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CONTEÚDO DE MARCA

Excelsior Seguros celebra talentos com o Prêmio Literário

A iniciativa levou os participantes a mergulharem no mundo literário para criarem suas próprias narrativas

Da esquerda para direita: Camila Wanderley Silva, Luane Brasil Ferraz e Leticia Victória Guedes HolandaDa esquerda para direita: Camila Wanderley Silva, Luane Brasil Ferraz e Leticia Victória Guedes Holanda - Foto: Excelsior Seguros

A Excelsior Seguros realizou a segunda edição do Prêmio Literário Excelsior, reforçando seu compromisso com a promoção da leitura, escrita criativa e disseminação do conhecimento. Este ano, os colaboradores foram convidados a explorar o universo das crônicas, um gênero que combina sensibilidade e reflexão sobre o cotidiano.

Com a Biblioteca Excelsior como principal fonte, a iniciativa levou os participantes a mergulharem no mundo literário para criarem suas próprias narrativas. Nas filiais sem acesso à biblioteca física, os colaboradores tiveram a liberdade de escolher obras literárias que pudessem estimular suas reflexões e enriquecer seus textos.

As crônicas enviadas passaram por uma avaliação cuidadosa realizada por uma comissão de voluntários internos, destacando o caráter colaborativo do projeto. O resultado foi um conjunto de histórias que não apenas refletem a criatividade dos participantes, mas também reforçam a conexão entre os colaboradores da Excelsior.

Agora, a Excelsior deseja compartilhar esse talento com todos os pernambucanos. Mais do que celebrar o talento interno, a empresa busca inspirar novos leitores e escritores, mostrando como a criatividade pode transformar histórias cotidianas em narrativas marcantes. A crônica vencedora traz como ponto de partida o texto clássico da autora britânica Virginia Woolf do livro Um Teto Todo Seu.

Foto: Excelsior Seguros

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Autora da Crônica: Luane Brasil Ferraz

Ao pôr do sol, ao fechar a porta, na quietude de um teto todo meu, sinto em mim toda a imprevisibilidade do sentir. É nesse momento que lembro de quem fui e de quem gostaria de ser, de forma que tudo aquilo que é inerente a mim, submerso pela adequação da rotina, vem à tona com o eventual ócio. 
Lembro-me dos sonhos que outrora foram motivo da minha constante inquietação. São nesses momentos, de recordação da busca incessante de um protagonismo que me fosse inerente, que vejo a transitoriedade da vida e da mesquinhez dos objetivos infundados pelo ego. Pelo rumo diverso de um caminho traçado, busco enxergar sentido na aleatoriedade do caos até então desconexo, entretanto, intrínseco a mim. 
Nascida e crescida na apatia do desquerer, percebo que buscar o afastamento de quem fui me é insuficiente. Redesenhar a vida a partir de um teto meu, traz consigo a desordem enquanto uma variável imutável, e é na inconstância do meu eu, que esqueço, na maior parte do tempo, o que faz com que sejamos o acaso de quem poderíamos vir a ser. 
Sempre que eu penso na vida, eu a enxergo como uma projeção, como se eu fosse somente uma observadora dos rumos que tomei. Para o teto que habito, busco continuar não sendo produto resultante dos cenários passados que me moldaram, tento manter a ordem dos lençóis enfileirados por cores, a louça limpa, a roupa do armário em categorias, e em qualquer descuido que mude a órbita, vejo motivo para frustração que não necessariamente diz respeito à moradia física. 
O pano de cama continua desalinhado; o conjunto de copo está em menor quantidade que originalmente; perdi para o cotidiano, pelo menos, 3 peças do conjunto de talheres. Sempre tem uma ausência, uma desordem e um descuido quando temos um teto para cuidar.
Nesse momento, buscamos sinônimos e antônimos de nós mesmos. Colocamos atenuantes e agravantes nas situações em que estamos inseridos. Tornamos a vida desconexa, desordenada e todas as outras palavras que acrescentem o prefixo, para justificar o acaso do que poderíamos vir a ser, conquistar e querer. 
Nesse momento, lembro que Virginia Woolf escreve: “por que, após tantas conquistas, ainda quero ser mais e melhor do que sou? E o que é ser melhor -além dos limites da imagem de uma outra atrelada a um eu que precisa sempre se convencer de si?” 
Ao sentir todas as emoções em conflitos, de forma que a palpitação de todas elas se transformam numa ansiedade já conhecida, faço com que as palavras preencham o vazio que o silêncio dos cômodos amplifica. Entendo, entretanto, que nomear o que sinto não é o suficiente para tornar o meu eu suportável. 
É natural que os questionamentos e a culpa surjam quando estamos em momentos decisivos, porém, sinto que eles estão sendo partes de mim em todos os contextos. Na escolha do detergente, ao comprar aquela barra de chocolate, na ausência de manutenção do chuveiro. As mínimas situações me colocam em posição de desconforto sobre quem sou. 
Suplico pelo descuido no caminhar, pela desconexão do cotidiano, pelo findar insustentável do vazio. Sentindo a arbitrariedade da vida não escolhida, seguindo em busca de um desvendar que me force a me encontrar. Busco as amenidades que transbordam e anseio por uma fenda no espaço-tempo que me mostre a euforia do descuido. Faço orações, súplicas e coloco a felicidade como uma promessa impensada. 
Na disposição das miudezas de casa, nas ruas movimentadas em que esqueço quem sou, nas pontes que me atravessam, sinto corroer o medo e a insensatez das minhas versões, sinto desmanchar as certezas que nunca foram fixas de fato. Encontro-me e me desfaço em poemas perdidos e completamente sem sentido, vejo um destino que não me cabe e deixo para trás o que foi um dia a minha melhor interpretação do mundo, das ruas, das pontes, do ser, do crescer, do entardecer, do amadurecer. 
Ao pôr do sol, ao fechar a porta, percebo que o teto que um dia foi sonho, hoje é reflexo de quem sou. Cada desordem e cada ausência é um lembrete da minha imperfeição e da inevitável transitoriedade de quem sou ou serei. Talvez nunca haja um momento em que tudo esteja completamente alinhado – nem os lençóis, nem os sonhos, nem os talheres – e, paradoxalmente, é nesse descuido que reside a minha essência. 
O teto que hoje é todo meu, guarda minhas contradições e incertezas, mas também é testemunha das pequenas conquistas que transbordam em mim, mesmo quando não as percebo, além de ser o acalento para a liberdade e paz que tanto busco. E assim, entre a inquietude do querer ser e a quietude do ser, sigo aprendendo que viver é permitir tropeçar nos próprios passos, aceitar os próprios descaminhos e, quem sabe, encontrar beleza na desordem que compõe o querer e o viver.

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