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Guerra

Extrema direita de Israel faz conferência para defender emigração voluntária dos palestinos em Gaza

Autoridades internacionais e políticos israelenses condenaram o evento, que contou com a presença do ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir

Crianças palestinas deslocadas caminham em uma colina em frente ao seu acampamento improvisado em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, na fronteira com o Egito Crianças palestinas deslocadas caminham em uma colina em frente ao seu acampamento improvisado em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, na fronteira com o Egito  - Foto: AFP

Políticos israelenses e altos funcionários internacionais condenaram uma conferência da extrema direita em Jerusalém, na qual líderes da coalizão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pediram a "emigração voluntária" da população palestina na Faixa de Gaza para outro lugar. Intitulado "Conferência para a Vitória de Israel", o evento, que ocorreu no domingo, defendeu a ideia de que apenas o reassentamento israelense poderia garantir uma vitória na guerra contra o grupo terrorista Hamas, que já se estende por três meses.

De acordo com o jornal israelense Hareetz, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, reforçou tal posição, defendendo a execução de terroristas e incentivando a saída voluntária dos habitantes de Gaza para outros países como a "solução mais moral e lógica".

— Não vamos parar de repetir isso. A emigração voluntária [de palestinos de Gaza] é a ordem do momento — repetiu Ben-Gvir em uma reunião na Knesset, o Parlamento de Israel, na manhã desta segunda-feira. — Vamos estabelecer bases [militares], e na primeira etapa vamos incentivar a emigração. Centenas de milhares [de residentes] através de um plano piloto, e simplesmente os transferiremos para países mais seguros.

A conferência gerou uma onda de críticas por parte de figuras políticas israelenses e autoridades de países aliados de Israel, em um momento de pressão interna e externa para Netanyahu.

Segundo um relatório divulgado pelo site Axios nesta segunda-feira, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, declarou que não permitirá a reconstrução de assentamentos israelenses na Faixa de Gaza, contrariando as propostas feitas na véspera por Ben-Gvir.

Benny Gantz, membro do Gabinete de Guerra formado após os ataques de 7 de outubro, e Gadi Eisenkot, ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Israel, também condenaram a conferência, ressaltando que ela prejudicou tanto a sociedade israelense quanto a legitimidade do país no cenário internacional, além de questionar a estratégia adotada em meio ao conflito com o Hamas.

"Todos os que participaram ontem da conferência (...) não aprenderam absolutamente nada com os eventos do último ano, sobre a importância de agir de acordo com um amplo consenso nacional e em solidariedade com a sociedade israelense", escreveu Eisenkot no Facebook.

Por outro lado, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, defendeu uma abordagem mais dura de Israel, propondo uma lei militar para controlar a Faixa de Gaza e impedir que o Hamas reassuma o controle da região. Ele argumentou que essa medida é necessária para garantir a segurança de Israel e para conter as atividades do grupo fundamentalista islâmico palestino.

O líder da oposição Yair Lapid, por sua vez, criticou Netanyahu por permitir a participação de membros de sua coalizão na conferência, questionando sua capacidade de liderança diante da situação.

— [O silêncio de Netanyahu] diz uma coisa em voz alta: "deixe o país pegar fogo, o principal é que eu permaneça no poder" — disse Lapid no Parlamento.

Condenação internacional
Além das críticas internas, a comunidade internacional, incluindo a Palestina e países como Estados Unidos, França e Alemanha, também rejeitou as propostas discutidas na conferência, enfatizando que elas violam o direito internacional e podem piorar ainda mais o conflito na região já volátil.

"A reunião colonial em Jerusalém representa um desafio flagrante à decisão da Corte Internacional de Justiça, acompanhada de incitação pública ao deslocamento forçado dos palestinos", escreveu o Ministério das Relações Exteriores da Palestina no X (antigo Twitter).

Um porta-voz da Segurança Nacional dos EUA afirmou que Washington está preocupada com as declarações e reforçou que "não apoia a reocupação israelense de Gaza". O assunto tem sido um ponto sensível na relação bilateral entre EUA e Israel, aliados de longa data. "Estivemos claros, consistentes e inequívocos contra o realojamento forçado de palestinos fora de Gaza. Essa retórica é incendiária e irresponsável", disse o porta-voz em comunicado.

Já o embaixador da Alemanha em Israel, Steffan Seibert, também se manifestou na rede social: "O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha rejeita qualquer consideração sobre o reassentamento israelense de Gaza e a transferência da população palestina", acrescentando que tais considerações "agravam o conflito atual e violam o direito internacional".

Por sua vez, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da França disse que eles "esperam das autoridades israelenses uma denúncia clara dessas posições".

O Hamas também denunciou a conferência, acusando-a de "planejar crimes de deslocamento" e "limpeza étnica" contra os palestinos.

A guerra estourou em 7 de outubro com a incursão de comandos do Hamas que deixaram cerca de 1.140 mortos em Israel, em sua maioria civis. Cerca de 250 pessoas também foram sequestradas e levadas para Gaza. Segundo uma contagem, 132 permanecem cativas, das quais se estima que 28 morreram.

Em contrapartida, a ofensiva lançada por Israel em Gaza deixou, até agora, mais de 26 mil mortos, em sua maioria mulheres, crianças e menores, de acordo com o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas.

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