Fisiculturista morto falou sobre anabolizantes: "Efeitos a longo prazo na tua vida"; saiba os riscos
Formas sintéticas da testosterona são amplamente utilizadas para ganho muscular, mas uso não é indicado e aumenta a chance para diversos problemas de saúde
Poucos dias antes de morrer aos 30 anos, o fisiculturista e youtuber Jo Linder, conhecido como Joesthetics, falou sobre o uso esteroides anabolizantes e seus riscos em uma publicação no Instagram. O alemão foi vítima de um aneurisma e teve o óbito confirmado no último sábado.
“...perdi os meus ganhos porque desisti de tudo durante 1 ano, mas depois não consegui recuperar os meus próprios níveis de test (testosterona), então voltei para a TRT (terapia de reposição de testosterona). Confia em mim, tentei parar, mas fica ciente que pode ter efeitos a longo prazo na tua vida. TRT é um grande compromisso, lembre-se disso”, escreveu o influenciador.
A TRT é feita com esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA), formas sintéticas que simulam a testosterona. Ela é indicada para pessoas com deficiência do hormônio, como homens com hipogonadismo, ou para hormonioterapia de homens trans. Porém, não é orientada pelos especialistas para fins estéticos ou de ganho de performance.
Isso porque as substâncias trazem uma série de riscos à saúde quando utilizadas de forma não necessária. Ainda assim é uma prática popular, especialmente entre adeptos do fisiculturismo, sendo conhecida como “bomba” e estando presente em técnicas não regulamentadas, como o “chip da beleza”.
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No caso de Jo, ele já admitia fazer uso dos anabolizantes há um tempo, mas chegou a parar durante um ano depois de ter sido diagnosticado com doença muscular de rippling, condição rara que deixa músculos altamente sensíveis e irritáveis. Mas, como diz na publicação, voltou a utilizá-los.
O óbito, porém, foi devido a um aneurisma no pescoço, uma dilatação anormal de uma artéria do corpo que forma uma espécie de balão de sangue. Esse balão pode crescer de tamanho e se tornar cada vez mais frágil até se romper.
A maioria dos casos são assintomáticos, com a dilatação podendo ficar por anos sem que a pessoa saiba. Geralmente, os sintomas aparecem apenas no momento em que o aneurisma se rompe, como dores de cabeça muito fortes associadas à rigidez de nuca, náusea, vômitos e oscilação do nível de consciência.
Quais são os riscos dos esteroides anabolizantes?
Uma das consequências do uso de esteroides anabolizantes apontadas por especialistas é justamente o risco maior para problemas cardiovasculares, que são fatores de risco para um aneurisma. Em entrevista recente ao GLOBO, Clayton Macedo, que coordena o ambulatório de Endocrinologia do Exercício da Unifesp, serviço de referência para pacientes com sequelas de EAA no Brasil, contou que recebe muitos pacientes jovens, de 30 a 40 anos, com problemas do tipo, como infarto do miocárdio.
Outro problema que pode acometer os homens é a disfunção erétil e a infertilidade. Isso porque, ao receber a testosterona sintética, o corpo humano para de produzir o hormônio naturalmente. Com o tempo, isso pode levar à atrofia do testículo, que não consegue mais secretar a substância. Por isso, ocorrem casos de dependência, como o de Jo, com impactos na vida sexual e reprodutiva do indivíduo.
Há ainda consequências psíquicas, como uma maior irritabilidade e agressividade. Um trabalho publicado em 2019 na revista científica Drug and Alcohol Dependence encontrou um risco nove vezes maior de condenação por um crime não relacionado à condição socioeconômica entre os usuários de esteroides anabolizantes em comparação com um grupo de controle.
Nas mulheres, alguns efeitos mais visíveis observados são a alteração na voz, aumento do clitóris, de pelo, queda de cabelo, irregularidade menstrual, entre outros decorrentes da característica masculinizante da testosterona. Além disso, em ambos os sexos, a prática pode levar a inflamações no fígado.
Por quanto tempo duram os riscos?
Recentemente, dois novos estudos de pesquisadores do Hospital Universitário Rigshospitalet de Copenhagen, na Dinamarca, apontaram que os riscos podem continuar mesmo após a interrupção do uso. Os trabalhos foram apresentados no 25º Congresso Europeu de Endocrinologia.
Os pesquisadores acompanharam 64 homens saudáveis, com idades entre 18 e 50 anos, no país europeu, que faziam musculação. Deles, 28 eram usuários dos esteroides anabolizantes, 22 já haviam utilizado e 14 nunca usaram.
Eles avaliaram a quantidade de sangue que flui para o músculo cardíaco durante o repouso e o exercício, e os resultados mostraram que os ex-usuários ainda eram mais propensos a ter esse mecanismo ruim, e portanto, a desenvolver doenças cardíacas. Porém, o risco era menor do que o observado entre quem ainda utilizava os EAA.
No segundo estudo, os pesquisadores coletaram questionários e amostras de sangue para medir os níveis de testosterona de outros três grupos de homens, com idades entre 18 e 50 anos: 89 eram usuários atuais de EAA, 61 eram ex-usuários e 30 homens nunca haviam utilizado o hormônio sintético.
Após analisar os resultados, eles constataram que os ex-usuários relataram pior qualidade de física em aspectos físicos e de saúde mental, como fadiga, funcionamento social e bem-estar emocional. Além disso, apresentaram níveis de testosterona mais baixos em comparação com aqueles que nunca usaram os EAA.