataformas dos três candidatos não diferiram significativamente, disseram os especialistas, mas Prabowo teve destaque — e Joko desempenhou um papel crucial em sua reabilitação. Em 2019, o ex-militar foi nomeado ministro da Defesa, e no ano passado, o filho do atual presidente se uniu a Prabowo na disputa eleitoral. Ambos buscavam cortejar o voto jovem, já que, no país, pessoas com menos de 40 anos são mais da metade dos eleitores elegíveis.

Com uma campanha sofisticada, Prabowo buscou reformular sua imagem como a de um avô carinhoso. A manobra de Joko, porém, deixou alguns apoiadores preocupados, e muitos não entendem por que um homem que se beneficiou da democracia agora tem desejos dinásticos. Segundo Andi Widjajanto, que renunciou como estrategista de Joko em outubro, é como se Barack Obama de repente decidisse apoiar Donald Trump enquanto ainda endossa um programa democrata.

"Para nossos amigos nos EUA, é como se Obama de repente decidisse apoiar Trump enquanto ainda endossa um programa democrata"disse Andi Widjajanto, que renunciou como estrategista de Joko em outubro e começou a trabalhar para Ganjar, candidato do partido de Joko.

Influência de Joko
Em outubro, o cunhado de Joko deu o voto decisivo na decisão do Tribunal Constitucional de reduzir a idade dos candidatos a vice-presidente, permitindo que Gibran entrasse na disputa. Embora a situação tenha gerado um tumulto, Joko reforçou sua posição nas últimas semanas, dizendo que “um presidente tem permissão para endossar candidatos e tomar partido”. Para muitos, a mensagem foi clara: ao seu lado estava Prabowo.

Sua declaração provocou outro protesto, e Joko apareceu em um vídeo no YouTube segurando um cartaz e apontando para trechos da Lei Geral das Eleições de 2017, que afirmam que os presidentes têm permissão para participar da campanha. Especialistas, no entanto, disseram que o líder estava citando seletivamente a lei, que também afirma que ele deve se afastar do poder caso queira fazer campanha.

Agora, não está claro qual será a influência de Joko na política indonésia após deixar o cargo, e como será se seu filho se tornar vice-presidente. Comparado ao chefe de Estado, o vice tem poder limitado. Mas quem ocupa o cargo é o próximo na linha se o presidente morrer. Para Natalie Sambhi, da Verve Research, grupo que estuda a relação entre militares e sociedades, Prabowo não deve permitir que Joko exerça muita influência. A questão, para ela, é se o ex-general conduzirá o país na mesma direção.

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