Sob protesto da esquerda, Macron nomeia novo governo e firma aliança com conservadores
Coalizão junto do partido Os Republicanos não tem maioria na Assembleia Nacional
O presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou neste sábado o novo governo, consolidando um giro à direita no espectro político — parte de uma tentativa de evitar uma moção de censura no Parlamento, onde não tem maioria e estará exposto tanto à líder da extrema direita, Marine Le Pen, quanto à coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP).
Enfrentando uma crise de articulação política e apoio popular, Macron nomeou no começo do mês o veterano conservador Michel Barnier, do partido de direita liberal Os Republicanos (LR, na sigla em francês), como primeiro-ministro.
Barnier, um ex-negociador europeu do Brexit, foi responsável por costurar em duas semanas uma coalizão com as forças de centro e de direita, sendo avaliado por Macron como a melhor opção para garantir uma maioria mais estável na dividida Assembleia Nacional.
A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) — que aderiu à estratégia de "cordão sanitário" ao lado do partido de Macron para evitar uma vitória da extrema direita nas eleições — anunciou que vai apresentar uma moção de censura contra o governo Barnier, que poderá prosperar se a extrema direita votar a favor.
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As últimas eleições legislativas, que Macron antecipou em junho, deixaram os três blocos principais — esquerda, extrema direita e centro-direita — distantes de formar a maioria.
A NFP, porém, foi a mais votada, com 193 deputados. A coalizão justifica a apresentação da moção de censura alegando que Macron se recusou a nomear como primeira-ministra a economista Lucie Castets.
— É um governo ilegítimo. Se a direita tivesse vencido, a direita teria governado — disse o líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, enquanto milhares de pessoas se manifestavam no país para denunciar o "governo Macron-Barnier".
O presidente, de centro-direita, não quis nomear Lucie por causa da “estabilidade”, mas seu novo governo tampouco conseguiu a maioria de 289 deputados.
A sobrevivência do governo Barnier vai ficar nas mãos do Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen. A política francesa já avisou que seu eventual apoio a uma moção de censura vai depender do discurso de política geral de Barnier, previsto para 1º de outubro.
O líder do partido, Jordan Bardella, alertou hoje que o governo "não tem futuro", uma vez que, para ele, representa o retorno "do macronismo pela porta dos fundos".
A primeira prova de fogo da coalizão de Macron será a apresentação do orçamento de 2025, especialmente quando a França não cumpre os limites de déficit e dívida públicos estabelecidos pelas normas europeias.
Novo governo
O novo governo conta com 39 membros, procedentes, principalmente, da aliança de centro-direita de Macron e do LR, que retorna ao poder 12 anos depois.
Entre esses últimos está seu líder no Senado, Bruno Retailleau, que assumirá o Ministério do Interior, apesar do mal-estar que causa entre a esquerda e parte da aliança de Macron por sua linha dura em questões migratórias.
Macron também nomeou a polêmica senadora Laurence Garnier — que se opõe ao casamento igualitário e a blindar o aborto na Constituição — como secretária de Estado de Consumo.
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Vários membros do último governo permaneceram em seus cargos, como Sébastien Lecornu (Defesa) e Rachida Dati (Cultura), ou mudaram de pasta, como Jean-Noël Barrot (chanceler), Catherine Vautrin (Territórios) e Agnès Pannier-Runacher (Ecologia).
O presidente francês, que compartilha o Poder Executivo com o governo, não precisa da aprovação do Parlamento para nomear o primeiro-ministro e os ministros. A única opção para se opor é aprovando uma moção de censura.