França tem novo dia de protestos contra reforma da Previdência
A decisão de Macron de adotar o projeto por decreto, por temer uma derrota durante a votação no Parlamento, e sua recusa a voltar atrás provocaram a radicalização dos protestos
Novos confrontos eclodiram na França, nesta terça-feira (28), durante os protestos contra a reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron, cujo governo rejeitou o pedido de "mediação" para encontrar uma saída para o conflito social cada vez mais violento.
Centenas de milhares de pessoas voltaram às ruas para exigir a retirada desta lei em protestos que registraram confrontos entre manifestantes radicais e forças de segurança em cidades como Rennes, Nantes e Paris.
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Na capital, as forças de segurança dispararam bombas de gás lacrimogêneo contra centenas de pessoas, vestidas de preto e com os rostos cobertos, que saquearam uma loja e atearam fogo ao lixo, constataram jornalistas da AFP.
A tensão se intensificou desde que o presidente liberal decidiu adotar por decreto, em 16 de março, o adiamento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos e o aumento para 43 anos do tempo de contribuição para se ter direito a uma pensão integral até 2027.
Na quinta-feira, já havia 457 detidos e 441 agentes feridos, segundo as autoridades, em um contexto de críticas à ação policial por parte de ONGs de direitos humanos e do Conselho da Europa.
Imagens de batalha campal voltaram às primeiras páginas no sábado, durante os protestos contra uma barragem agrícola destinada ao agronegócio em Sainte-Soline (centro-oeste), que deixou dois manifestantes em coma.
Em ambos os casos, "há um uso desproporcional da força que já havíamos denunciado durante os coletes amarelos", disse à AFP Jean-Claude Samouiller, da ONG Amnistia Internacional, lembrando o protesto social em 2018 e 2019.
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, mobilizou 13.000 agentes nesta terça-feira em um "dispositivo de segurança sem precedentes" e alertou para a presença, em Paris, de "mais de 10.000 radicais, alguns do exterior".
Aguardando dados oficiais, o sindicato CGT já anunciou cerca de 450.000 manifestantes na capital francesa. A polícia espera entre 650.000 e 900.000 em toda a França, menos do que no dia anterior de protestos, em 23 de março.
"Chega de negativas!"
As autoridades têm se esforçado nos últimos dias para criminalizar os protestos e minar o apoio da opinião pública, que responsabiliza Macron por não aceitar a rejeição de seu plano.
Ao mesmo tempo, o governo e os sindicatos dizem que buscam uma forma de acalmar os ânimos, mas são firmes em suas posições: as centrais sindicais querem a retirada ou suspensão da reforma e o governo diz que não.
O porta-voz do governo, Olivier Véran, recusou nesta terça-feira a última proposta sindical de buscar "mediação" para encontrar uma saída e afirmou que eles podem "falar diretamente".
“Chega de negativas!”, respondeu o líder do sindicato moderado CFDT, Laurent Berger, que havia proposto essa ideia e teve o apoio de um dos principais aliados de Macron: o partido centrista MoDem.
O presidente liberal está sob pressão. Seu governo defende que a reforma é fundamental para evitar um déficit no fundo de pensões, mas que precisa de apoio sindical e popular, além do incerto apoio no Parlamento.
À espera do parecer, em abril, do Conselho Constitucional sobre a sua validade, Macron tenta virar a página rapidamente com outras prioridades como a saúde, a educação e a garantia de uma maioria estável no Parlamento.
Enquanto isso, os sindicatos não jogam a toalha. “O movimento não está esgotado”, alertou Clermont-Ferrand (centro), o líder do CGT, Philippe Martinez, que destacou a participação de “muitos jovens” nas marchas.
"Ainda sou muito jovem, mas a reação do governo (...) me deu vontade de lutar", disse à AFP Simeon Ronzier, um estudante de 20 anos de Lille (norte).
Em 2006, a mobilização de jovens e sindicatos conseguiu que o então governo retirasse um polêmico contrato juvenil adotado por decreto.
Além do bloqueio de escolas de ensino médio e universidades, os protestos também assumiram várias formas há semanas: quedas na produção de eletricidade, 15% dos postos de gasolina sem combustível, trens e voos cancelados, transporte público em Paris interrompido e até a Torre Eiffel foi fechada nesta terça-feira.
Os lixeiros de Paris decidiram encerrar na próxima quarta-feira uma greve de três semanas, que deixou milhares de toneladas de lixo acumuladas nas ruas, mas com o objetivo de voltar à luta "com mais força", segundo o CGT.