Flordelis: filho responsabiliza a ex-deputada, pela primeira vez, durante julgamento
Acusado pelo homicídio de Anderson do Carmo, Carlos Ubiraci afirmou que "tinha de obedecer" às ordens da ex-deputada, mas negou ligação com o crime
Interrogado por cerca de uma hora, no início da madrugada desta quarta-feira (13), no segundo julgamento relativo ao homicídio do pastor Anderson do Carmo, o também pastor Carlos Ubiraci, uma das dezenas de filhos da ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza, negou qualquer relação com o crime. Pela primeira vez, porém, ele responsabilizou a mãe pelo assassinato, afirmando que "acredita, sim" que ela teve participação direta na trama. Apontada como mandante da execução a tiros do marido, a ex-parlamentar será julgada daqui um mês, em 9 de maio, ao lado de duas filhas e uma neta.
Carlos é réu por homicídio triplamente qualificado e por tentativa de homicídio duplamente qualificada, por conta de episódios em que membros da família teriam envenenado a comida de Anderson, além de ser acusado de fazer parte de uma associação criminosa que articulou a morte do pastor.
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Outro filho de Flordelis, André Luiz de Oliveira, responderia pelos mesmos crimes no julgamento, mas teve a audiência adiada depois que o advogado passou mal. Já Adriano dos Santos Rodrigues, mais um filho da ex-deputada, o ex-policial militar Marcos Siqueira e sua esposa, Andrea Santos Maia, estão sendo julgados ao lado de Carlos por uso de documento falso, em virtude de uma carta forjada que inocentava Flordelis, e também por associação criminosa. Em novembro do ano passado, Lucas Cezar dos Santos e Flávio dos Santos Rodrigues – também herdeiros da pastora – foram condenados pelo assassinato do pastor.
Ao contrário de outros irmãos, que desde o início das investigações culparam a ex-deputada pela morte de Anderson, Carlos, mesmo preso e acusado pelo crime, jamais havia externado qualquer suspeita em relação a ela. Em um de seus depoimentos, ele afirmou à polícia não acreditar no envolvimento da pastora com o crime, mas chegou a ressaltar que, mesmo se houvesse essa ligação, ele "não viraria as costas nem deixaria de estar do lado dela, pois é sua mãe e ela o ajudou muito". Agora, contudo, a versão mudou.
"Acredito que ela tem participação, sim", resumiu Carlos, que, mais à frente, pontuou que o fato de a mãe ter sido presa após perder o mandato foi determinante para a nova postura: "Eu tinha receio pelo fato de ela estar solta. Temia pela minha família".
Várias testemunhas, como duas filhas de Carlos que também frequentavam a casa e outros irmãos afetivos, frisaram que ele externava uma espécie de submissão emocional em relação à pastora. Além disso, havia ainda uma dependência financeira, já que Carlos trabalhava como pastor na congregação comandada por Flordelis e Anderson e também como assessor parlamentar no gabinete da ainda deputada. No julgamento, ele admitiu a prática de "rachadinha", sendo obrigado a repassar pelo menos 50% do salário ao casal todos os meses:
"Eles exigiam isso. Eu recebia cerca de R$ 11 mil, mas às vezes recebia só R$ 5 mil, em outros eram R$ 4,5 mil. O resto, eu entregava", contou ele, acrescentando que não acatar a essas ordens não era uma alternativa: "Tinha de obedecer. Se eu não obedecesse... (ele fica alguns segundos em silêncio). Ela dizia: 'Você só come, você só veste, porque eu te dei emprego'. Eram coisas que me machucavam muito".
Diante dos jurados, Carlos revelou ainda que Anderson, responsável por gerenciar toda a carreira da esposa – "é como se ela fosse uma estrela, mas ele é que fez brilhar" –, tinha planos ainda mais ambiciosos para a trajetória política de Flordelis. Quando o crime aconteceu, em junho de 2019, ela estava ocupando há menos de seis meses uma cadeira na Câmara de Deputados, após se eleger no ano anterior como a mulher mais votada do estado do Rio para o cargo. Em agosto de 2021, já envolvida nas investigações sobre o crime, a pastora teve o mandato cassado. Dois dias depois, acabou presa.
"O Anderson dizia que ela seria senadora e até presidente do Brasil", lembrou Carlos ao depor.
O Ministério Público estadual do Rio chegou a pedir à Justiça que Carlos não fosse levado a júri popular por acreditar não haver provas suficientes de sua participação nos crimes. No entanto, a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce discordou do pedido do MP e determinou o julgamento de Carlos, que foi o primeiro réu interrogado. Antes, desde a manhã de terça, quando a sessão teve início, foram ouvidas 12 testemunhas de uma previsão de 16, já que quatro acabaram dispensadas. Não há previsão de quando a audiência irá terminar, tampouco se será estabelecido algum intervalo.