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CIÊNCIA

Ficção científica? Bactérias "treinadas" poderão caçar câncer no corpo, mostra novo experimento

Em testes com animais, microrganismos projetadas para reconhecer células cancerígenas de difícil alcance acertaram em 100% dos casos

A bactéria Acinetobacter baylyi (verde) envolve aglomerados de células de câncer colorretalA bactéria Acinetobacter baylyi (verde) envolve aglomerados de células de câncer colorretal - Foto: Josephine Wright

No futuro, bactérias poderão ser “treinadas” para diagnosticar cânceres em locais de difícil acesso. É o que espera um time internacional de cientistas da Austrália e dos Estados Unidos, que programam microrganismos para serem capazes de identificar células cancerígenas no corpo de forma simples e rápida.

Conduzido por pesquisadores da Universidade de Adelaide e da Universidade da Califórnia de San Diego, o primeiro experimento com a técnica teve resultados positivos, levando a um acerto na detecção do câncer em 100% dos casos avaliados. O trabalho foi publicado na prestigiosa revista científica Science.

Para desenvolver a técnica, os responsáveis utilizaram uma bactéria chamada Acinetobacter baylyi (A. baylyi), conhecida pela habilidade natural de coletar amostras do ambiente e integrá-las ao seu DNA.

Por meio de engenharia genética, eles programaram esse microrganismo para detectar o gene KRAS mutado, uma molécula liberada por grande parte dos casos de câncer colorretal, assim como por outros como pulmão e pâncreas.

Eles deram instruções para, quando isso acontecesse, as bactérias ativarem um mecanismo interno de resistência a um determinado antibiótico. Com isso, após administrá-las a camundongos, os cientistas coletaram amostras do microrganismo nas fezes e as analisaram em um local com o medicamento.

“Foi incrível quando vi no microscópio a bactéria que havia captado o DNA do tumor. Os camundongos com tumores desenvolveram colônias bacterianas verdes que adquiriram a capacidade de crescer em placas de antibióticos”, explica Josephine Wright, pesquisadora da Universidade de Adelaide que participou do estudo, em comunicado.

De forma resumida, as bactérias “treinadas” adquiriram uma resistência se encontrassem os genes que sinalizam o câncer. Isso permitiu aos pesquisadores confirmarem a presença do tumor após analisar a resposta dos microrganismos aos antibióticos.

O estudo foi pequeno, mas a taxa de acerto foi 100%: as bactérias sinalizaram de forma correta todos os camundongos que de fato tinham um modelo de câncer colorretal. A técnica recebeu o nome de “CATCH”, verbo em inglês que pode ser traduzido para “pegar” ou “capturar”.

“O CATCH tem o potencial de detectar o câncer colorretal precocemente com o objetivo de evitar que mais pessoas morram deste e de outros tipos de câncer”, afirma a também professora da universidade australiana que participou do trabalho, Susan Woods.

O experimento, porém, foi ainda no estágio chamado de pesquisa pré-clínica, com animais em laboratório. Agora, é preciso avançar para entrar na etapa dos testes clínicos, que envolvem humanos e avaliam a segurança e a eficácia da técnica. Embora distante, a expectativa é alta.

“Quando começamos este projeto há quatro anos, não tínhamos certeza se usar bactérias como um sensor para o DNA de mamíferos era sequer possível. A detecção de cânceres gastrointestinais e lesões pré-cancerosas é uma oportunidade clínica atraente para aplicar esta invenção”, diz Jeff Hasty, professor da Escola de Ciências Biológicas da UC San Diego, e um dos autores do estudo.

Além disso, ainda que esteja longe do dia a dia, o CATCH simboliza uma nova forma de detecção de doenças que pode, no futuro, ir muito além do câncer. É o que diz Dan Worthley, da Universidade de Adelaide, que também liderou o experimento.

"No futuro, detectaremos e preveniremos muitas doenças, incluindo câncer de intestino, com células, não com drogas”, afirma.

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