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Tragédia em Olinda

Falta de moradia leva famílias a arriscarem a vida

A estimativa é que o déficit habitacional em Pernambuco seja de 320 mil imóveis

Camila Jerônimo conta que sabia dos problemas, mas não tinha para onde irCamila Jerônimo conta que sabia dos problemas, mas não tinha para onde ir - Foto: Vinicius Lucena/Folha de Pernambuco

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"Sabia dos problemas, mas não tinha pa­ra onde ir, pagar aluguel não dá. A gente tinha que ficar", disse a moradora do Edifício Leme, a autônoma Camila Jerônimo, de 33 anos. Ela morava com a filha de 4 anos e o companheiro, e percebia rachaduras no chão do apartamento interditado, sofria com as goteiras, mas não tinha condições financeiras de se mudar. Camila e os familiares deixaram o imóvel antes do desabamento parcial, porém sua história é um reflexo do déficit habitacional em Pernambuco, onde mais de 320 mil famílias sofrem com a falta de moradia. 

A Região Metropolitana do Recife (RMR) apresenta um panorama ainda mais precário comparado ao conjunto do Estado. O índice absoluto da RMR chega a 130.142 unidades habitacionais, o que equivale a um déficit relativo de 10,2%.  No que tange à distribuição desse déficit por situação de domicílio, praticamente a totalidade (97,82%) é localizado em áreas urbanas do Estado. Os dados são do estudo anual desenvolvido pela Fundação João Pinheiro (FJP) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), por meio do Programa Habitar/Brasil/BID.

Tipo de domicílio

Segundo a Fundação, o cálculo do déficit habitacional se dá por etapas, subdivididas para a aferição de cada componente e subcomponente. Entre alguns dos avaliados, incluem-se domicílios improvisados, rústicos (sem parede de alvenaria ou madeira) e do tipo cômodo. O ônus excessivo do aluguel tem sido um dos principais componentes dos números negativos. Soma-se a esse custo o desemprego, a informalidade do trabalho e os baixos salários. 

Para a diretora da organização Habitat para a Humanidade Brasil, Socorro Leite, existe uma falta de perspectiva que leva famílias a morar em áreas de risco como prédios interditados. “A pobreza aumentou, muitas pessoas não conseguem pagar mais aluguel e por isso ocupam lugares impróprios. Não há política habitacional para atender à população que mais precisa”, declarou. “Muitas pessoas pagam um aluguel maior que 30% de sua renda. Muitas não conseguem mais pagar e são despejadas ou saem para ocupar outros lugares”, declarou.

Políticas públicas

Já o Ministério Público de Pernambuco informou que a cidade de Olinda possui a maior densidade demográfica do Estado e a quinta do País - o que significa um reduzido espaço territorial para a demanda habitacional. O MPPE ressalta que, somado a isso, metade da população do município reside em áreas de morro com a possibilidade de deslizamento. Há ainda vários prédios do tipo caixão, desocupados e em situação de risco, que acabam sendo habitados por famílias que não têm outra opção de moradia.
O MPPE também chamou a atenção dos órgãos responsáveis pelas políticas públicas de habitação para resolver a problemática social.

“O Ministério Público tem atuado junto ao Município de Olinda, inclusive com expedição de Recomendação para a estruturação do Sistema Municipal de Habitação de Interesse Social, com a revisão do Plano Local de Habitação de Interesse Social, implementação do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social e respectivo Conselho Gestor”.

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