Logo Folha de Pernambuco

acidente aéreo

Fabricado pelos EUA, helicóptero que caiu com Ebrahim Raisi não tinha peças de reposição há décadas

Integrantes das forças iranianas precisavam usar engenharia reversa e peças chinesas para manter aeronaves fabricadas nos Estados Unidos voando

Decolagem do helicóptero antes do acidenteDecolagem do helicóptero antes do acidente - Foto: Ali Hamed HAGHDOUST/IRNA/AFP

A queda do helicóptero em que estava a bordo o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, neste domingo (19), levantou suspeitas sobre a idade do Bell 212 e as condições de manutenção da aeronave. O Modelo de asas rotativas foi fabricado pela empresa Bell, dos Estados Unidos, e a imprensa local especula que a aeronave não recebia peças sobressalentes para manutenção desde 1986.

Segundo um piloto de helicóptero da Força Aérea Brasileira ouvido pelo Globo, o país enfrentava condições precárias para manter as aeronaves com origem nos EUA, e precisavam usar engenharia reversa e peças chinesas para manter os helicópteros voando.

"O Irã pode ter adquirido peças originais no mercado paralelo, mas é muito mais provável que tenha comprado peças similares de mercados aliados como o chinês ou fabricado no próprio país, sem o controle de qualidade devido" afirmou a fonte.

Qual era o helicóptero do presidente do Irã?
O Bell 212 entrou em serviço em 1968, e na década seguinte o Irã comprou diversas unidades do equipamento, quando Mohammad Reza Pahlavi comandava o país e ainda tinha relações próximas com os Estados Unidos. Mas, a partir da Revolução Islâmica de 1979 — que derrubou a monarquia — e as sanções aplicadas pelos Estados Unidos, o país passou a enfrentar dificuldades para encontrar peças para helicópteros, caças e outros jatos com tecnologia dos EUA que ainda eram usados pelo Irã.

Algumas das aeronaves adquiridas no início da década de 1970, como os caças F-4 Phantom e F-14, são outros exemplos de modelos norte-americanos que ainda estão em serviço no Irã. Ao longo dos anos, a frota de máquinas fabricadas nos EUA foi diminuindo, enquanto o país criava estratégias para manter parte dos equipamentos.

Em 1986, teria ocorrido a última negociação secreta entre o Irã e os EUA, quando os países teriam trocado peças sobressalentes por reféns detidos por grupos apoiados pelo Irã no Líbano. Apesar disso, o país árabe passou a contar com uma rede de contrabandistas, especialistas para fazer engenharia reversa nas máquinas e cópias feitas por indústrias chinesas.

Polícia da Espanha impediu importação de helicópteros
Em 2011, a Polícia da Espanha impediu a importação e confiscou nove helicópteros de transporte Bell e peças sobressalentes, e prendeu cinco empresários espanhóis suspeitos de tentar exportar ilegalmente os materiais apreendidos para o Irã.

Na época, o então ministro do Interior espanhol Alfredo Perez Rubalcaba disse que os helicópteros eram destinados ao Irã, e que estavam armazenados em galpões industriais em Barcelona e Madrid, após serem comprados por Israel.

A exportação dos helicópteros e peças sobressalentes, avaliados em US$ 140 milhões há 13 anos, era proibida pelas União Europeia após as sanções estabelecidas pelos EUA.

Conheça o modelo
O Bell 212 é a versão civil do helicóptero militar "UH-1N", segundo a Força Aérea americana, conhecido como "Twin Huey" e fabricado entre 1968 e 1978. Os UH-1N, bimotores, atuaram na Guerra do Vietnã, assim como o seu antecessor UH-1 Huey, monomotor —e que aparece em filmes como "Apocalypse Now" (1979) e "Rambo 2" (1985)

A Bell Helicopter anuncia a versão mais recente, o Subaru Bell 412, para uso policial, transporte médico, transporte de tropas, indústria de energia e combate a incêndios. De acordo com os documentos de certificação de tipo da Agência de Segurança da Aviação da União Europeia, pode transportar 15 pessoas, incluindo a tripulação.

As organizações não militares que pilotam o Bell 212 incluem a Guarda Costeira do Japão; agências de aplicação da lei e bombeiros nos Estados Unidos; a polícia nacional da Tailândia; e muitos outros. Não está claro quantos governos do Irã operam, mas sua Força Aérea e Marinha têm um total de 10, de acordo com o diretório 2024 das Forças Aéreas Mundiais da FlightGlobal.

O acidente
O helicóptero que transportava o presidente caiu em uma parte remota do país, de acordo com a mídia estatal iraniana, e foi necessária uma grande operação de busca e resgate em meio ao mau tempo e neblina espessa.

Foram pelo menos 12 horas de trabalho para finalizar o resgate: condições climáticas desfavoráveis, incluindo uma neblina espessa, e previsões de "frio severo" e mais chuva, no entanto, dificultam os esforços na região.

Mais cedo, a agência de notícias oficial IRNA havia afirmado que a ocorrência seria um "pouso forçado", mas posteriormente uma autoridade reconheceu à agência Reuters que a vida de Raisi estava "em risco" após a "queda" em uma região de montanha perto da fronteira com o Azerbaijão.

Quem era Raisi
Acusado por muitos iranianos e ativistas de direitos humanos de ter um papel em execuções em massa de prisioneiros políticos nos anos de 1980, Raisi nasceu em 1960 em Mashhad — segunda maior cidade do Irã, na região nordeste, e lar do santuário xiita mais sagrado do país — e perdeu o pai, que era clérigo, quando tinha apenas cinco anos.

Aos 15, Raisi, seguiu os passos do genitor e entrou em um seminário na cidade sagrada de Qom. Enquanto era estudante, participou de protestos contra o Xá apoiado pelo Ocidente, que acabou por ser deposto em 1979 na Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, depois da qual ingressou no Judiciário e ascendeu cedo a cargos importantes enquanto era treinado pelo aiatolá Ali Khamenei, que se tornou presidente do Irã em 1981.

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter