Existem heróis?
Eu tenho um sobrinho-afilhado que tem certeza absoluta de que é o Homem-Aranha. Essa semana foi o aniversário de 5 anos dele, Bruninho, e imagina qual foi o tema da festa? Homem-Aranha, claro! Toda vez que estamos juntos eu faço a seguinte brincadeira: “quem está falando comigo é Bruninho ou Peter (Parker, personagem do herói)?”. Ele assume tanto esse personagem que já falamos com os pais dele sobre os cuidados que devem ter com essa personificação, afinal, existem momentos lúdicos perigosos.
Usei a história dele para ilustrar que a mente humana realiza através de personas, heróis, mitos (a polarização nos trouxe esse termo) - que tudo será resolvido através de uma “pessoa”. Herói, mito, não necessariamente tem a ver com ser líder, certo? Acho que os grandes líderes tiravam deles os holofotes e jogavam numa causa, numa solução para um problema, na esperança.
Eu imagino que o Homem-Aranha não resolveria os problemas sociais do Brasil. Você imagina ele como um prefeito, um governador, um presidente do Brasil? Não, né? Já somos maduros para a ilusão do super-herói. Mas, por que mesmo não crendo nessa fantasia, agimos como se acreditássemos? Delegamos nosso papel, e personalizamos os problemas nas soluções que vêm de uma pessoa.
Outro dia, nos corredores de um shopping em São Paulo fui abordado por um grupo de pessoas que falou: “Você é Fabio Silva? Parabéns pelo trabalho!”. E aí eles começaram a falar sobre o que fazemos no Transforma Brasil, dos milhares de voluntários do bem que promovemos. Mas aí fica a pergunta? Devemos alimentar essa cultura do herói ou chamar pra fazermos juntos.
Olhei pra ele e falei, “gratidão pelo seu carinho, mas você trabalha com o que?” Ele me disse que tem uma empresa de tecnologia e que gera 450 empregos. Então eu disse, “amigo! Parabéns! Você tem um grande projeto social: o emprego!”.
Poderia ter deixado ele me tratando como herói. Isso enche o ego mas, em compensação, cria uma cultura de que alguns estão fazendo e outros não! Uns são especiais e outros estão apenas tocando o dia a dia.
As soluções são coletivas. Todos crendo na sua missão, no propositivo que se conectam, aí sim! Modelos piramidais não fazem sentido para a escala e o que não for escalável não faz sentido para o social no nosso País. Não é inovação e não resolve a vida de quem mais precisa do Nordeste ao Centro Oeste.
Eu não sou um herói, não busco ser, sou de carne e osso. Sou pai, esposo, empreendedor, mas sou cidadão. Todos somos! Se ser cidadão for um valor individual mudamos o coletivo e não vamos precisar buscar heróis, mitos, personas. Torço por líderes que saibam do seu tamanho, da sua importância mas digam para os seus liderados: não é sobre mim, é sobre nós!
*Empreendedor social e idealizador da Casa Zero
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