Fenômeno 'U' da felicidade: saiba em que idade ocorre o pico de bem-estar, segundo a ciência
Pesquisadores analisaram estilo de vida de mais de 10 mil americanos e ingleses
“A humanidade está errada em temer o envelhecimento”, disse Maurice Chevalier (1888-1971), famoso intérprete de filmes musicais das décadas de 1920 e 1930 e figura emblemática da cultura francesa do século XX. Na ocasião, ele falava sobre a estigmatização em relação à passagem do tempo — e agora, seu entendimento também tem respaldo científico.
Pesquisas indicam que a satisfação com a vida tende a começar alta, mas diminui até atingir um de seus níveis mais baixos na meia-idade. No entanto, com a chegada da terceira idade, sensações prazerosas como a alegria e o contentamento voltam a subir. É o que conclui uma pesquisa da Universidade de Warwick, no Reino Unido.
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Para chegar a esta hipótese, os pesquisadores analisaram o estilo de vida de mais de 10 mil cidadãos americanos e ingleses, e estudaram variáveis como percepção geral de saúde, dor, bem-estar ou saúde mental. Eles concluíram que, apesar do declínio físico — na maioria dos casos —, as pessoas se sentem mais felizes à medida que envelhecem.
“Inferimos que isso pode ser devido ao fato de que os idosos têm melhores habilidades para lidar com as dificuldades ou circunstâncias negativas da vida em comparação com pessoas mais jovens”, diz a pesquisa, que não é a única. Em 2010, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos realizou um estudo com 341 mil pessoas.
Ao analisar as respostas dos participantes, os acadêmicos concordaram que o aproveitamento da vida diminui a partir dos 30 anos, atinge seu pior estado aos 45 e, só a partir desta idade começa a subir novamente, atingindo o ponto mais alto aos 85 anos. Para o médico Daniel López Rossetti, é importante distinguir felicidade de alegria: “A felicidade não é uma emoção, é um estado de espírito”.
O Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS) do Reino Unido conduziu uma pesquisa semelhante às anteriores, e concluiu que o estado de bem-estar ao longo da vida pode ser representado como uma letra “U”. Isso porque há picos de felicidade e satisfação durante a infância, juventude e após os 50 anos. Em contraste, é na fase da meia-idade que ocorrem os “piores anos” e se é menos feliz.
— Este estudo mostra que, à medida que você envelhece, se decepciona. Situações angustiantes surgem, como ser demitido do trabalho, se separar, passar por um momento difícil financeiramente. Além de outros fatores associados ao prolongamento do desconforto — destacou Rosetti.
Dessa maneira, de acordo com a análise de várias instituições, é somente a partir dos 50 anos que o “U” atinge seu segundo pico de felicidade. Como indicou o especialista, isso ocorre porque é nesta idade que as pessoas costumam começar a desfrutar dos resultados de tudo o que fizeram nos últimos 30 anos de suas vidas. Ao mesmo tempo, ainda aproveitam de sua boa saúde física e mental.
— A felicidade não apenas faz as pessoas se sentirem alegres. Ela também as torna mais saudáveis — disse o psiquiatra John Weinmann, do King’s College London. Ele é responsável por estudar como os níveis de estresse impactam o processo de cicatrização de feridas. Ele descobriu que os menos estressados tiveram machucados cicatrizados mais rapidamente.
Crise da meia-idade
No que diz respeito ao período da meia-idade, no qual os estados de ânimo mais baixos tendem a surgir, Gail Sheehy, autora do livro best-seller “Passagens”, destaca que por volta dos 40 anos, tanto homens quanto mulheres tendem a ter uma crise devido ao envelhecimento e à sensação de falta de tempo para alcançar seus objetivos.
— Este estágio de desconforto é esperado na maioria das pessoas, e é preciso entender que não é uma condição que leve a um distúrbio psicológico como depressão ou ansiedade — ressaltou o psicólogo Gonzalo Udaquiola. — São períodos de mudanças esperados e que para alguns podem ser vistos como oportunidades — acrescentou ele.
Rosetti enfatizou que, hoje em dia, a maioria dos adultos se estressa por motivos que estão distantes de sua realidade iminente: situações que não são verdadeiras, fatos que têm a ver com a imaginação ou problemas que são menores do que se pensa. Para ele, “é preciso se sentar, analisar e separar a fantasia da realidade ao avaliar uma situação”.