REUNIÃO

Família de vítimas baleadas em Camaragibe rejeita programa de proteção do Governo de Pernambuco

Parentes se reuniram com representantes estaduais, na sede da Controladoria Geral do Estado

Familiares se reuniram na sede da Controladoria Geral do EstadoFamiliares se reuniram na sede da Controladoria Geral do Estado - Foto: Arthur Mota/ Folha de Pernambuco

Os familiares das vítimas baleadas em Camaragibe, na semana passada, durante ação policial, rejeitaram a proposta de cobertura por programa de proteção do Governo de Pernambuco, que culminava na transferência de todos para um local sigiloso enquanto dura o processo. Eles se reuniram na manhã desta quarta-feira (20), na sede da Secretaria da Controladoria Geral do Estado com o secretário-executivo de Direitos HumanosJayme Asfora, a advogada da família, Aline Maciel, a representante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Maria Júlia Leonel, e do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop). As tratativas duraram pouco mais de duas horas.

Outra pauta que seria requerida pela advogada Aline Maciel seria a transferência de Ana Letícia, de 18 anos, que está grávida de sete meses, e internada no Hospital da Restauração, para uma unidade particular, com o entendimento que ela teria segurança reforçada. Mas a própria família recuou e desistiu desse requerimento. A jovem de 18 anos foi atingida na cabeça após ser utilizada como escudo humano por Alex Silva, também conhecido como Alex Samurai.

O adolescente de 14 anos, que também foi baleado, recebeu alta médica  na terça-feira (19). Ele também foi feito de escudo humano e, posteriormente, atingido por um tiro na cabeça que, segundo a defesa da família, teria sido disparado por policiais militares quando ele já estava caído no chão.

De acordo com o secretário de Direitos Humanos do Estado, Jayme Asfora, a reunião foi proveitosa e todas as ações do Governo de Pernambuco sobre proteção foram apresentadas à família, que, neste primeiro momento, não optou por qualquer programa.

Secretário-executivo de Direitos Humanos do Estado, Jayme Asfora | Foto: Arthur Mota/ Folha de Pernambuco

"Explicamos, com a nossa equipe técnica, o que cada um possibilita para elas de equipamentos, de proteção, de segurança, de facilitadores, e colocamos também à disposição imediata deles o programa de acolhimento provisório, para que eles não fiquem desassistidos. Mas para isso, eles teriam que sair do local onde vivem. Inicialmente eles não querem. Pegaram o meu telefone do celular e já sabem o endereço da secretaria. Nós estamos à disposição da família para, assim que eles quiserem ingressar em algum programa de proteção, procedermos a isso", explicou o secretário.

Ainda sobre a questão da proteção da integridade física, a família pediu ao secretário a colocação de uma viatura da Polícia Militar no entorno de onde a família reside, no bairro de Tabatinga, para garantir a segurança, visto que eles têm uma tradição com quase 50 anos morando no mesmo lugar. O pedido será apresentado à Secretaria de Defesa Social.

"Eu vou falar com o Secretário de Defesa Social, que é quem compete cuidar da segurança e das Polícias Civil e Militar. Isso ficou também de ser formalizado pela advogada Aline Maciel. Ainda hoje ela ficou de formalizar esse requerimento pra mim, pra que eu possa encaminhar pro SDS", finalizou Asfora.

Existe uma articulação dos governos Estadual e Federal para programas de proteção exatamente em situações como essas. Para a representante da OAB, Maria Júlia Leonel, muitas vezes, as pessoas acabam não conhecendo, por não precisarem desse serviço.

Representante da OAB, Maria Júlia Leonel | Foto: Arthur Mota/ Folha de Pernambuco

"Na medida que elas precisam, é necessário que o Estado apresente todas as possibilidades para que elas se sintam à vontade de fazer a escolha ou não, já que são elas que estão em situação de vulnerabilidade", salientou.

Um dos advogados do caso, segundo Leonel, se retirou da questão após o recebimento de ligações suspeitas de alguém desconhecido afirmando ser da Polícia Federal, querendo saber onde ele estava. O profissional não teve o nome divulgado.

"Ele teve as razões dele para sair do caso, mas uma coisa que não se deve deixar de levar em consideração foi ele ter sido ameaçado, no sentido de terem feito investidas com o objetivo de intimidá-lo. Mentiram dizendo que era da Polícia Federal, o que claramente a gente sabe que não era a PF que estava entrando em contato", acrescentou.

Embora haja o não interesse na proposta do Governo, a família acredita, segundo a advogada Aline Maciel, no poder que a gestão local tem em cuidar das pessoas e confia no trabalho da Polícia Militar, que, segundo ela, não é representada pelas pessoas que cometeram a chacina em Camaragibe.

Advogada Aline Maciel | Foto: Arthur Mota/ Folha de Pernambuco

"Todos os programas de proteção tiram a família do seu seio e escondem a família, inclusive do advogado constituído, que não pode ter acesso a essa situação. A gente precisa sentar e conversar com a Secretaria de Defesa Social sobre colocar viaturas ali [próximo à casa dos familiares], caracterizadas, com policiais identificados para fazer a segurança deles. Os próximos passos jurídicos serão protocolar todos os ofícios nas secretarias pertinentes aos pleitos", reforça.

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