Fim do uso obrigatório de máscaras em lugares fechados do RJ divide especialistas em saúde
Rio de Janeiro segue discutindo sobre uso de máscaras em lugares fechados, que deixou de ser obrigatório
Para a pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo, a despeito de uma boa taxa de vacinação, a utilização de máscaras em ambientes fechados ainda se impõe. O professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Mário Dal Poz considera equivocada a liberação as máscaras, por não levar em consideração a complexidade que é a saúde pública.
Já o médico Fábio Leal, representante do Instituto Nacional do Câncer (Inca) no Comitê Especial de Enfrentamento à Covid-19, da prefeitura, assegura que os parâmetros epidemiológicos demonstram que a transmissão do vírus da Covid-19 não está ocorrendo em níveis que coloquem a saúde pública em risco.
Na defesa de sua posição, Margareth Dalcolmo adverte que ainda não é possível mensurar se houve um eventual aumento de casos de Covid em decorrência dos dias de carnaval. O que, segundo ela, poderá ser identificado até o início da próxima semana. A cientista da Fiocruz não vê problemas em deixar de usar máscaras em ambientes abertos. Mas a proteção, avalia ela, ainda não pode ser abolida em áreas fechadas:
"Está demonstrado, de maneira consistente, que a transmissão da doença é ambiental. De modo que considero que em transporte coletivo, aviões e locais fechados em geral o uso de máscaras ainda é absolutamente recomendável."
Dal Poz entende que a Secretaria estadual de Saúde se eximiu de coordenar a Vigilância Sanitária, ao repassar para cada município a decisão de manter a exigência do uso de máscaras.
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"O órgão criou um problema em vez que assumir a sua responsabilidade de coordenação e liderança na política de saúde do estado", diz ele "O estado lavou as mãos e criou um problema, como se cada município tivesse muros. Não vivemos em cidades muradas, como no passado."
O especialista chama a atenção ainda para a decisão tomada pela prefeitura do Rio. Ele lembra que a pandemia não acabou e que não foram levadas em conta diversas situações. Para ele, a retirada das máscaras teria que ser gradativa:
"Pelo menos três setores deveriam continuar a usar máscaras neste momento: hospitais e clínicas, onde há circulação de pacientes suspeitos de estarem com Covid; casas de repouso, por causa dos idosos; e o transporte público. Basta um espirro num ônibus para contaminar todos os passageiros."
Dal Poz destaca também um terceiro aspecto: a transferência para as pessoas de uma decisão que é do estado:
"As pessoas não são especialistas para tomar uma decisão, que compete ao poder público. É injusto e pesado para as pessoas. Estamos falando de saúde pública. Sem falar que as máscaras foram abolidas sem qualquer campanha de esclarecimento. Há muitos ambientes, como a rua e a praia, que se pode tirar as máscaras, mas em locais fechados, não."
Fábio Leal, no entanto, afirma que os embasamentos objetivos precisam prevalecer em relação às opiniões pessoais:
"A gente perdeu um pouco da lucidez nessa discussão. Qual o objetivo de usar mascara de modo obrigatório e coletivo? A gente ter mais uma medida para impedir a transmissão exacerbada do vírus. Ela só faz sentido se tivermos parâmetros que demonstrem que está ocorrendo a transmissão do vírus em níveis que coloquem a saúde pública em risco. A partir do momento que temos parâmetros que, claramente, demonstrem que não temos uma saúde epidemiológica em risco, a utilização obrigatória de máscaras passa a ser desnecessária. É assim que o mundo tem funcionado."
Leal cita que, no Rio, que na última semana, os parâmetros (novos casos e internações) estão dez vezes abaixo do limiar considerado baixo risco de impacto da Covid na saúde pública e nos sistemas de saúde: "Ou seja, neste momento, os parâmetros indicam a possibilidade de flexibilização das máscaras dentro de sua função original: como equipamento de proteção individual."
O médico discorda de Dal Poz, afirmando que o número de internados com Covid hoje não justifica falar em questão de saúde pública, mas de cuidado pessoal.
"A máscara deixou de ser obrigatória. Mas o seu uso como um equipamento de proteção individual continua. O que acontece, agora, é que, em determinadas situações e de acordo com a situação de cada pessoa, recomenda-se ou não utilizar a máscara. Se é uma pessoa que tem problemas respiratórios ou tem uma vulnerabilidade maior para infecções, por exemplo, para a segurança dela individual, recomenda-se que use a máscara", afirma Leal, acrescentando que, assim como a obrigatoriedade foi relaxada, pode se revista se os parâmetros mudarem.