Exército de Israel avança entre ruínas em Gaza e Netanyahu descarta cessar-fogo
Primeiro-ministro israelense considera a ação equivalente a uma "rendição"
As tropas israelenses avançaram nesta terça-feira (31) com tanques e buldôzeres dentro da Faixa de Gaza entre os escombros dos edifícios bombardeados, ao mesmo tempo que prosseguem os combates com os milicianos do movimento palestino Hamas.
As imagens divulgadas pelo Exército israelense mostram os soldados avançando em um cenário de desolação, entre edifícios que foram reduzidos e pilhas de pedras e metal retorcido pelos incessantes bombardeios de represália efetuados por Israel desde o ataque do Hamas em 7 de outubro.
Israel afirmou que atacou 300 alvos na quarta noite de ofensivas terrestres em Gaza, em que suas tropas enfrentaram fogo antitanque e tiros dos combatentes do Hamas, que governa este território palestino desde 2007.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou na segunda-feira (30) os apelos internacionais por um cessar-fogo.
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Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, os bombardeios israelenses mataram 8.525 pessoas desde 7 de outubro, incluindo mais de 3.500 menores de idade.
Correspondentes da AFP em Gaza registraram imagens de palestinos escavando os escombros em uma tentativa desesperada de encontrar sobreviventes após os ataques, enquanto outros rezavam ao lado dos corpos dos mortos, protegidos por mortalhas brancas.
Netanyahu ignorou as pressões internacionais para um cessar-fogo por considerar que seria o equivalente a uma "rendição", depois que prometeu "aniquilar" o movimento palestino devido ao ataque de 7 de outubro em território israelense, que deixou 1.400 mortos, a maioria civis.
No ataque, o Hamas tomou 240 pessoas como reféns, segundo os números atualizados divulgados pelas autoridades israelenses.
A "nova fase" da guerra, anunciada por Israel no sábado, aumenta a preocupação com uma escalada regional do conflito.
O Exército israelense atacou a Síria e na fronteira com o Líbano aumentaram os confrontos com o grupo Hezbollah.
Os rebeldes huthis do Iêmen reivindicaram um ataque com drones contra Israel, enquanto as Forças de Defesa do Estado hebreu anunciaram que interceptaram um míssil lançado da região do Mar Vermelho.
"Uma questão de vida ou morte"
O sofrimento dos civis em Gaza provoca críticas e as agências humanitárias da ONU afirmam que o tempo está acabando para muitos dos 2,4 milhões de habitantes do território palestino que está sob um cerco total, sem acesso a fornecimento de água, alimentos, combustíveis e medicamentos.
A ONG Médicos do Mundo denunciou que os profissionais de saúde em Gaza precisam "operar no chão" e realizar cesáreas ou amputações "sem anestesia" por falta de material.
Rizeq Abu Rok, motorista de ambulância do Crescente Vermelho palestino, de 24 anos, contou à AFP que seu trabalho é transportar mortos e feridos, mas que recentemente um bombardeio atingiu um local em que sabia que estavam alguns parentes.
"Encontrei meu pai, estava com um ferimento na cabeça. Entendi imediatamente que estava morto", disse.
Israel acusa o Hamas de usar os hospitais como bases militares e os civis como "escudos humanos", o que o movimento islamista nega.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) fez um alerta sobre uma grave crise humanitária no sul de Gaza, onde afirma que não há ajuda suficiente para suprir as necessidades sem precedentes e que 36 caminhões com insumos aguardam para entrar no território.
O diretor da UBRWA, Philippe Lazzarini, afirmou que a entrega de ajuda "é uma questão de vida ou morte para milhões de pessoas.
O Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém culpou Israel por um bombardeio que atingiu um centro cultural da igreja em Gaza e considerou o ataque de "injustificável".
"Um inferno"
A incursão terrestre das tropas israelenses permitiu o resgate de Ori Megidish, uma soldado que havia sido sequestrada pelo Hamas. O Exército israelense celebrou a libertação na segunda-feira e afirmou que a militar apresentou informações de inteligência que poderão ser utilizadas em futuras operações.
Mas outras famílias vivem uma espera angustiante, sem notícias dos parentes.
Hadas Kalderon, de 56 anos, morava no kibutz israelense de Nir Oz, perto da fronteira com a Faixa de Gaza. Ela conta que durante o ataque 7 de outubro os milicianos do Hamas mataram sua mãe e sua sobrinha. Seu filho de 12 anos e a filha de 16 foram levados como reféns.
"Não tenho controle nem conhecimento sobre as ações militares. Sei apenas que meus filhos ainda estão lá no meio de uma guerra", lamenta. "É um desastre, um inferno. Não é possível expressar com palavras".
O Hamas divulgou um vídeo na segunda-feira que apresentou como os depoimentos de três reféns. Nas imagens, uma das mulheres sequestradas pede ao governo de Israel que aceite uma troca de prisioneiros para obter sua libertação. Netanyahu chamou o vídeo de "propaganda psicológica cruel".