Fiocruz lança projeto inédito com inteligência artificial para alertar sobre doenças infecções
Plataforma vai unir dados de atendimentos em unidades básicas de saúde, venda de remédios e características climáticas e demográficas
Pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs/Fiocruz BA) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançam nesta terça (13) o Projeto AESOP – Sistema de Alerta Precoce para Surtos com Potencial Epi-Pandêmico.
A inovação está em desenvolvimento e visa a sinalizar, logo no início, novos surtos de doenças com potencial para causar emergências de saúde. O projeto tem o apoio do Ministério da Saúde, da Fundação Rockefeller e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e será apresentado durante a 6ª Conferência Global de Ciência, Tecnologia e Inovação (G-Stic), no Rio de Janeiro.
Por meio de inteligência artificial e técnicas de aprendizado de máquina, a plataforma AESOP permitirá que cientistas da saúde rastreiem surtos em estágio inicial, integrando dados coletados do Sistema Único de Saúde (SUS) com outras fontes de dados de saúde, ambientais e sociodemográficos. Levando em consideração variáveis como condições climáticas e densidade populacional, por exemplo, os pesquisadores poderão identificar precocemente uma área com grande risco de surto de dengue.
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Este projeto ganha relevância e notoriedade num cenário de grande potencial de surgimento de novas doenças infecciosas devido às mudanças climáticas, crescimento populacional e migração.
— A ideia é que a gente tenha uma detecção bem rápida do surto, baseada em dados da atenção primária e integrando várias outras informações, como vendas de medicamento. A partir dessa detecção, sabendo onde está o início do surto, vamos caracterizar o patógeno. E, em paralelo, modelar qual é a possibilidade daquele surto que está iniciando naquele local se espalhar, quão intenso ele pode ser, e como ele se espalharia. Essas informações serão usadas para orientar as ações das autoridades de saúde local — explica Manoel Barral-Netto, pesquisador da Fiocruz e coordenador do projeto.
No G-Stic, haverá uma demonstração da capacidade de vigilância do projeto AESOP com a dengue. Segundo disse Kay van der Horst, diretor administrativo da Iniciativa de Saúde da Fundação Rockefeller, o projeto será implementado, inicialmente, nas 26 capitais estaduais e no Distrito Federal. Eles esperam que, em 3 anos, o sistema possa funcionar em todos os municípios brasileiros.
Horst enumerou os motivos que levaram a Fundação Rockefeller a apoiar o desenvolvimento do projeto no Brasil.
— A Fiocruz tem o conhecimento computacional e de modelagem necessário para realmente reunir esses diversos conjuntos de dados, não são apenas dados de vigilância em saúde, mas também de mudanças climáticas, de desmatamento, de movimentação de pessoas. O segundo fator é que o Brasil tem um sistema de saúde universal, qualquer pessoa pode ir a uma unidade de Atenção Básica à Saúde e receber atendimento gratuito. Isso nos gera uma coorte de mais de 100 milhões de pessoas, ou seja, um tamanho enorme de dados. E, finalmente, o Brasil é um dos poucos países de renda média-baixa que tem capacidade de compartilhar dados de vigilância em saúde.