DENGUE

Fiocruz vai produzir 100 milhões de mosquitos por semana com bactéria contra transmissão da dengue

Ministério espera que, com nova biofábrica, estratégia de combate às arboviroses chegue em ao menos 70% dos municípios com situações mais graves até 2027

Mosquito Aedes aegyptiMosquito Aedes aegypti - Foto: Pixabay

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o World Mosquito Program (WMP) anunciaram, nesta quinta-feira (30), uma nova parceria para a expansão do método Wolbachia no Brasil com a construção de uma biofábrica capaz de produzir até 100 milhões de mosquitos por semana, 5 bilhões ao ano.

Esses Aedes aegypti são criados com a bactéria wolbachia, microrganismo que diminui a capacidade de esses vetores transmitirem dengue, zika e chikungunya e, assim, combater a disseminação das doenças.

— O Ministério da Saúde está comprometido de implantarmos (o Wolbachia) no menor tempo possível e no maior número de municípios. A gente espera que, ao final de 4 anos, nós possamos ter pelo menos uns 70% dos municípios que enfrentam hoje a maior carga da doença cobertos com essa nova tecnologia — afirmou a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Ethel Maciel, durante o evento de lançamento da parceria em Brasília.

Para a construção da biofábrica, será feito um investimento de R$ 100 milhões com recursos do WMP e do Instituto de Biologia Molecular do Paraná. O local de construção da biofábrica ainda será definido, mas a previsão é de que ela entre em operação até o início de 2024.

Além disso, o projeto receberá um aporte de R$ 50 milhões do WMP e de R$ 30 milhões do Ministério da Saúde, por meio da própria Fiocruz, para ampliação imediata do método em outros estados e municípios. Hoje, o método está presente em apenas cinco cidades brasileiras.

— Nós temos um mapeamento prévio desses municípios e durante essa semana vamos continuar a discussão com os pesquisadores que participam do projeto para refinar essas escolhas — disse Alda Maria da Cruz, diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.

O que é o método Wolbachia?
A wolbachia é uma bactéria presente em cerca de metade dos insetos, mas que não é encontrada naturalmente no Aedes aegypti. No entanto, quando inserida nos mosquitos, ela impede que os vírus da dengue, do zika e da chikungunya se desenvolvam dentro deles.

Com isso, reduz a possibilidade de eles disseminarem esses patógenos na população, diminuindo consequentemente os casos das doenças na região em que circulam.

O chamado método Wolbachia envolve justamente a criação e liberação desses Aedes aegypti com a bactéria nas cidades.

Com o tempo, eles se reproduzem e, aos poucos, a população da espécie naquele local passe a ser apenas dos mosquitos que carregam a bactéria.

O Brasil é um dos países chave em que a técnica é estudada devido à alta incidência das três arboviroses. No país, a estratégia é implementada por meio da Fiocruz com financiamento principalmente do Ministério da Saúde e de governos locais.

Até então, desde 2012, o programa alcançou as cidades fluminenses do Rio de Janeiro e de Niterói, além de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul; Belo Horizonte, em Minas Gerais, e Petrolina, em Pernambuco. A tecnologia também já foi introduzida em outros 11 países, na Ásia, Oceania e Américas, alcançando quase 11 milhões de pessoas até o momento – 3 milhões delas brasileiras.

— É uma experiência inovadora que acho que vai ganhar uma escala muito rápida para todo o território nacional que hoje sofre mazelas por conta da disseminação do mosquito e das arboviroses — disse o presidente da Fiocruz, Mário Moreira, no evento.

Os resultados da implementação da tecnologia têm sido animadores. Um estudo recente, publicado na revista científica New England Journal of Medicine, avaliou a incidência da dengue dois anos após a liberação dos mosquitos na Indonésia e constatou uma redução de 77% nos casos da doença, e de 86% nas hospitalizações.

Em Niterói, de acordo com números do WMP, houve redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de Zika nas áreas onde houve a intervenção entomológica. Com isso, as estimativas é que cada real gasto na técnica gere uma economia que vai de R$ 43 a R$ 549, de acordo com um estudo independente realizado nas cidades do Brasil.

Dengue em alta no Brasil
A ampliação dos esforços contra a dengue é importante especialmente no contexto de alta das arboviroses que o Brasil vive. Em 2022, pela primeira vez o país bateu a marca de mil óbitos por dengue em 12 meses, e registrou o ano mais letal da doença na história. Além disso, foram 1,45 milhão de casos da doença, número 162,5% maior que o total de contaminações de 2021.

Neste ano, segundo o Centro de Operações de Emergência em Saúde para arboviroses, instituído recentemente pelo Ministério da Saúde devido ao avanço alarmante dos vírus no país, a tendência segue de alta: já foram 485 mil casos identificados até o dia 29 de março – um crescimento de 44% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Além do Wolbachia, outra técnica que pode em breve ser incorporada no combate à dengue é a vacina. A Anvisa liberou neste ano uma uma nova aplicação para prevenir a doença, desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda, que é o primeiro imunizante destinado a pessoas que nunca tiveram o diagnóstico.

Ela é aplicada em duas doses e indicada a pessoas entre 4 e 60 anos. O esquema protege contra os quatro sorotipos do vírus e, nos testes clínicos, demonstrou uma eficácia geral de 80,2% para evitar infecções, e 95% para casos graves e óbitos. O novo imunizante, porém, depende da incorporação pelo Ministério da Saúde ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) para chegar ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Essa é a segunda vacina a receber um aval no Brasil. A outra, chamada Dengvaxia e desenvolvida pela Sanofi, já está disponível, porém apenas em clínicas privadas. Além disso, é indicada somente para evitar reinfecções, que costumam ser mais graves, e para um público-alvo restrito — pessoas de 9 a 45 anos que já foram contaminadas anteriormente. Por isso, não é a principal estratégia de combate ao vírus.

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