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Fiscal do Ibama recebe ameaças após operação contra garimpo e contrata segurança por conta própria

"Até o Estado concluir a necessidade (de segurança) já teria passado o tempo", afirmou o servidor

Imagens de satélite do Greenpeace indicariam presença de balsas de garimpo na região do Rio Madeira Imagens de satélite do Greenpeace indicariam presença de balsas de garimpo na região do Rio Madeira  - Foto: Divulgação

Há duas semanas, a Polícia Federal e o Ibama realizaram uma operação no Rio Madeira para explodir centenas de dragas usadas pelo garimpo ilegal. Após o primeiro dia os trabalhos (12), um chefe de fiscalização do Ibama, de Rondônia, começou a receber mensagens ameaçadoras, pois seus dados e contato foram compartilhados em grupos de whatsapp de garimpeiros, o apontando como o autor da investigação, o que não procedia.

Somente nesta segunda (24), ele, que pediu para não ser identificado, disse que a situação se acalmou. Mas as ameaças foram tão graves, explica, que ele precisou, por conta própria, contratar apoio de segurança para ele e sua família.

— Até o Estado concluir a necessidade (de segurança) já teria passado o tempo — afirmou ele, que registrou as ameaças na Polícia Federal.

À reportagem, o funcionário mostrou alguns prints dos compartilhamentos de seus dados nos grupos. Procurados, o Ibama e a Polícia Federal não se manifestaram.

Como foram as ameaças?
Comecei a receber mensagens, com indagações sobre minha vida e meu trabalho. Perguntando em qual setor eu trabalhava, qual era minha função, em qual cidade estava, se trabalhava com garimpo. Como eu sabia que meu número tinha vazado, desliguei meu celular para evitar receber outras mensagens e ligações. Depois fiquei sabendo que já estavam colocando um preço pela minha cabeça, no grupo dos garimpeiros

De alguma forma você estava envolvido nas investigações?
Foi uma situação surreal, pois o Ibama de Rondônia não teve participação ou conhecimento da ação, e o meu nome foi veiculado em uma manifestação política de forma criminosa e irresponsável por um grupo ligado ao agronegócio, e foi enviado ao grupo dos garimpeiros, com minha foto e telefone.

Por que você acha que chegaram ao seu nome?
Simplesmente por minha opção política (contrária ao presidente). Retornei hoje (segunda) às minhas atividades no Ibama (estava de férias desde o dia 12). Como o movimento dos garimpeiros perdeu força, as coisas estão mais arrefecidas. Me sinto mais aliviado e já dispensei a segurança particular.

Você precisou custear a própria segurança?
Sim, registrei a ocorrência e não solicitei formalmente a segurança. Até o estado concluir a necessidade já teria passado o tempo... E, principalmente, quero impedir o uso político (do evento). Tive que custear para ter um pouco de sossego, pelo menos para dormir. São amigos policiais, que prestam serviços de segurança em suas folgas. Faziam o monitoramento externo da residência e na chegada e saída de carro.

Você trabalha com fiscalização há muito tempo, esse foi o momento que se sentiu mais inseguro?
Com certeza, nunca vivi nada nem parecido. Nunca havia precisado de segurança, somente a pessoal. O Ibama fornece armamento e coletes à prova de bala.

Acha que o trabalho de fiscalização foi dificultado nos últimos anos?
Demais. Em 2020 o Ibama foi desmontado. Por exemplo, as diárias pagas eram de R$ 177. É impossível fazer o trabalho de campo já que em muitos lugares a diária não cobria nem o hotel. Isso só foi corrigido em agosto, para R$ 305, ainda muito aquém do necessário. E o crime ambiental não é mais praticado por trabalhadores, mas sim criminosos dispostos a tudo. O Ibama, particularmente, foi a pó. Inicialmente pensava que era incompetência mas hoje sei que é método.

Que tipo de método?
Método de projeto de destruição da gestão ambiental.

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