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GUERRILHAS

Farc recrutaram mais de 18 mil crianças, diz tribunal colombiano

Guerrilha colombiana foi dissolvida em 2016, após acordo de paz

Presidente da corte colombiana Eduardo Cifuentes MunozPresidente da corte colombiana Eduardo Cifuentes Munoz - Foto: Juan BARRETO / AFP

Ao menos 18.667 crianças foram forçadas a se juntar a agora desmobilizada guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), tendo sido sujeitas ao longo de duas décadas a abusos e tratamento considerados crimes de guerra, afirmou nesta terça-feira (10), a Jurisdição Especial para a Paz, que julga crimes hediondos no país.

A corte irá investigar o grupo, dissolvido após assinar um acordo de paz em 2016, pelo recrutamento. "Instrumentalizar meninos e meninas no conflito causou dor à sociedade colombiana", disse o presidente da corte, Eduardo Cifuentes.


Os números foram extraídos por meio da análise de 31 base de dados compiladas por grupos de vítimas e pelo Estado, bem como a partir de testemunhos de 274 pessoas recrutadas à força, explicou Lily Rueda, juíza que lidera o caso na JEP.

Segundo o tribunal, pelo menos 5.691 dos casos correspondem a menores de 14 anos de idade, o que viola as regras do Direito Internacional Humanitário (DIH). "As Farc recrutaram e utilizaram, sistematicamente, para o desenvolvimento do conflito armado, meninos e meninas desta faixa etária, contrariando suas próprias disposições", afirmou a JEP em comunicado.

A investigação irá ouvir 26 ex-combatentes da guerrilha convocados para prestar depoimento e priorizará os eventos ocorridos de 1996 a 2006, período que responde pela maioria dos casos. O tribunal irá apurar ainda violências sexuais e baseadas em gênero, sequestros, assassinatos, tortura e tratamento cruel e degradante. Segundo a corte, vários foram submetidos a "abortos forçados" e "junção carnal violenta".
 


Os números apresentados pela corte estão bem acima daqueles divulgados anteriormente pelo governo. As estimativas eram de 7.400 menores recrutados entre 1985 e 2020, enquanto 16 mil morreram durante o conflito.
Criada no acordo de paz das Farc com o governo colombiano, a JEP acusou em janeiro oito comandantes do alto escalão da guerrilha pelo sequestro de 21.396 pessoas entre 1990 e 2016. Os ex-guerrilheiros assumiram a culpa e aguardam sentença –quem assume responsabilidade e repara as vítimas recebe a oferta de penas alternativas.
Dezenas de ex-militares também foram acusados pela execução de 6.400 civis pelo Exército e apresentados como vítimas de combate em troca de benefícios, no escândalo conhecido como "falsos positivos".

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