Ex-vice-presidente do Equador foi hospitalizado por overdose de ansiolíticos e antidepressivos
Advogado de Jorge Glas afirma não ter mais informações sobre seu estado de saúde
Preso na última sexta-feira (5), após uma invasão policial na embaixada do México em Quito, o ex-vice-presidente do Equador Jorge Glas foi hospitalizado após sofrer uma overdose de ansiolíticos, antidepressivos e sedativos, segundo um relatório policial ao qual o jornal El País teve acesso.
Segundo seus advogados, ele está estável. Glas permanece preso na prisão de segurança máxima de Guayaquil, conhecida como La Roca, desde sábado, quando a polícia equatoriana invadiu a embaixada mexicana e o capturou.
Esta violação da soberania mexicana suscitou uma onda de críticas por parte da comunidade internacional, que acusa o Presidente Daniel Noboa de não respeitar a Convenção de Viena. O México anunciou o rompimento de relações com o Equador após o incidente.
O advogado de Glas, Andrés Villegas Pico, explicou em nota que o diretor do presídio lhe informou que o preso não aparecia na contagem inicial de presos. Os funcionários entraram em sua cela às 8h30 e o encontraram “sem acordar”. Glas não quis comer nada nas 24 horas seguintes.
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Glas, de 54 anos e a quem o México concedia asilo, "sofreu uma possível descompensação por se recusar a consumir os alimentos oferecidos" na prisão, informou o Snai. O ex-vice-presidente (2013-2017) se encontra "estável e permanecerá em observação" médica por várias horas no Hospital Naval do porto de Guayaquil, acrescentou.
Vinicio Tapia, um dos advogados de Glas, comentou à AFP que foi impedido de falar com seu cliente.
"Não temos notícias [de seu estado] a mais de 60 horas, desde o momento em que foi sequestrado na embaixada mexicana" afirmou.
A hospitalização de Glas ocorre enquanto as tensões entre o Equador e o México aumentam, com o avanço da preparação da demanda que será apresentada contra Quito perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ), órgão jurisdicional máximo da ONU. A queixa se concentrará no fato de que a intervenção policial não respeitou a "inviolabilidade" das sedes diplomáticas estabelecida pela Convenção de Viena de 1961, o que levou ao rompimento das relações diplomáticas entre os países e provocou forte reação da comunidade internacional.
A invasão, sem precedentes recentes no mundo, foi condenada por cerca de trinta países, incluindo o Brasil, além de sete organismos mundiais e regionais, como as Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos (OEA).
Um dos políticos mais poderosos do Equador, Glas foi vice do vice-presidente no governo do socialista Rafael Correa (2007-2017), exilado na Bélgica após ser condenado por corrupção. Ele se refugiou na embaixada do México em dezembro para evitar voltar à prisão – onde ficou por cinco anos, saindo em 2022, por suspeitas de corrupção no caso Odebrecht e acusações de que havia entregado o controle da mídia estatal a “representantes da mídia privada”.
A prisão desta sexta ocorre no âmbito de uma terceira investigação por um suposto crime de peculato, do qual é acusado de desviar fundos públicos que deveriam ter sido destinados à reconstrução das províncias de Manabí e Esmeraldas, afetadas pelo terremoto de 2016.
Glas foi detido dois dias depois do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, comparar a violência nas eleições equatorianas, que culminaram na morte do candidato Fernando Villavicencio às vésperas da eleição, ao contexto atual do México, que terá um pleito em junho.
A chanceler do Equador, Gabriela Sommerfeld, afirmou nesta segunda-feira que seu país recebeu "provocações" e "reiterados descumprimentos" em relação aos pedidos para entregar Glas. Segundo a ministra, o mais grave no impasse foi a declaração de López Obrador, na qual "questiona a legitimidade das últimas eleições" e "um luto nacional que ainda carregamos até hoje", referindo-se ao homicídio de Villavicencio, em agosto de 2023.
O presidente equatoriano, Daniel Noboa, se pronunciou pela primeira vez sobre o assunto nesta segunda-feira e defendeu sua decisão de intervir na embaixada mexicana argumentando que não podia correr o "risco de uma fuga iminente" de Glas. O Equador considera o asilo "ilegal" e contrário às normas internacionais, uma vez que o ex-vice está sendo processado por um crime comum.
"Ao povo irmão do México, quero expressar que sempre estarei disposto a resolver qualquer diferença, mas que a justiça não se negocia, e que nunca protegeremos criminosos", expressou em comunicado.
Por sua vez, López Obrador declarou, em coletiva nesta segunda, que a operação para prender Glas foi uma medida "autoritária" resultado de uma combinação de inexperiência, má assessoria e busca por apoio popular de seu homólogo equatoriano. O presidente mexicano acusa ainda Quito de violar o direito de asilo estabelecido na Convenção de Caracas de 1954.
"Quando há governos fracos, que não têm respaldo popular ou capacidade [...] fabricam candidatos [...] e quem não tem experiência chega [ao poder]" disse o presidente mexicano em Mazatlán, onde foi observar o eclipse solar.
Após a ruptura dos laços diplomáticos ordenada por López Obrador, os colaboradores da embaixada mexicana retornaram ao seu país no domingo.
O México, que por um século recebeu perseguidos políticos de diferentes países, só havia rompido relações com a Espanha de Francisco Franco, o Chile de Pinochet e a Nicarágua de Anastasio Somoza. Na esteira dos eventos, Bolívia e Nicarágua também romperam relações com o país.