Filhas de Malcolm X processam FBI, CIA e Polícia de NY por responsabilidade na morte do ativista
Ação judicial movida no tribunal federal de Manhattan acusa as forças de segurança de falhar intencionalmente em proteger Malcolm X e dificultar os esforços para identificar seus assassinos
Quase 60 anos após o assassinato de Malcolm X no Audubon Ballroom, em Manhattan, sua família entrou com um processo federal na sexta-feira, alegando que o Departamento de Polícia de Nova York (NYPD), a CIA e o FBI tiveram um papel em sua morte.
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A ação, apresentada em Manhattan, afirma que as agências sabiam das ameaças contra o líder dos direitos civis, mas "falharam em intervir em seu favor".
Alega ainda que elas "intencionalmente retiraram seus agentes de dentro do salão" antes do tiroteio, deixando-o ainda mais vulnerável ao prender sua equipe de segurança dias antes do evento.
A família também alega que as agências participaram de "ocultação fraudulenta e encobrimento" após a morte de Malcolm X, retendo informações de sua família e dificultando os esforços para identificar seus assassinos.
Três homens foram presos e condenados pelo assassinato. No entanto, após passarem mais de 20 anos na prisão, dois deles — Muhammad A. Aziz e Khalil Islam — foram exonerados. (O terceiro, Thomas Hagan, foi libertado em liberdade condicional em 2010).
— Levou muito tempo para chegarmos a este ponto — disse Ilyasah Shabazz, terceira filha mais velha de Malcolm X, durante uma coletiva de imprensa na sexta-feira para anunciar o processo.
Shabazz afirmou que ela e suas irmãs eram gratas pela ajuda de uma equipe jurídica liderada por Ben Crump, conhecido por representar famílias de pessoas negras mortas por forças de segurança, “enquanto buscamos justiça pelo assassinato de nosso pai e para que a verdade seja registrada na história”.
O processo busca “mais de US$ 100 milhões” em indenizações.
O Departamento de Polícia e o FBI se recusaram a comentar no sábado. O escritório de imprensa da CIA não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Nascido em Nebraska, em 1925, Malcolm X ganhou destaque na Nação do Islã, grupo nacionalista negro, tornando-se um líder controverso, mas eloquente e persuasivo.
Um ano antes de seu assassinato, ele deixou a Nação do Islã e fundou a Organização da Unidade Afro-Americana. Em 21 de fevereiro de 1965, enquanto iniciava um discurso em Washington Heights sobre o novo grupo, três homens armados invadiram o palco e atiraram nele na frente de sua esposa grávida e três de suas filhas. Ele tinha 39 anos.
Por décadas, historiadores questionaram as versões oficiais e a culpa de Aziz e Islam. Uma investigação conjunta do gabinete do promotor distrital de Manhattan e advogados dos dois homens revelou, em 2021, que promotores, a polícia e o FBI haviam ocultado provas cruciais na época. Também ficou evidente que as autoridades sabiam que a Nação do Islã estava mirando Malcolm X.
Dias antes de Malcolm X ser assassinado, sua família havia escapado de um ataque com bomba incendiária em sua casa no Queens. Uma bomba foi lançada no berçário onde estavam suas quatro filhas pequenas, disse Shabazz na sexta-feira.
Anthony V. Bouza, um detetive policial que trabalhou na investigação original do assassinato, escreveu em 2011 que ela havia sido "mal conduzida".
Bouza, cujo espólio é citado como réu no processo, escreveu que uma "tragédia paralela reside na óbvia resistência do NYPD em liberar registros que poderiam ajudar a nossa compreensão".
As ações e omissões das agências de segurança criaram as condições que permitiram que os assassinos de Malcolm X agissem, afirma o processo.
“Por décadas, a esposa de Malcolm X, Betty Shabazz, os autores da ação e toda a sua família sofreram com a dor do desconhecido”, diz o processo. “Eles não sabiam quem assassinou Malcolm X, por que ele foi assassinado, o nível de envolvimento do NYPD, FBI e CIA, a identidade dos agentes governamentais que conspiraram para garantir sua morte ou quem encobriu fraudulentamente seu papel”.