política

França tenta superar cenário de incerteza política depois de derrotar a extrema direita

Diante da incerteza, o presidente Emmanuel Macron, pediu ao seu primeiro-ministro, que apresentou sua demissão, que permaneça no cargo para "garantir a estabilidade"

O presidente do partido de extrema direita francês Rassemblement National (RN), Jordan Bardella, discursa durante a noite da eleição do partido após os primeiros resultados do segundo turnoO presidente do partido de extrema direita francês Rassemblement National (RN), Jordan Bardella, discursa durante a noite da eleição do partido após os primeiros resultados do segundo turno - Foto: Dimitar Dilkoff / AFP

A França é cenário a partir desta segunda-feira (8) das negociações complexas entre partidos para nomear um novo governo, depois que a esquerda surpreendeu e derrotou a extrema direita nas eleições legislativas, mas sem conquistar a maioria absoluta.

Diante da incerteza, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu ao seu primeiro-ministro Gabriel Attal, que apresentou sua demissão, que permaneça no cargo "no momento" para "garantir a estabilidade", a menos de três semanas dos Jogos Olímpicos, anunciou a presidência.

O presidente de 46 anos provocou um terremoto político na França ao antecipar as legislativas após a vitória da extrema direita nas eleições europeias de 9 de junho, com o objetivo declarado de pedir um "esclarecimento político" aos eleitores.

Os franceses responderam e estabeleceram uma nova relação de forças entre os três blocos que saíram das urnas nas eleições de 2022: esquerda, centro-direita e extrema direita. Porém, nenhum conquistou a maioria absoluta de 289 deputados.

A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) conseguiu quase 180 cadeiras na Assembleia Nacional, seguida pela aliança centro-direita de Macron (quase 160), e do partido de ultradireita Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados (mais de 140).

O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, defendeu que a frente de esquerda apresente um candidato a primeiro-ministro "ao longo da semana", um nome que deve ser escolhido por "consenso ou por votação".

Mas para permanecer no poder será necessário formar uma maioria e, dentro desta coalizão que vai de social-democratas a anticapitalistas, os integrantes discordam sobre as possíveis alianças parlamentares.

O partido A França Insubmissa (LFI), a ala radical da NFP, e o seu líder Jean-Luc Mélenchon cristalizam parte das tensões.

Diante da rejeição do nome de Mélenchon como um possível candidato a primeiro-ministro, a deputada Mathilde Panot destacou nesta segunda-feira que ele "não está em absoluto desqualificado".

"Teremos de nos comportar como adultos", disse no domingo Raphaël Glucksmann, símbolo da ala social-democrata da NFP, para quem "dialogar é uma mudança de cultura política" em uma França pouco habituada ao parlamentarismo.

O partido de direita Os Republicanos (LR), que conseguiu manter quase 60 deputados na Assembleia depois que parte da legenda estabeleceu um acordo com a extrema direita, já anunciou que "não haverá coalizão nem compromisso" da sua parte.

"A maré continua subindo" 
Após uma campanha tensa, em que Macron acusou a LFI de ser "antissemita" e "antiparlamentar", a sua aliança de centro-direita considera difícil apoiar um governo que inclua este partido ou mesmo estabelecer acordos com a legenda.

O programa da NFP também inclui várias 'linhas vermelhas' para a aliança governista e para a direita, como a revogação da impopular reforma da Previdência de 2023 e a aprovação de um imposto sobre grandes fortunas.

Edouard Philippe, ex-premiê e aliado de Macron, fez um apelo para que as forças políticas trabalhem pela "criação de um acordo", mas sem RN ou LFI, já que uma "ausência de maioria e de governo exporia a França a perigos temíveis".

O ministro da Economia, Bruno Le Maire, fez um alerta contra o risco de "crise financeira" e "declínio econômico" representado pelo "novo cenário político, sem maiorias absolutas".

Mas um novo governo pode demorar a ser formado. Macron já anunciou que vai esperar para ver como ficará estruturada a Assembleia Nacional, que iniciará a legislatura em 18 de julho, para decidir quem nomeará como primeiro-ministro, segundo a presidência.

Isolada e derrotada graças à "frente republicana" que a esquerda e a aliança governista estabeleceram no segundo turno das legislativas, a extrema direita pode virar a principal força de oposição durante a próxima legislatura.

"A maré está subindo. Desta vez não subiu o suficiente, mas continua subindo e, consequentemente, nossa vitória apenas foi adiada", declarou a líder da extrema direita Marine Le Pen, que espera conquistar a presidência da França em 2027.

Veja também

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela
Venezuela

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios
Queimadas

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios

Newsletter