França e Alemanha tentam superar diferenças sobre energia e defesa
A invasão da Ucrânia pela Rússia fez com que os dois países tomassem decisões sob a pressão da guerra e seus efeitos
O presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu nesta quarta-feira (26) o chefe do governo alemão, Olaf Scholz, para tentar superar as diferenças de energia e defesa, tendo como pano de fundo a guerra na Ucrânia.
Este encontro, realizado em Paris, testemunha uma "amizade muito viva" que permitiu "avançar" no cenário europeu nos últimos meses, disse o porta-voz do governo francês, Olivier Véran, embora reconheça que agora é necessário "superar as dificuldades".
Quando as prioridades de um país "não necessariamente convergem com as do outro (...), a força da dupla franco-alemã consegue puxar toda a Europa para cima", acrescentou.
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Uma fonte diplomática alemã classificou o encontro como um diálogo "amigável" e "construtivo".
Essa reunião deve levar, nas próximas semanas, a uma "cooperação muito boa e muito intensa", acrescentou a fonte alemã.
A invasão da Ucrânia pela Rússia - menos de três meses após Scholz assumir o cargo em dezembro passado - fez com que os dois países tomassem decisões sob a pressão da guerra e seus efeitos.
A decisão de Berlim de gastar até 200 bilhões de dólares para subsidiar o preço do gás e sua recusa em considerar um teto para o preço da energia em toda a UE aborreceu Paris e outras capitais europeias, que temem o efeito em seus custos energéticos.
Além disso, a França vê os compromissos de cooperação em aquisições de defesa vacilarem, devido aos planos da Alemanha de criar um escudo antimísseis compartilhado com outros países da Otan com equipamentos dos Estados Unidos.
A profundidade das diferenças foi revelada pelo recente adiamento de uma reunião regular do conselho franco-alemão, que teria sido a primeira de Scholz como chanceler.
As expectativas limitadas para as conversas desta quarta-feira ficaram claras no programa publicado pela Presidência francesa, que não prevê uma coletiva de imprensa conjunta.
"Os dois líderes continuarão suas negociações sobre defesa, economia e energia com o objetivo de fortalecer a cooperação franco-alemã", disse o Palácio do Eliseu em comunicado.
Muitos observadores sugerem que as disputas são inerentes ao relacionamento entre duas grandes nações com interesses muitas vezes divergentes.
"A verdade é que é um casamento de conveniência" entre França e Alemanha, disse uma fonte diplomática francesa. "Não é uma crise subjacente, é a base do relacionamento", acrescentou.
"Macron e (a ex-chanceler Angela) Merkel costumavam trocar mensagens de texto todos os dias. Acho que (Macron e Scholz) não conversam todos os dias", disse a fonte diplomática.