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Família de cinegrafista morto pede ajuda para encontrar novas testemunhas do crime

Thiago Motta, de 40 anos, foi baleado por um policial penal enquanto estava em um bar na Tijuca, Zona Norte do Rio. Ele morreu na hora. Um amigo da vítima segue internado em estado grave

Thiago Leonel Fernandes da Motta não resistiu aos disparos e morreu neste sábado Thiago Leonel Fernandes da Motta não resistiu aos disparos e morreu neste sábado  - Foto: Reprodução

A família do cinegrafista Thiago Motta, de 40 anos, morto em um bar após o jogo entre Fluminense e Flamengo, no último sábado, pede ajuda para encontrar novas testemunhas do crime. A vítima foi baleada pelo policial penal Marcelo de Lima, quando estava com amigos no entorno do Maracanã. O fotógrafo Bruno Tonini, de 38, que estava com Thiago, também foi ferido e está internado em estado grave.

O agente Marcelo de Lima, autor dos disparos, foi preso em flagrante e teve a prisão convertida em preventiva após a audiência de custódia. O caso foi distribuído para o Ministério Público na segunda-feira, para o oferecimento de denúncia.

Nas redes, parentes do cinegrafista divulgam um cartaz com os dizeres: 'justiça seja feita'. Quem se interessar em contribuir com as investigações, deve se direcionar ao gabinete do promotor de Justiça Fábio Vieira, no Centro, entre 13h30 e 17h30 dos dias 5 e 6 de abril.

"Ainda tentou atirar na cabeça"
Segundo uma testemunha que conversou com o GLOBO, o policial penal Marcelo de Lima, depois de matar Thiago, disparou contra Bruno, acertando-o no abdômen e no braço. Após, tentou disparar contra a cabeça do fotógrafo, mas o tiro pegou de raspão. Bruno teria levado, ao todo, quatro tiros e, com isso, perdido o rim esquerdo, um pedaço do intestino delgado, do intestino grosso e do fígado, além do baço.

O homem diz também que, apesar dos boatos de que a briga tenha começado devido a uma pizza, não acredita que esse tenha sido o motivo para o crime.

"Tinha uma terceira pessoa. Dava para ver que eles estavam discutindo ou falando mais alto, mas nenhum sinal de violência. Nada que preocupasse a ponto de falar “os caras vão brigar”. Nesse momento, nada me chamou a atenção" conta a testemunha, que completa:

"Logo depois, veio um cara (vestido) de preto, correndo, e deu dois tiros na barriga do Thiago. Ele, então, virou em direção a parte interna do bar, foi quando todos abaixaram. O Bruno (que estava ao lado do Thiago) correu para o outro lado da rua, foi quando o cara deu vários outros tiros em direção a ele."

A pessoa que atirou nos amigos foi o policial penal, que foi preso em flagrante. O outro homem apontado pela testemunha não foi identificado.

Entenda o caso
No sábado, por volta das 16h, Thiago passou na casa de um amigo, na Barra da Tijuca, num carro de aplicativo, para assistirem ao jogo no Maracanã. Os dois foram à pizzaria “Os Renatos”, na Rua Izidro de Figueiredo, e, segundo o depoimento desse amigo aos investigadores, eles beberam cervejas. Os dois foram para o estádio, onde se juntaram a Bruno.

O amigo das vítimas narrou ainda que tudo transcorreu normalmente até o término da partida. Em seguida, os três retornaram ao “Os Renatos” para comer pizza, como faziam sempre após os jogos. Ao GLOBO, o homem conta que, no estabelecimento, comprou o lanche e deixou a nota fiscal com os amigos que o acompanhavam, enquanto ele ia ao banheiro.

Em um período entre 5 e 8 minutos, no entanto, um homem não identificado começou uma discussão com Thiago e Bruno. A testemunha afirma que, quando saiu do banheiro, parou para conversar com um colega e viu que os amigos debatiam com uma terceira pessoa, mas que não aparentava que aquela situação avançaria para algum tipo de agressão.

Logo após, porém, o policial penal Marcelo de Lima chegou ao local, já atirando em Thiago. Segundo depoimentos de testemunhas à polícia, a confusão ocorreu às 22h52. Com os tiros, Bruno correu para o outro lado da rua, momento em que também virou alvo do agente.

"Acho que ele (o policial penal) tava procurando o outro cara que tava na discussão. Lembro claramente do Bruno correndo pro outro lado da rua. E aí, o cara deu muitos tiros na direção dele. Quando Bruno caiu, ele (policial) foi para cima e ainda tentou atirar na cabeça, mas errou. Fiquei em estado de choque até gritarem: “mataram o Thiago, mas o outro está vivo”. Foi quando fui para o outro lado da rua e pedimos ajuda de algum médico" explica.

No momento em que os torcedores foram baleados, outras pessoas que estavam no local entraram no bar e tentaram se abrigar. O homem conta que alguns chegaram a se jogar no chão com medo.

"Foi o pior fim de semana da minha vida. Eles foram baleados por um policial armado, mal preparado. Mais uma história triste e violenta da cidade do Rio de Janeiro" lamenta.

A Polícia Civil trabalha com a possibilidade de que a briga tenha começado devido a uma pizza, seja pela ordem dos pedidos ou pelo esgotamento do produto.

Prisão preventiva
Em audiência de custódia no domingo, o juiz Bruno Rodrigues Pinto, da Central de Audiências de Custódia, decidiu pela prisão preventiva do policial penal. O magistrado cita que, logo após os disparos, Marcelo tentou fugir do local, mas foi rendido em seguida por policiais militares.

“Tais circunstâncias revelam a personalidade extremamente violenta e desajustada do custodiado, demonstrando ser um risco à paz social”, disso o juiz ao converter a prisão em preventiva.

O policial penal será transferido do presídio Frederico Marques para a Cadeia Pública Constantino Cokotós, em Niterói, destinada a policiais civis e penais da ativa. Marcelo era do Grupamento de Intervenção Tática (GIT), unidade especial para atuar em rebeliões em presídios e fazer a escolta de presos perigosos. Ele trabalhava há 22 anos na Seap, sendo 18 no grupo de elite da secretaria.

Thiago era cinegrafista, fotógrafo e diretor de fotografia. Ele frequentava rodas de samba e foi um dos fundadores do Samba Pra Roda. O grupo cancelou a apresentação programada para este domingo.

Em nota, o Fluminense disse que “lamenta profundamente a morte de Thiago Leonel Fernandes da Motta e torce pela recuperação de Bruno Tonini Moura, ambos tricolores, vítimas de agressão em um bar próximo ao Maracanã, após o jogo de sábado”.

“Esperamos que os fatos sejam apurados com rigor e o responsável, punido. Toda a nossa solidariedade aos familiares e amigos das vítimas”, finalizou o clube.

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