ARGENTINA

Ex-primeira dama da Argentina acusa Alberto Fernández em tribunal de ter obrigado ela a abortar

A ex-primeira-dama declarou em tribunal que sofreu "violência reprodutiva" e que o ex-presidente lhe disse que "não estava preparado" para ser pai

A ex-primeira-dama argentina Fabiola Yáñez e o ex-presidente Alberto Fernández A ex-primeira-dama argentina Fabiola Yáñez e o ex-presidente Alberto Fernández  - Foto: AFP

"Era tal a sua perversão que ele disse ao filho [Estanislao] que eu estava grávida, para depois me responsabilizar pelo aborto." O relato de Fabiola Yañez sobre um fato até então desconhecido no processo é dramático.

A ex-primeira dama detalhou em sua declaração apresentada nesta segunda-feira em Madri sobre o aborto que teve na primeira fase de seu relacionamento, antes de se comprometer com Alberto Fernández.

Fala de “violência reprodutiva” e conta que o ex-presidente teve uma péssima reação ao saber do filho que estava por nascer. “Temos que resolver isso. Você tem que abortar”, disse ele, segundo Yañez.

A ex-primeira dama não aprofundou mais nos fatos, mas relatou que durante outra gravidez houve chutes em seu estômago. Se confirmado, esse trecho da acusação agravaria severamente a situação do ex-presidente. A Justiça não descarta que tenha ocorrido outra perda de gravidez em 2021, quando ambos residiam na quinta de Olivos, sobre a qual Yañez ainda não se manifestou.

 

“Comecei a sentir os primeiros sintomas da gravidez e nem pude comentar, porque para ele não existíamos, nem eu nem esse bebê. E aí caí em talvez uma das formas mais graves de violência, a reprodutiva, já que, através de suas ações e até mesmo suas omissões (silêncio, abandono, desprezo, reproches), foi minando minha autoestima, minha autonomia”, relatou Yañez, em um documento de 18 páginas.

O relacionamento tóxico começou antes da Presidência, segundo suas palavras. “Eu tinha que responder suas mensagens a cada três minutos, então optei por parar de sair e parei de frequentar amizades, exceto por alguma amiga com quem me reunia para jantar em minha casa, como uma forma também de controle da parte dele”, disse.

“Ele estava obcecado com a ideia de que se eu saísse era porque o estava traindo. O insólito era que, enquanto eu ficava em casa com uma amiga para jantar e assim saciar sua sede de controle, ele saía para estar com outras mulheres, o que eu finalmente descobri”, acrescentou em outro trecho de sua apresentação.

O relato da gravidez
Yañez contou como ficou grávida e em que contexto do relacionamento com Fernández. O casal se comprometeu em maio de 2016, em Paris, e, segundo o que relatou, esse episódio teria ocorrido antes. “Estando morando juntos e devido aos planos de compromisso, confiando em suas palavras sobre querer ter outro filho comigo e formar uma família, resultou que, após pouco tempo de convivência, fiquei grávida”, disse.

“A alegria e a surpresa da minha parte eram imensas, até que contei a ele”, continuou.

Yañez explicou que, “naquele momento, novamente apareceu seu desprezo e rejeição”. E relatou a resposta que Fernández, então seu namorado, deu. “Desta vez em relação ao nosso filho por nascer, ele disse: ‘isso não pode acontecer, estou em choque’”, afirmou.

“Começou a me atormentar com o fato de que era muito cedo, que ele ainda não estava pronto, que eu não tinha apresentado a ele seu filho [Estanislao]”, continuou a ex-primeira dama.

“E então, iniciou a segunda parte do seu plano de desprezo, para me empurrar a tomar a pior decisão. Começou a me ignorar completamente. Morávamos na mesma casa, mas ele parou de falar comigo. Não me dirigia a palavra alguma. Passei a ser um móvel na minha própria casa, carregando seu filho no meu ventre”, disse Yañez. Relatou ainda que, após esse episódio, viveram um tempo separados.

“Ele dizia: ‘não posso dizer a ninguém que vou ter um filho com você em tão pouco tempo’, e eu respondia, ‘mas então por que você não me disse? Teríamos tomado cuidado’. Ele me dizia: ‘Temos que resolver isso, você tem que abortar’.

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