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ARGENTINA

"Festa da fé": vice-governadora usou R$ 190 mil do Legislativo para evento com pastora na Argentina

Gloria Ruiz está afastada do cargo, na província de Neuquén, por suposto ato de corrupção; pastora contratada, Rosário Leda Bergonzi foi visitada pela mãe de Messi

'Festa da fé': vice-governadora usou R$ 190 mil do Legislativo para contratação de pastora na Argentina 'Festa da fé': vice-governadora usou R$ 190 mil do Legislativo para contratação de pastora na Argentina  - Foto: Reprodução

A vice-governadora da província argentina de Neuquén, Gloria Ruiz, suspensa do cargo por suposto ato de corrupção, se envolveu em uma nova polêmica. A Assembleia Legislativa provincial, ainda sob a sua presidência, realizou um gasto de mais de 32 milhões de pesos (cerca de R$ 190 mil) na contratação da pastora Rosário Leda Bergonzi para um evento, conforme confirmado por fontes legislativas ao La Nacion.

A jornada de evangelização, chamada “festa da fé”, aconteceu em 24 de agosto, no estádio Ruca Che, na capital da província de Neuquén. Segundo o jornal local La Mañana, houve uma forte campanha de anúncio para ver Leda. Os ingressos, gratuitos, esgotaram em apenas 40 minutos, e mais de 5 mil pessoas compareceram.

 

O evento foi organizado pela Diocese de Neuquén, e as autoridades da Igreja Católica local destacaram na época o forte apoio da comunidade. Celeste Herrera, representante do bispado local, afirmou que a igreja se encontrava em um momento de “evangelização e, portanto, de fé”. “Lá, Leda nos acompanha”, explicou.

A pastora Leda tem uma reputação controversa: começou sua carreira há uma década "impondo as mãos" a ponto de viajar pelo país com seu "dom", mas depois a igreja de sua cidade a afastou, seu ex-produtor a denunciou por fraude e ela tem fortes acusações de irregularidades financeiras. Leda recebe doações e dinheiro através das arrecadações que realiza, mas, mesmo assim, sua fundação não está ativa e, em diálogo com o La Nacion, ela expôs contradições sobre a administração desses fundos.

Vice-governadora suspeita
A administração de Gloria Ruiz entrou em crise no final de novembro, quando o Ministério Público Fiscal (MPF) ordenou uma inspeção no Legislativo provincial, no complexo cultural Casa de las Leyes e na casa de Pablo Ruiz, irmão da vice-governadora, que havia transferido quase 30 milhões de pesos (cerca de R$ 178 mil) das contas do Poder Legislativo para sua conta bancária pessoal. Ele havia sido nomeado por Gloria como coordenador do complexo cultural.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Após o fato, na semana seguinte, os deputados do Legislativo decidiram afastar preventivamente a vice-governadora do cargo por incapacidade moral. O projeto teve 29 votos a favor e 5 abstenções. Também suspenderam os contratos irregulares. Antes da votação nominal, Gloria garantiu que a medida era “inconstitucional” e que é vítima de perseguição política. Este último, principalmente por ser “um incômodo” para Rolando Figueroa, governador e seu companheiro de chapa.

Desde então, uma comissão investigativa formada por legisladores se encarrega de analisar os gastos realizados durante a gestão de Gloria. A vice-governadora disse que levará à Justiça as ações dos deputados pela suposta falta de provas formais.

A contratação de Leda aumenta agora as suspeitas de corrupção contra Gloria. Segundo fontes do Legislativo, o gasto total foi de 32.215.238 milhões de pesos. Quase 10 milhões foram alocados ao Bispado de Neuquén; 12.045.000 para o cenário do evento — som, iluminação, tela, palco, grades, cadeiras, técnica e equipamentos —; 542.298 para 71 funcionários do Sistema Integrado de Emergências de Neuquén (SIEN); e 4.612.940 para passagens para Leda e sua comitiva viajarem para lá.

A comitiva de Leda garantiu que parte dos fundos foi para o Bispado e que o pastora não recebeu nenhum dinheiro para o evento. “Ela viajou para participar do evento. Não recebeu nada em troca”, explicou seu advogado Fernando Burlando ao La Nacion, que também esclareceu que iniciará ações judiciais contra vários meios de comunicação locais. O advogado terá como alvo especialmente aqueles que alegaram que Leda recebeu dinheiro da Assembleia Legislativa de Neuquén.

Nesta sexta-feira, a comissão de inquérito se reunirá para analisar os relatórios que mostram as despesas efetuadas pelo Legislativo provincial e pelo complexo cultural, além dos contratos que foram feitos sob a gestão de Gloria.

Quem é Leda Bergonzi
A pastora iniciou seu relacionamento com a Igreja em 2014, quando revelou seu "dom" e recebeu os carismas de "libertação" e "cura". Lá, ela criou um grupo espiritual chamado "Sopro de Deus Vivo", que a acompanha até hoje. Sua fama cresceu pouco a pouco. No início, organizou pequenas cerimônias em paróquias, mas, depois de o seu caso ter sido divulgado nos meios de comunicação locais e ter recebido visitas de figuras conhecidas como a mãe de Lionel Messi, chegou à Catedral do Rosário.

Leda tornou-se um fenômeno na cidade, e recebeu visitas de pessoas que viajaram de diversas partes do país para receber sua bênção. Mesmo assim, a relação com o Arcebispado local tornou-se cada vez mais tensa, até que a imposição de mãos foi removida, algo que a Igreja dizia ser permitido apenas aos apóstolos. Desde então, ela recebeu uma denúncia de fraude do seu antigo produtor, outra da deputada provincial Amalia Granata por receber dinheiro da administração provincial para os seus espetáculos e da ONG anti-seitas "Libre Mentes" por alegado recrutamento de pessoas vulneráveis através da seu suposto poder de cura.

No momento, Leda não realiza mais eventos em nome do Arcebispado de Rosário, mas pode fazê-lo com igrejas de outras províncias, como aconteceu em Neuquén. Além disso, faz shows por todo o país onde canta canções religiosas de sua autoria.

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